SOROCABA E REGIÃO

Melhor maneira de acabar com o bullying é eliminar a plateia

Daniela Jacinto
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Nos casos de bullying, a plateia é tão responsável quanto o agressor. Esse é o ponto fundamental para minar o comportamento dentro das escolas: acabar com os expectadores. "Afinal, gozação maldosa sem público não tem graça", observa o professor Marcos Gomes Guimarães, que tem 35 anos de experiência na área da Educação e ministra palestras sobre o tema. Marcos esteve em Sorocaba na sexta-feira passada, a convite do Colégio Liceu Pedro II para falar sobre "Bullying - Prevenção e Atitudes"; e reuniu educadores e pais, no auditório da Fundação Ubaldino do Amaral (FUA).

Conforme o palestrante, existem formas de trabalhar para que a plateia, ao invés de colaborar com o agressor, acabe censurando seu comportamento. Marcos conta que desenvolveu um projeto, intitulado "Turma do Bem", que é simples e pode ser aplicado em todas as escolas. "A Turma do Bem elimina os agressores, acaba tornando fora de moda tirar sarro do gordinho", afirma.

Funciona da seguinte forma: logo no início do bimestre, o professor escolhe dois estudantes da sala para fazer parte da "Turma do Bem". Serão os responsáveis por "cuidar" da escola, e podem ser passadas algumas responsabilidades nesse sentido. "Eles ganham camiseta e adesivo da "Turma do Bem", o que faz com que se sintam especiais", acrescenta Marcos. No bimestre seguinte, são escolhidos mais dois alunos por votação dos próprios colegas de classe. E no terceiro bimestre dois candidatos a bullying são os escolhidos.

"O professor deve escolher aqueles que considera que seriam alvos em potencial desse tipo de agressão", explica. O legal da "Turma do Bem é que eles também se reúnem para ver filme, tomar guaraná e comer pipoca. Os laços de amizade vão se fortalecendo e, claro, a "Turma do Bem" não faz maldades, portanto não pratica bullying. "Sei de escolas que há cinco anos não têm nenhum registro de bullying", diz Marcos, que vai até as instituições de ensino explicar sobre o projeto, pelo custo de uma palestra.

Ainda de acordo com o palestrante, a partir do momento que o agressor vai para a "Turma do Bem", ele defende todo mundo. "É preciso que pais e professores estejam unidos para ensinar tolerância, aceitação, solidariedade... Uma das formas de evitar o bullying é ensinar às crianças que o que eu não desejo para mim, não desejo para o outro. Isso desencoraja tanto a pessoa que praticaria o bullying quanto a que seria da plateia."

Marcos explica que o bullying é diferente de gozação. "A gozação nunca vai deixar de existir, mas quando há uma gozação até o alvo dela ri, descontrai junto, o problema é quando se torna constante e a pessoa não gosta", esclarece. Bullying (do inglês bully, valentão) é um termo utilizado para descrever atos de violência física ou psicológica, intencionais e repetidos, praticados por um indivíduo ou grupo de indivíduos causando dor e angústia, sendo executados dentro de uma relação desigual de poder.

"Geralmente o bullying é praticado dessa forma: 10 contra um", acrescenta Marcos, que cita um exemplo sobre a diferença entre gozação e bullying: "Um dia vem alguém e fala que a pessoa é cor de abóbora, todos riem inclusive ela, é uma coisa. Outra coisa é vir outro dia com uma música sobre a cor de abóbora, depois no outro dia desenhar uma abóbora na lousa e falar que essa abóbora é a fulana, colocar apelido, falar para a escola inteira que a pessoa está ficando gorda como uma abóbora, que a pessoa não serve para nada a não ser para fazer doce, e assim por diante. De repente, por causa disso, uma excelente aluna não quer mais ir para a escola e com isso perde-se um talento", diz.

Ainda com relação à plateia, outro acontecimento de grande importância é fazer com que essas pessoas tenham consciência de que quando observam uma ação ruim acontecendo com alguém, elas tem a obrigação de falar com um responsável. "Isso não é dedar, é alertar. Por causa disso, porque ninguém falou nada, um garoto ficou pendurado na parede durante horas em uma escola dos Estados Unidos."

Gente bonita também sofre

Ao contrário do que muitos podem pensar, não são só os feios que sofrem bullying. "Gente bonita também sofre", ressalta Marcos. "Todas as pessoas diferentes sofrem bullying e o agressor ou agressores fazem isso porque querem exterminar aquela pessoa, reduzir a nada", afirma. Uma das constatações dos casos de bullying é que o agressor agride para não ser agredido. "Muitas vezes ele não tem ideia do que está causando. Portanto cabe a nós, pais e educadores, ensinarmos que esse tipo de atitude não é bom para o ser humano. A verdade é que crianças agressoras existem porque as crianças aprendem o que vivenciam. A pessoa é aquilo que ela vê dentro de casa."

Marcos orienta que o correto é mostrar para as crianças que a diferença é bonita. "Tem que ter no mundo pessoas altas, baixas, gordas, magras, afinal se não fosse assim a gente não casava. O ser humano tem como natureza procurar algo diferente na vida, que ele não tenha. Além disso, todos têm algum defeito, não existe a perfeição. Ninguém é perfeito, graças a Deus", diz.Não só os pequenos, mas os jovens também praticam o bullying, observa Marcos. "Aliás no mundo corporativo também é assim, tem colegas de trabalho que querem fazer a pessoa ter vontade de sumir, forçar a pessoa a pedir demissão, e como esse agressor não tem força o suficiente, então arruma outros para ajudar. A verdade é que o mundo não quer que você tenha sucesso, o sucesso incomoda."

Outro caso citado pelo palestrante é com relação ao cyberbullying, praticado pelos meios eletrônicos, pode ser pela internet - através de emails ou das redes sociais -, ou mesmo o celular. "Nesses meios os jovens costumam praticar difamações, calúnias, ameaças, então nesse caso o que precisa ficar claro para eles é que esses meios são registros que documentam e que por isso eles podem ser processados. Aí a coisa fica mais séria".

Pais devem prestar atenção

Os pais devem prestar atenção em seus filhos, perceber se há mudanças em seu comportamento, se estiverem mais quietos e não quiserem mais ir para a escola. Um olhar mais cuidadoso e também afetuoso é importante para que a criança sinta que tem em quem confiar, que alguém a entende e que ela não está sozinha. "Muitas vezes a criança tem receio de falar, então cabe aos pais sondar, saber o que está acontecendo, a criança pode chegar da escola chorando, então têm de ficar atentos. Amizade e parceria entre pais e filhos são muito importantes."

Quando os pais constatam que seus filhos estão sendo vítimas de bullying, o ideal é conversarem na escola, com a professora e tentarem juntos uma solução que não exponha a criança e aumente ainda mais o problema. "Os pais da criança agressora devem ser avisados sobre o que está acontecendo e a última fase é chamar a criança que pratica o bullying, para que ela tenha noção do que está fazendo", orienta Marcos.

Marcos Gomes Guimarães é professor, advogado e orientador pedagógico. Realiza palestras desde 2001. Escolas interessadas em saber mais sobre o projeto "Turma do Bem" podem entrar em contato com ele pelo telefone (16) 9601-9584 ou pelo email[email protected].

Tipos de bullying

VERBAL
- xingar
- insultar
- ofender
- colocar apelidos pejorativos

FÍSICO
- bater
- espancar
- empurrar
- atirar objetos
- furtar/destruir pertences
- amarrar
- prender

PSICOLÓGICO
- humilhar
- isolar
- desprezar
- ameaçar
- perseguir
- dominar
- excluir
- intimidar
- difamar

Filmes

-A Peste da Janice, de Rafael Figueiredo
- Forrest Gump, de Robert Zemeckis
- Kes, de Ken Loach
- Um Grande Garoto, de Chris Weitz e Paul Weitz
- De Repente 30, de Gary Winick
- Lucas, um Intruso no Formigueiro, de John A. Davis
- Ponte para Terabítia, de Gabor Csupo
- Meninas Malvadas, de Mark S. Waters
- Deixe Ela Entrar, de Tomas Alfredson
- Bang Bang, Você Morreu, de Guy Ferland
- Billy Elliot, de Stephen Daldry
- Bullying - Provocações Sem Limites, de Josetxo San Mateo

Livros sobre o assunto

- Bullying Escolar, de Cleo Fante
- Bullying, de Ana Beatriz Barbosa Silva
- Os Óculos do Dudu, de Silmara Rascalha Casadei
- Morango Sardento e o Valentão da Escola, de Julianne Moore
- Bullying na Escola - Meu Material Está Sumindo, de Cristina Klein
- O Mundinho sem Bullying, Ingrid Biesemeyer Bellinghausen
- Laís, a Fofinha, de Walcyr Carrasco
- Orelhas de Borboleta, de Luisa Aguilar
- As Crianças Aprendem o que Vivenciam, de Rachel Harris e Dorothy Law Nolte

Músicas que incentivam a superação


- Epitáfio, Titãs
- Volta por Cima (Noite Ilustrada), Beth Carvalho
- Mais Uma Vez, Renato Russo
- Assim Caminha a Humanidade, Lulu Santos
- Semente do Amanhã, Erasmo Carlos
- Tente Outra Vez, Raul Seixas
- Apesar dos Poucos Anos, Tim Maia