ELA

Doença social pode ser confundida com timidez


Calcula-se que mais de 100 milhões de pessoas no mundo, principalmente mulheres, de quaisquer níveis socioeconômicos e modelos familiares, sofrem em silêncio com uma doença social rara, muitas vezes confundida com timidez ou, até mesmo, com o autismo.
Trata-se do mutismo seletivo, uma condição de ansiedade, que consiste na incapacidade de a pessoa se expressar, verbalmente, em circunstâncias específicas, como, por exemplo, com colegas e professores na escola e com desconhecidos em uma festa. Não deve ser confundido com o desconforto momentâneo de se chegar a um ambiente novo. A ausência da fala para quem desenvolve o mutismo seletivo pode perdurar por meses ou, até mesmo, anos. O aparecimento da doença, na maior parte das vezes, acontece quando ainda criança, entre os três e os cinco anos de idade.
As causas, explica a psicóloga clínica Elisa Maria Neiva Vieira, especializada em mutismo seletivo, podem estar vinculadas a uma série de fatores, tais como: crises sérias de ansiedade, transtornos de fobia, traumas e aspectos genéticos e hereditários. "É muito diferente daquela criança que se sente tímida ao chegar a um ambiente novo, mas que, momentos depois, se solta e conversa com as pessoas. Da mesma forma se difere do autismo, que é uma disfunção global do desenvolvimento. A criança com mutismo seletivo não fala com estranhos. Ela se comunica verbalmente apenas com um grupo de pessoas íntimas e, ainda assim, em algumas situações particulares. Mesmo o contato visual com os desconhecidos é evitado", conta Elisa.
Durante o tratamento, o paciente pode até não conversar com o especialista, diz a psicóloga. O profissional precisa descobrir meios alternativos e criativos de entender, escutar e se comunicar com cada um. Vale ressaltar que as probabilidades de cura da doença vão caindo, se o problema persistir por mais de seis meses. Neste sentido, o tratamento pode demorar anos, ainda existindo o transtorno, até mesmo, na fase adulta. "Utilizo muito a tecnologia, como os tocadores de música e tablets, como ferramenta de trabalho nos tratamentos com crianças e adolescentes. Esses dispositivos e meios passam a ser o canal de interação com os pacientes e funciona m muito bem", destaca.
Mas como saber se, junto com o mutismo seletivo, existem outros problemas, como ansiedade, depressão, hiperatividade ou tiques que também devem ser tratados?
A psiquiatra da Infância e Adolescência, Laura Maria Massaglia Soeiro, esclarece que o tratamento psiquiátrico é indicado quando o profissional capacitado diagnostica esses outros transtornos envolvidos. O psiquiatra, explica, vai realizar um diagnóstico diferencial entre condições diversas, que podem indicar, ou não, a presença do mutismo seletivo e de outros males relacionados. "A criança pode estar apenas reagindo a um estresse, como a adaptação escolar ou o nascimento de um irmão. Pode estar com problema de audição ou neurológico, com transtorno autístico (relativo ao autismo), vivendo a superproteção materna, um momento de desarmonia conjugal entre os pais ou, ainda, ter uma personalidade forte acompanhada de ser arisca ou agressiva com estranhos", frisa.
Por isso tudo, observa Laura, a recusa da criança em falar requer sempre o envolvimento da família e da escola no diagnóstico de um ou mais problemas e seus tratamentos. "No que diz respeito ao tratamento, a literatura aponta para o treino de habilidades sociais. A criança tem, como primeiro grupo social, a família, onde ela inicia o processo de aprendizagem de convivência social. Quando, por diferentes motivos, o processo de aquisição dessas habilidades é dificultado pelas próprias habilidades parentais, a criança acaba sofrendo com a falta de modelo. Deve-se, então, propor um programa de treinamento direcionado à família e à escola".
Sobre o uso de medicamentos, como antidepressivos, a psiquiatra comenta que tem havido crescente interesse no resultado positivo para o tratamento das demais patologias associadas, contudo, a resposta, na maioria das vezes, é parcial.
Pais e professores podem identificar sinais do mutismo seletivo, diferenciando-o da timidez e do autismo, conforme quadro, abaixo:
Ação Mutista

Fala no convívio social não

Contato físico resiste, mas aceita

Contato visual não

Aparência física franzino