Irmãos procuram pais biológicos
Assim como Lúcia, que ainda pequena perdeu o contato com a mãe e não conhecia sua própria história, os irmãos Marcelo e Raquel também não sabem nada sobre sua origem e querem muito descobrir. Deficientes auditivos, eles foram vistos andando pela rua em Cajamar, cidade próxima a Jundiaí, e acabaram sendo recolhidos pela polícia, em 1985, quando tinham, respectivamente, 7 e 6 anos de idade. Posteriormente, foram encaminhados para adoção e uma família estrangeira, dos Estados Unidos, é que os acolheu. Os irmãos vivem naquele país até hoje, mas motivados pela vontade de saber o que de fato lhes aconteceu, entraram em contato com o site Desaparecidos do Brasil (www.desaparecidosdobrasil.org) em busca de ajuda.
Amanda Boldeke, responsável pelo site, afirma que a deficiência auditiva e, consequentemente, o fato de serem mudos, dificulta muito a conversação com Marcelo e Raquel, por isso os contatos foram feitos pela internet, através de trocas de emails. "Eles nos mandaram sua história e um pedido para encontrarmos a mãe biológica ou a sua família no Brasil. Eles não sabem de detalhes da infância, nem o nome dos pais biológicos, pois só consta nos documentos que eles foram encontrados abandonados e foram abrigados em uma casa de adoção em Jundiaí. Foram chamados de Raquel e Marcelo "de Tal" porque não se comunicavam, portanto não sabiam nem o sobrenome", relata Amanda.
Agora adultos, Marcelo e Raquel querem saber seu verdadeiro nome, quem são seus pais, se têm irmãos, por que foram abandonados ou talvez sequestrados. "São muitas perguntas e nenhuma resposta. É isso que procuramos, as respostas. Não conseguimos localizar a família, por falta absoluta de dados", lamenta Amanda, que chegou a entrar em contato com a casa de adoção onde eles teriam estado por um ano, mas os responsáveis pelo local não responderam. "Então, lançamos o apelo na internet, com o objetivo de espalhar a foto deles quando crianças, na esperança que alguém veja, reconheça e entre em contato", acrescenta.
Desde que foram adotados, os irmãos foram registrados como Marcel Lee Paul e Raquel Juliann Paul. Estão agora com 35 e 34 anos, respectivamente. "Somente há poucas semanas eles encontraram novos documentos. Em um deles consta o nome da Casa Transitória Nossa Senhora Aparecida, de Jundiaí, onde teriam sido abrigados na época. Em outro, constam os nomes de Fábio e Fabiana, que pode ser o nome original deles", comenta Amanda.
Ainda conforme ela, os irmãos obtiveram também as seguintes informações em uma anotação onde constavam os seguintes dizeres: "Jundiaí Reabilitação Center - 30 de janeiro de 1986. Raquel tem presumivelmente 7 anos de idade, ela tem dificuldade em se expressar verbalmente, a criança foi institucionalizada desde junho de 1985, foi encontrada abandonada com seu irmão (que tem um ano a mais) em Cajamar".
Amanda espera que com essas informações seja possível localizar algum parente dos irmãos Marcelo e Raquel.
Ainda é tabu
Entre diversas histórias que chegam ao site Desaparecidos do Brasil, Amanda Boldeke afirma que recebe muitos casos de pessoas que tiveram adoção ilegal, via tráfico humano, vindos de Israel, Itália, França e Estados Unidos e que hoje buscam suas mães e origem biológica no Brasil. "Em vista do grande número de casos assim, vimo-nos obrigados a contatar a mídia para levar ao conhecimento do grande público, isso que era até então tratado como tabu no Brasil, e ainda é, apesar da grande divulgação alcançada pela novela e que muitos ainda encaram como ficção", diz.
Conforme Amanda, o apelo para divulgação nos jornais tem tido resultado. "Também a Glória Perez aceitou incluir nossos casos na novela, onde os depoimentos reais que temos assistido, são todos casos vistos por nós. O Faustão também já exibiu o encontro de duas mães e lá estivemos prestigiando nossos meninos. Aliás, Jundiaí é uma cidade que era reduto de pessoas ligadas ao tráfico também", denuncia.
Amanda criou o site Desaparecidos do Brasil em 1997, a partir de uma história pessoal. "Tive um caso de desaparecimento em família, do meu irmão. Foram dez anos de busca e devido às dificuldades que encontrei nesse tempo todo, sem apoio dos órgãos oficiais, eu aprendi muita coisa e utilizo esse meu conhecimento para ajudar os demais", conta.
No site de Amanda tem dois casos de Sorocaba, enviados por parentes, o de Rafael Charbel de Mello, desaparecido desde 2005 (foi visto pela última vez em Sorocaba, onde fazia faculdade) e de Josiane Rosa Bequer, desde 2011. Ambos são jovens. Josiane está hoje com 18 anos e Rafael com 27 anos.
Quem tiver alguma informação sobre esses desaparecimentos, principalmente o de Marcelo e Raquel, pode enviar um e-mail para [email protected] ou ligar para o telefone (48) 8461-8802, falar com Amanda. O endereço do site é www.desaparecidosdobrasil.org. (Daniela Jacinto)