ELA

Região ganha a primeira comunidade terapêutica feminina


 
Telma Silvério
[email protected]

A presilha na cor nude em formato de flor nos cabelos na altura dos ombros, para combinar com as sandálias, calça jeans e blusa rosa-bebê evidenciavam a preocupação com a aparência, apesar das unhas mal pintadas e carcomidas. A borboleta tatuada na mão esquerda parecia ter pousado. Ora na escada da casinha de bonecas, ora na balança sob a árvore, a menina de rosto angelical narrava com voz de criança algumas experiências pelas quais havia passado em sua vida. Há dois meses em tratamento para livrar-se do crack, a adolescente de apenas 14 anos de idade é uma das 30 residentes a receber assistência na primeira comunidade terapêutica feminina em funcionamento na região de Sorocaba.

Em funcionamento desde o dia 1.º de dezembro de 2011, no bairro Genebra, a casa administrada pelo Grupo de Apoio contra Álcool e Drogas Santo Antônio (Grasa) tem capacidade para 20 mulheres, mas limitou a dez por estar em fase de estruturação, esclarece a coordenadora Ana Luiza Alarcon Evaso. Pelo fato da assistência ser de forma espontânea, ou seja, as mulheres não são obrigadas a se submeterem ao tratamento se não quiserem, a rotatividade tem sido significativa, assim como a procura por vagas de outras dependentes de drogas, observa. Ana Luiza explica que em quase cinco meses a comunidade registrou 30 residentes, com idades entre 11 anos e 61 anos.

Além da coordenadora e dois monitores - esquema de revezamento -, a equipe é formada por psicóloga e assistente social. Ana Luiza revela que toda quarta-feira - dia da triagem - os profissionais do Grasa atendem pelo menos cinco pessoas agendadas previamente. Por mês são cerca de 20 mulheres interessadas numa vaga para se tratar da dependência. A média de idade é de 28 anos a 30 anos: 80% delas por envolvimento com o crack. As pessoas com idades superiores a 40 anos normalmente buscam ajuda para se livrar da dependência do álcool. O álcool está praticamente associado a todas as drogas existentes, ressalta ela.

As usuárias menores de idade são encaminhadas pelo Conselho Tutelar, como foi o caso da garota citada. Ana Luiza explica que a necessidade de usar a droga muitas vezes suplanta a vontade de se livrar da dependência. A casa abrigou até mesmo gestantes. Em tão curto tempo de existência a comunidade recebeu pacientes que chegaram a permanecer apenas algumas horas. As desculpas vêm de uma forma a deixar claro o objetivo da paciente (voltar às drogas). "De repente quer ver o filho que não vê há anos. É a mente manipulando", observa. A estadia tem girado em torno de um mês, mas existem casos em que o abandono ocorreu com 90 dias.

As recaídas chegam a 80%, calcula ela. A primeira residente da casa, de 61 anos, deve concluir o tratamento em junho, comemora. O trabalho envolve uma série de regras e a metodologia dos 12 passos do Grasa. A assistência é gratuita e dura seis meses, com um diário, inventário sobre suas vidas e atividades de "ressô" (ressocialização) com a família. O prazo para adaptação é de uma semana. Ela explica que as mulheres devem ter em mente que não se trata de uma simples internação, pois o tratamento é para a vida toda. "É como o só por hoje do álcool, mas é só o por hoje da droga", compara a coordenadora.

Serviço

O Grasa é um grupo de apoio ao combate a drogas e álcool, que trabalha no auxílio aos dependentes químicos e seus familiares. A sede da entidade está instalada em local cedido pela Paróquia Santo Antonio, no bairro Árvore Grande, na rua Martins de Oliveira, n.º 402 (rua atrás da igreja da avenida São Paulo). As triagens ocorrem às quartas-feiras, mediante agendamento prévio com Regina. Mais informações no endereço citado ou pelo telefone (15) 3237-6559. O site do Grasa é o www.grasa.org.br e e-mail [email protected].
Fatores que podem levar à dependência das drogas

* Predisposição genética;
* Ambientes permissivos;
* Estímulo ao consumo;
* Exclusão social;
* Baixa tolerância a frustrações;
* Dificuldades de lidar com conflitos;
* Dificuldades de lidar com as emoções.
Fonte: Casa da Sobriedade Santa Mônica - Projeto Grasa