SAÚDE

Neurocisticercose é causada por carne de porco, frutas ou verduras contaminadas



Marina Costa
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Apesar do nome complicado, a neurocisticercose é uma doença muito comum que ataca o cérebro e causa infecção no sistema nervoso central. Conhecido popularmente como "bicho do porco", engana-se quem acredita que somente a carne deste animal pode causar a contaminação.
Segundo o neurologista Luiz Carlos Beda, da mesma forma que os animais, os homens podem ingerir diretamente os ovos do verme através da água poluída, hortaliças, frutas ou de suas próprias mãos. "Temos que desmitificar essa história de que a pessoa contrai a doença somente através do porco, a higiene dos alimentos e pessoal também podem ser responsáveis. As hortaliças, por exemplo, podem ter sido adubadas com fezes de animais contaminados", ressalta.
A cisticercose é uma parasitose comum do sistema nervoso central e, segundo Beda, representa um grande problema de saúde pública na América Latina, China, Índia e sudeste da Ásia. No Brasil, estima-se que cerca de 140 mil pessoas sofrem dessa doença, que pode causar lesões cerebrais graves e até a morte. O médico explica que a neurocisticercose ocorre quando a larva da tênia do porco (Taenia solium) infecta o sistema nervoso. O homem também pode ser infestado pela tênia do boi (Taenia saginata), mas somente a do porco causa a cisticercose. Segundo Beda, os sintomas da doença dependem da localização, do número e do estágio de desenvolvimento dos cistos, mas os principais são crises convulsivas, cefaléia e distúrbios psiquiátricos.
O diagnóstico pode ser feito através de tomografia, ressonância magnética e liquor e através do histórico do paciente. Já o tratamento, segundo Beda, deve ser realizado de acordo com as manifestações. "Cistos podem ser cirúrgicos se houver um processo inflamatório intenso e o paciente apresentar hidrocefalia", explica.
O tratamento da cisticercose tem como objetivo a redução da resposta inflamatória. Portanto, nem todos os pacientes devem ser tratados, pois os cistos podem já estar mortos ou a resposta inflamatória ao uso do medicamento pode ser pior que a doença. O tratamento pode ser, portanto, apenas a observação, uso de medicamentos como vermífugos e, eventualmente, a cirurgia. "Antigamente, o tratamento através de medicamentos era muito caro, como por exemplo o vermífugo Praziquantel, que no passado custava cerca de R$ 1.500. Porém, hoje em dia, existem vermífugos mais baratos como o Albendazo. Vale lembrar que é sempre bom consultar um médico antes de tomar qualquer medicamento", ressalta Beda.
As formas da doença que geralmente precisam de tratamento cirúrgico, segundo Beda, são aquelas que evoluem para o aumento da pressão intracraniana, causando dor de cabeça forte, vômitos, alteração do nível de consciência. Esses sintomas podem aparecer, pois o cisto pode se comportar como um tumor, causando uma inflamação muito grande e, consequentemente, inchaço cerebral. A cirurgia pode ser realizada para retirar o cisto que está provocando o problema, para descomprimir o cérebro que está sofrendo com o inchaço. A neurocisticercose que acomete a coluna ou medula espinhal também tem indicação de cirurgia se estiver comprimindo os nervos ou medula.
Em alguns casos, Beda explica que a doença pode se manifestar até 20 anos depois da contaminação e, com isso, os cisticercos podem estar calcificados e isso provocar epilepsia.
Para evitar a neurocisticercose, vale ressaltar a importância da higiene. "É muito importante que as pessoas tenham em mente que não é somente a carne do porco que pode contaminar, muitas vezes uma hortaliça que foi adubada com fezes contaminadas podem trazer sérios danos à saúde. Quanto à carne, a principal dica é congelar bem, cozinhar e depois comer. Não é aconselhável colocar direto em uma churrasqueira, por exemplo" enfatiza.

"Pipocas da Carne"

Segundo Mário Cândido de Oliveira Gomes, médico infectologista e autor do livro "Doenças, conhecer para prevenir", era muito comum as pessoas chamarem bolhas duras, do tamanho de grão de ervilha ou de feijão, que aparecem na carne do porco, de "pipoca". Porém, o nome correto desta "pipoca" é cisticerco. "O porco se contamina ao comer verduras poluídas ou fezes do homem , libertando no intestino fino um embrião que é transportado a todos os órgãos pela circulação, mas com predileção pelos músculos, sistema nervoso e olhos dos animais. Depois de três meses, o embrião torna-se larva madura com aspecto de bolha dura que é a pipoca".
Em São Paulo a cisticercose no cérebro (neurocisticercose) foi diagnosticada em 0,36% dos pacientes atendidos na Clínica Neurológica do Hospital das Clínicas. Já nos países subdesenvolvidos, a contaminação dos suínos é 30 vezes mais alta em relação aos desenvolvidos. Gomes explica que isso acontece devido a o atraso no saneamento básico na zona rural, principalmente em relação ao destino das fezes. (Supervisão: Regina Helena Santos)