ELA

Para brasileiro nenhum botar defeito


Leila Gapy
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Não se sabe ao certo, mas muitos arriscam dizer que foi a ampliação de consciência dos ocidentais, quanto a necessidade de alimentar-se bem para garantir longevidade, que possibilitou a disseminação da sabedoria japonesa no ocidente. Há milênios os orientais sabem que para cuidar do corpo é preciso cuidar da alimentação e da mente. Junto disso, a variedade de pratos, apoiados nos sabores naturais, aguçou paladares brasileiros, abertos às novidades. Por isso até, o número de adeptos e amantes da culinárias japonesa tem crescido cada vez mais. Tanto que muitas receitas, como o popular sushi (feito com salmão ou pepino) tem sofrido alterações, sendo feito até com berinjela ou tomate e cream cheese acrescentado acima.

O fato é que como muitas outras tradições culinárias, a japonesa também nasceu dentro da necessidade e costumes de um povo. O arquipélago que forma o Japão favoreceu para que os frutos do mar compusessem boa parte das receitas. A terra boa para plantar também ajudou o cultivo de vegetais, com espaço igualmente garantido na mesa. Mas foi a necessidade de trabalhar no campo que levou-os ao uso do arroz, resistente ao armazenamento diário. Tanto é que foi justamente o armazenamento do peixe desidratado no arroz, transportado aos campos de trabalho, que possibilitou a criação do famoso sushi, incrementado posteriormente com o sabor das algas.

Porém, os costumes milenares também compuseram os detalhes da culinária japonesa. Prova disso é a ornamentação dos pratos, verdadeiras obras de artes que enchem os olhos de qualquer um. Afinal, "come-se (primeiro) com os olhos", como diz o ditado. E para a filosofia oriental comer é também uma arte. Até por isso não há exageros e sim, degustação. O ato de alimentar-se é delicado, apreciado, feito passo a passo. 

Boa mesa
 
Exemplo disso é o aposentado Minoru Takeda, de 72 anos. Filho de imigrantes, oriundo de Presidente Bernardes, ele chegou em Sorocaba ainda moço, onde casou-se e constituiu família. Dona Maria de Fátima Demétrio Takeda, de 59 anos, a esposa, conheceu com ele e com os sogros os macetes e privilégios da mesa japonesa. "Quando casei-me, há 37 anos, fui morar com meus sogros. Foi lá que descobri essa comida tão gostosa", garante. A comerciante lembra que no início não viu muita graça na alimentação do marido, mas com o tempo, aprendeu a gostar, ao ponto de ensinar a própria família, sem origens orientais, a elaborar pratos como sashimi (à base de peixe cru), sushi e yakissoba. "Minhas irmãs todas, meus filhos e netos, todos comem essas delícias", garante.

Mas ainda há exemplos de pessoas que não têm ligação alguma com o oriente e já tenham se rendido ao cardápio. É o caso da jornalista Adriana Pellegrino, de 34 anos. Há pelo menos dez anos ela consuma saborear os pratos japoneses com certa frequência. "Sempre fui enjoada para comer, mas a comida japonesa sempre me pareceu simpática. Porém, foi num rodízio, junto de amigos, que optei por experimentar. A princípio não me apaixonei. Mas com o passar dos anos, me rendi. Os pratos são leves, saudáveis. É possível até exagerar, sem que lhe faça mal. A disposição dos alimentos coloridos também me agradam. Atualmente, ao menos uma vez ao mês, me proponho a degustá-los", assume.

Fato que também aconteceu com a pequena Allanis Maria Alves Barros, de apenas 9 anos. Influenciada pelos pais, Andrea e Dailer, ela aprendeu a apreciar a mesa japonesa aos 7 anos. Tanto que atualmente é ela quem cobra almoços ou jantares especiais, feitos com pratos do oriente. O argumento para o gosto ela tem na ponta da língua: por serem coloridos, gostosos e pertencerem a um povo que fica do outro lado do mundo - esse último lhe atrai por estar associado à novidade, conhecimento, cultura diferenciada. Tanto que os pratos que a pequena mais gosta são o sashimi, guioza e o niguiri skin. Segundo a mãe, um dos argumentos usados para convencê-la a experimentar foi associar a comida ao desenho do Kung Fu Panda.

"Mas depois que experimentou, aí não tivemos mais o que falar", acrescenta Andrea. O fato é que o número de pessoas que buscam pela culinária japonesa tem crescido tanto ao ponto do aumentar o número de restaurantes e lojas de artigos também. O que justifica até a criação de cursos específicos da gastronomia japonesa.