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Aos 66 anos, Marieta Severo se divide entre "A grande família" e trabalhos fora da tevê


Atuar há 12 anos em um mesmo programa tornou-se uma espécie de zona de conforto para Marieta Severo, a doce Dona Nenê de A grande família. Viver a matriarca da família Silva atribuiu à consagrada atriz uma maior liberdade artística fora da televisão a partir de uma flexibilidade no esquema de gravações principal queixa de muitos profissionais que emendam novelas. "Fiz vários personagens no cinema e no teatro. O que nós garante essa sobrevida no seriado são os trabalhos por fora. Você volta renovado e com uma nova roupagem", explica ela, que afirma que a ideia de passar anos em um mesmo papel era inimaginável no início do projeto. "Doze anos em um mesmo papel? Não, obrigada. Seria loucura. Mas, hoje, eu olho para trás de forma prazerosa e não queria estar em outro lugar. Me orgulho de fazer parte de um programa de alta qualidade", valoriza.
 
Aos insuspeitos 66 anos, Marieta incorpora uma das grandes "mãezonas" da televisão brasileira. Com fala mansa e decidida, o temperamento afetuoso e gentil da personagem já se assemelha à personalidade desta carioca muito lembrada na história das telenovelas pelos papéis de mulheres finas e elegantes, como a Alma de Laços de família. Apesar das semelhanças, Marieta acredita que o público brasileiro saiba reconhecer a diferença entre atriz e personagem. "São anos no mesmo papel e o telespectador já tem uma intimidade com a gente. Mas o brasileiro é craque em dramaturgia. Não existe isso de jogar pedra no vilão", conta ela, relembrando o fato de ter sido agredida em Copacabana, bairro da Zona Sul do Rio de Janeiro, na época em que interpretou a misteriosa assassina Eden de Bassora, na novela O Sheik de Agadir. "Eram outros tempos. Era uma trama sem compromisso com a realidade. Foi a primeira vez que fiz uma vilã e foi um ano de estreia para mim", lembra, nostalgicamente.
 
Apesar do longo período interpretando a mesma personagem, Marieta acredita que a cada estreia de temporada é um novo papel se reinventando. Afinal, para a atriz, seria impossível "congelar" Dona Nenê ao longo dos anos. "Qualquer novidade é importante e estimulante. Tenho um domínio muito grande desse papel. Hoje, ela trabalha fora. Muito diferente da primeira temporada em que ela vivia para a família apenas", compara. Além disso, Marieta admite que a peculiaridade de envelhecer juntamente com a personagem foi algo que mais a surpreendeu durante a produção. "Uma geração me acompanhou e cresceu me vendo nesse mesmo papel. É bonito ver como a dramaturgia segue lado a lado com a vida real. E, agora, a gente vai se alimentando de histórias do passado do seriado", aponta.
 
Com 47 anos de carreira, Marieta segue uma política pessoal de não viver do passado e sem arrependimentos nas escolhas profissionais desde sua estreia em O Sheik de Agadir. "Penso no que faço agora e não no que poderia ter acontecido. Mas sei que minha trajetória é feita de sucessos e outros trabalhos nem tão bons assim. Mas me sinto bem dentro dela", pondera a atriz, que gosta de montar suas personagens através da observação. "Não identifico coisas concretas. O ator é um depositário. Passa a vida observando", completa.
 
 
A grande família, Globo, quintas, às 22h30