CULTURA

Abram alas para Nãnãna da Mangueira


Andrea Alves
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"Muitos prazer, todos me chamam de Nãnãna da Mangueira", diz a música composta pelos sambistas Maurílio de Oliveira e Paquera. A canção é a primeira faixa do CD "Caminho de Rosas", o primeiro nos mais de 50 anos de carreira da sambista carioca da velha guarda da verde e rosa. "Está quase pronto, está no ovo e deve sair até o final do ano", diz Nãnãna, contente com a experiência de entrar em estúdio para gravar um trabalho só dela. Enquanto o disco não sai, Nãnãna continua fazendo aquilo que gosta: cantando em bares e casas de samba e deixando boquiaberto quem repara no pique e no remelexo que a primeira rainha da bateria da história do Carnaval brasileiro ainda exibe. Nãnãna da Mangueira se apresenta hoje, no Bar Depois, e seu comentário a respeito do que o público pode esperar é, no mínimo, empolgante. "Será um show lindo, regado à samba de raiz, músicas de Cartola, Zé Keti, além dos pedidos do público", promete.

Nãnãna envolveu-se com a música ainda nos anos 50, quando cantava nos programas de auditório da Rádio Nacional. Convivendo com bambas como Carlos Cachaça, Cartola, Xangô da Mangueira, Geraldo Pereira, Zé Keti, e muitos outros, no Morro da Mangueira, para onde se mudou em 1958, ela foi traçando sua história como sambista. Além desses ícones do samba, ela trabalhou com grandes artistas como Grande Otelo, Carlos Machado, Herivelto Martins, Ataulfo Alves e Monsueto. Em 1965, já em São Paulo, fez parte, como cantora e passista, do Conjunto Batucajés, dirigido por Marcos Lázaro, o que lhe abriu as portas de países como Bélgica, Alemanha, Holanda, Colômbia, Peru e México. Nãnãna também foi backing vocal de cantores consagrados como Jair Rodrigues, Almir Guineto, Jorge Costa e Armando da Mangueira. "Eu tive oportunidade de gravar um disco quando era nova, mas não aceitava algumas coisas", comenta sem abrir as caixas do passado. "Passou. Do passado a gente só fala das boas lembranças."

Entre essas boas lembranças está sua estreia, em 1958, como passista na escola de samba que está no seu nome, no seu coração, na sua história - Estação Primeira de Mangueira - e o pioneirismo como rainha da bateria da escola paulistana Mocidade Alegre, em 1973. "Fui a primeira mulher a sair de biquíni, praticamente seminua, com um tamborim na mão em frente à bateria, quando o desfile ainda passava pela Avenida São João."

Participação especial

O tempo que levou para ver o próprio nome à frente de um trabalho exclusivamente seu valeu a pena e é motivo de comemorações, ainda mais quando se tem 69 anos com espírito e energia de 20, como a própria intérprete ressalta. "É um trabalho lindo, tem a participação especial da Beth Carvalho na música Pura Paixão, do compositor Nonô do Jacarezinho. Tem composições também do Samba da Vila, do PC Ribeiro e muitos outros especiais", adianta Nãnãna, que está acompanhada nesse trabalho do Quinteto Branco e Preto. Gravado pela Por do Som, com direção geral de Magnu de Sousá e arranjos de Maurilio de Oliveira, o CD traz uma música dedicada pela cantora à amiga Neli Selles. "A canção Anjo Bom, composta pelo Batata, é para ela, que me deu tanta força para gravar esse trabalho. Ela era casada com Zé Keti, é amiga de longa data e sabia do respeito que ele tinha por meu trabalho."

Nãnãna estará acompanhada do grupo Mesa de Bar no show de hoje à noite em Sorocaba. "É uma turma de músicos que conheci em Campinas e que são excelentes, comparáveis aos grandes sambistas." Não é nenhuma novidade para ela tocar em cidades do interior paulistano. "O povo do interior gosta muito do samba, é muito acolhedor, dança e canta junto e me recebe sempre com muito carinho. Fico envaidecida, feliz." A sambista, depois de tanto tempo morando em São Paulo, cidade que lhe oferece muitas oportunidades de trabalho e da qual aprendeu a gostar, diz que agora é uma típica "paulioca", mesclando o melhor das culturas brasileiras. Viaja para o Rio para visitar o bisneto, dos 2 netos e os três filhos - Vânia, Rose e Ivo Meirelles (cantor e compositor brasileiro, ex-vocalista do grupo Funk"n"Lata e presidente da escola de samba Mangueira) - em festas de fim de ano e feriado. Claro que seu Carnaval é na escola do coração, que lhe rendeu uma homenagem, em 2010, ao colocá-la à frente do carro abre alas, simbolizando todas as mães dos sambistas e dos filhos do morro da verde e rosa. Seu nome de registro ela não revelou, mas contou uma história que é ainda mais gostosa de se saber. "Nasceu nossa Nãnãna, disse a minha avó, que fez o parto da minha mãe, ao me pegar nos braços. Considero meu nome de batismo, sempre fui chamada assim. Nem sei o que essa palavra quer dizer, mas deve ser uma coisa muito boa."

Serviço

Show da sambista Nãnãna da Mangueira, com o grupo Mesa de Bar
Hoje, às 22h, no Depois Bar e Arte (rua Cônego Januário Barbosa, 123)
Entrada: R$ 13,00
Informações: (15) 3234-7082