ECONOMIA

Empresas gastam mais de 7% do faturamento com transporte

Amilton Lourenço
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Apontada como um dos principais obstáculos para a competitividade, a infraestrutura brasileira é um fracasso quando comparada a de outros países. Apesar de apostar em commodities agrícolas e minerais como principais produtos para exportação, o Brasil não investe na área de transportes e perde espaço comercial no exterior. Pesquisas elaboradas pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo e Sebrae apontam que os gastos das pequenas empresas com logística chegam a 6,6% do faturamento e, das de médio e grande porte, respectivamente, têm um custo de 6,1% e 7,5% do que arrecadam. Com base em dados fornecidos pela Universidade de Sorocaba (Uniso) e Cooperativa de Transportes Autônomos de Sorocaba e região (CTS), o Cruzeiro do Sul confirma os dados. Uma carreta de 7 eixos que transporta 30 toneladas de açúcar entre Sorocaba e Santos tem um custo operacional de R$ 2,2 mil, o que representa 7,3% do valor total da carga, que é de R$ 30 mil.

"A maioria dos nossos 92 cooperados trabalha com transporte de produtos agrícolas de baixo valor agregado. Assim, o custo com transporte varia de 6% a 7,5%, dependendo da capacidade do veículo e do tipo de carga", comenta José Pesci, diretor comercial da CTS. O valor do frete citado no exemplo acima considera um planilha de gastos composta por: pedágios, combustível, lubrificantes, pneus, câmaras de ar, protetores, depreciação do caminhão, manutenção do caminhão e remuneração do motorista. Somente com pedágios, a carreta de sete eixos gasta R$ 354,90. "Passando pelo Rodoanel, o custo por eixo entre Sorocaba e Santos, considerando o trajeto de ida e volta, fica em R$ 50,70. É só multiplicar esse valor pelo número de eixos do veículo e você obterá o custo com pedágio", ensina Pesci.

Custo com logística

Ao comentar os gastos com logística, o professor da Uniso, Renato Garcia, destaca o percentual desse item em relação ao Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil e outros países desenvolvidos. "Estima-se que o percentual dos custos logísticos em relação ao PIB no Brasil seja de aproximadamente 10,6%, contra 7,7% do PIB dos EUA (dados de 2010). Segundo dados da Associação Brasileira de Logística (Aslog), o impacto da logística no custo final dos produtos de consumo no Brasil é de 7,2%, contra 4% nos Estados Unidos", informa o professor.

"O custo mais significativo é com o logística. Pegando como referência o transporte da indústria de transformação e tomando como base uma pesquisa elaborada pela Decomtec/Fiesp, a indústria de transformação gasta aproximadamente R$ 84,4 bilhões com transporte, dos quais, R$ 68,6 bilhões destinam-se ao transporte rodoviário, R$ 5,9 bilhões ao transporte ferroviário, R$ 4,3 bilhões com transporte fluvial/marítimo e R$ 5,6 bilhões com transporte aéreo, sendo que o total gasto equivale, em média, a 4,9% do faturamento dessas empresas", explica.

O professor também apresenta dados que mostram a participação dos custos logísticos no faturamento de cada setor econômico (dados de 2007). O mais alto é o do setor agroindustrial, que impacta diretamente no preço do produto final para o consumidor. A participação dos custos logísticos por setor é a seguinte: comércio varejista (1,90%); eletroeletrônico e computação (2,10%); telecomunicações (2,30%); peças automotivas (2,30%); confecções, têxteis e calçados (2,50%); higiene, limpeza e cosméticos (3,50%); químico e petroquímico (3,70%); alimentos e bebidas (5,40%); papel e celulose (5,70%); siderurgia e metalúrgica (6,20%); e agroindustrial (7,30%).

"As empresas brasileiras precisam dedicar um esforço muito maior e gastar mais dinheiro que seus concorrentes internacionais para enfrentar as questões logísticas e ganhar mercado externo", comenta Garcia. "A dificuldade para lidar com previsão de custos é um grande problema para nós. Estamos sujeitos a uma série de fatores de risco, desde os sociais e ambientais até com a insegurança nas estradas", emenda o diretor da CTS.