MAIS TV

Em 'Cheias de Charme', Ricardo Tozzi experimenta seu primeiro protagonista

Márcio Maio - TV Press

Interpretar dois personagens em uma novela é uma possibilidade que atrai qualquer ator que se preze. E com Ricardo Tozzi não foi diferente. Mas o ator assume que, assim que foi chamado para viver o cantor Fabian e o mocinho Inácio de "Cheias de Charme", teve a sensação de que talvez não estivesse preparado para tamanha responsabilidade. Um medo que, da mesma forma que chegou, foi embora. Principalmente quando percebeu que contaria com uma ajuda e tanto na hora de gravar as cenas dos dois personagens. Isso porque a troca de caracterização entre um e outro papel chega a demorar, algumas vezes, duas horas.

"É um intervalo que me protege. Vou me desligando de um pra entrar no outro. Não são gêmeos, não têm a mesma voz e nem o mesmo histórico. Preciso mesmo limpar um e deixar vir o outro", argumenta ele, que usa lentes de contato azuis e apliques claros no cabelo para interpretar o ídolo das empregadas da trama de Filipe Miguez e Izabel de Oliveira.

P - Em "Cheias de Charme", você interpreta dois personagens, sendo um deles um cantor. De que forma esse universo da música influencia seu trabalho?

R -
É gostoso, porque está na nossa vida. Acho que essa é a arte que está mais próxima da gente, é muito fácil de ser consumida. Tudo que acontece na nossa vida tem uma música tema. E a experiência de estar no palco cantando para as pessoas, de verdade, como já estive em alguns momentos, é uma grande oportunidade na minha carreira.

P - Algum artista serviu de inspiração nessa composição?

R -
Não. Preferi não me inspirar, não copiar ninguém específico. Faço mais pela minha cabeça, minha intuição mesmo. Fabian é um cara muito convencido, até porque ele vive pra esse meio. A inspiração acaba sendo em cima de todo mundo, do momento atual, com esses cantores que usam o cabelo arrepiado.

P - A maior dificuldade é representar dois personagens?

R -
Acho que sim. Nessa profissão, a gente nunca tem noção do que vai acontecer. Quando aceitei o convite, fiquei bem feliz, mas confesso que não tinha noção de como fazer. E foi literalmente um trabalho dobrado. De manhã, eu pensava em como fazer o Inácio. À noite, eu imaginava como seria o Fabian. Até porque não dá espaço pra confundir. Quando eu estou de Inácio, fico muito concentrado nele. São energias completamente diferentes. Olha, eu nem sei dizer qual é a fórmula, não consigo explicar como eu fiz. Está acontecendo.

P - Quais são os principais traços que você usa para diferenciar um do outro?

R -
Isso fica em vários detalhes. Construí o Fabian de um jeito que, no palco, ele arrasa. Mas, fora do palco, ele não sabe quem é. Lembro de uma entrevista do Michael Jackson em que ele dizia isso. Falava que, por ele, viveria no palco. Que ali ele arrebentava, mas fora, não gostava de quem ele era, tinha sua insegurança. Compus o Fabian dessa forma. Ele se vê através do olhar do público, mas não sabe quem ele é de verdade. Já o Inácio, esse é o mocinho que sabe exatamente quem é e o que quer.

P - Nas cenas em que o Fabian aparece cantando, você dubla a voz do Juliano Cortuah. Mesmo assim, houve uma preparação vocal. Como foi?

R -
Eu não cantava nada. Mas em função dessa novela, comecei a fazer aulas de canto. É claro que não dá tempo para fazer o quanto eu gostaria, até porque tive outras coisas para me dedicar dentro dessa preparação. Fiz luta, dublagem, teve o lance de construir dois personagens diferentes, não dava para focar só na voz. Mas eu adorei essa parte musical. Se eu puder, quero continuar investindo nisso para sempre. Hoje eu poderia cantar. Mas não seria coerente usar minha voz no Fabian porque ele começou a novela já como um cantor consagrado. Não traria credibilidade, ele precisava aparecer no ar já pronto para aquilo.

P - Como Fabian, você já gravou durante shows de artistas conhecidos. No do Michel Teló, por exemplo, antes mesmo da emissora veicular as chamadas da novela. Como foi essa experiência?

R -
Foi muito estranho, era tudo junto. Era a primeira vez com o personagem assim, minha estreia em um palco com 10 mil pessoas na frente e eu dançando... E ninguém avisou que eu era eu, entrei no susto, como se fosse um cantor mesmo. Foi uma experiência maluca. Mas foi bem legal para dar o pontapé inicial no trabalho mesmo. Senti todas as emoções ali, saí com a perna tremendo.

P - Essa é sua terceira novela na faixa das 19h. É um horário com o qual se identifica mais?

R -
Todo horário tem suas particularidades e vantagens. Essa faixa das 19h nos permite brincar com algumas coisas porque é mais dinâmica e as pessoas estão chegando em casa. Acho que isso abre espaço para que você tenha uma trama mais agitada e mais cômica. Me sinto bem à vontade ali. Ainda mais diante de uma história como a dessa novela.

P - O que a história de "Cheias de Charme" tem de diferente?

R -
Tem um gosto especial porque as protagonistas saem da área de serviço. E, se a gente parar para pensar, antigamente a novela saía da sala de estar para ser vista na cozinha. Agora, a novela sai da cozinha para ser vista na sala de estar. Uma movimentação mais do que justa e, ao mesmo tempo, sensacional. O Brasil é um país feito de trabalhadores. Quando me chamaram para fazer essa novela, fiquei apaixonado principalmente em função dessa quebra de paradigmas. Avançamos dessas histórias onde os ricos imperam e entramos em uma onde tudo gira em torno de secretárias do lar.

P - Você deixou a carreira de executivo para se tornar ator. Foi a tevê que o motivou a trocar de área?

R -
De forma alguma. Abandonei meu trabalho por causa do teatro. Se eu estivesse agora fazendo peça para plateia de 15 pessoas eu já estaria feliz. Jamais imaginei que isso tudo fosse acontecer. E nunca pensei em voltar atrás depois que a decisão foi tomada. A gente se acostuma com o que é bom, eu não conseguiria voltar para a vida que eu tinha antes.

P - Em que momento você percebeu que fez a escolha certa?

R -
Isso eu acho que percebi até antes de tomar a decisão. Mas minha primeira peça foi uma montagem de "Romeu e Julieta" e eu fazia o Romeu. No dia da estreia, quando a luz do meu personagem se acendeu para que eu entrasse em cena pela primeira vez na vida, fui com uma tranquilidade tão grande que lembro de ter pensado "achei o que eu procurava a minha vida inteira".