TURISMO

Cemitério guarda histórias da República e casos não solucionados


O Cemitério Municipal de Itu soma 128 anos de história, recheada de singularidades. Há túmulos de senhores e senhoras ilustres que tornaram-se personalidades devido a atuação no final do Império e início da República - a maior parte ornamentada em bronze ou mármore. E outros, bem mais simples, de pessoas desconhecidas que foram assassinadas e causaram comoção.
Já na entrada principal o visitante se surpreende. As flores distribuídas entre os túmulos dão um colorido quase comum ao ambiente fresco, da extensa sobra das árvores, todas gigantes e enfileiradas dos dois lados da passarela principal. Foram plantadas há quase 70 anos, por um ex-prefeito. Na mesma região central também está a sepultura da família Almeida Prado. No túmulo do mais antigo, do capitão Francisco de Almeida Prado, não há data, só a inscrição de que foi da "ordem imperial de Dom Pedro".
Junto dele os corpos de Bento Dias de Almeida Prado, o Barão de Itahim, e sua esposa, a Baronesa Anna Eufrosina, falecidos no início do século passado. No mesmo corredor, nomeado de "Esperança Divina", também está o túmulo do republicano João Tibiriçá Piratininga, falecido em Paris e sepultado em Itu, em 1888. Na própria lápide, de bronze, há homenagem ao "homem que fez história". Mas há outros exemplos de pessoas que se destacaram e foram sepultadas em túmulos sem ostentação.
É o caso de dona Margarida Galvão, na quadra 11. Ela faleceu em 1916, com 17 anos, e seu túmulo é um dos mais visitados. Não há dados específicos, mas populares acreditam ter sido assassinada pelo marido, por ciúmes. Caso semelhante ocorreu com a menina Carol, referência ao papa João Paulo 2º (Karol Wojtyla), assassinada com 10 dias de vida, encontrada numa lata de lixo da cidade.
Funcionários do cemitério e pessoas da comunidade organizaram um enterro e sepultura, na ala das crianças - uma das mais visitadas. Entre outros túmulos procurados está do monsenhor Camilo Ferrarini, falecido em 2003, depois de mais de 30 anos dedicados aos sacerdócio local. Há também o de Francisco Flaviano de Almeida, o Simplício da Praça da Alegria, falecido em 2004. Foi do seu bordão na TV que Itu passou a ser conhecida como a cidade dos exageros.

Loira Desconhecida

Mas nenhuma das sepulturas do cemitério ituano é mais visitada que a da Loira Desconhecida, assim mesmo, como nome e sobrenome, conforme a lápide que fomenta o misticismo local. A moça foi assassinada em 18 de abril de 1973 e o corpo foi encontrado no dia seguinte na Estrada Parque, entre Itu e Jundiaí. Ela estava nua e tinha marcas de tortura, além de seis tiros de arma de fogo nas costas. Segundo relatos de idosos que viveram na época, a mulher aparentava 30 anos, era loira natural e bem cuidada, apesar dos hematomas.
Devido a circunstância, para promover uma possível identificação, foi velada por cinco dias. Compadecida, uma costureira a vestiu com um dos vestidos que dispunha, de noiva. O caso ganhou repercussão nacional, mas nunca foi solucionado e ela, nunca identificada. O fato foi divulgado no jornal Cruzeiro do Sul do dia 20 de abril daquele ano. Mas estranhamente, todos os documentos referentes ao inquérito sumiram. Há quem lhe atribua lendas - como da loira do banheiro- assim como quem lhe atribua milagres. (L.G.)