Corrupção em Mairinque sustentou campanhas eleitorais, afirma polícia
Marcelo Roma
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O ex-prefeito de Mairinque, Dennys Veneri (PTB) e o empresário Carlos Alberto Valente Filho são acusados de coordenar um esquema de corrupção que teria financiado campanhas eleitorais de pelo menos cinco candidatos, três na cidade e mais dois em Araçariguama e Alumínio. Oito pessoas foram presas na terça-feira e continuavam detidas até ontem.
O esquema funcionou entre 2005 e 2012 e movimentou mais de R$ 2 milhões, conforme investigação da Polícia Civil. Carlos Valente manteria contratos fraudulentos com a Prefeitura. As modalidades de fraude seriam diversas, desde licitações dirigidas, serviços contratados e não realizados, superfaturamento e pagamentos repetidos. O dinheiro voltaria para o financiamento de campanhas e divisão entre os acusados.
Os oitos presos são Veneri, Carlos Valente, o ex-prefeito de Araçariguama, Carlos Aymar; o vereador de Mairinque, Hélio Moretto Júnior; Maurício Valente (irmão de Carlos); Marcos César Ernandes Camargo, ex-assessor de Veneri; Leandro Lippi, funcionário de Carlos; e Maria Cândida Bertolini, ex-chefe da Divisão de Cultura de Mairinque.
A filha de Veneri, Thais Helena Martins Veneri, teve mandado de prisão temporária expedido pela Justiça e é procurada. Ela foi secretária de administração e chefe do setor de licitações da Prefeitura. Os sete homens estão presos na cadeia de São Roque e Maria Cândida na cadeia feminina de Votorantim.
A reportagem entrou em contato ontem à tarde com o cartório criminal, no Fórum de Mairinque, a fim de verificar se advogados entraram com pedido de liberdade para os acusados. Essa informação não poderia ser transmitida, segundo funcionário. Na terça, os advogados de Veneri disseram que pediram a revogação da prisão temporária do ex-prefeito.
Hélio Moretto Júnior era diretor do departamento de finanças na Prefeitura e foi eleito vereador no ano passado. Leandro Lippi - primo do ex-prefeito de Sorocaba, Vitor Lippi (PSDB) - trabalha para Carlos Valente e seria seu auxiliar direto.
Campanhas
Por exigência de Veneri, Carlos Valente teria financiado a campanha de Denilson Santana de Lima (PTB) à prefeitura de Mairinque no ano passado. Veneri apoiou Denilson, mas ele não venceu a eleição. Além de Hélio Moretto Júnior, outro candidato a vereador, Ovídio Alexandre Azzini (PP), teria recebido doação ilegal para a campanha. Os dois foram eleitos.
A mulher de Aymar, Liliana Aymar, também teria sido beneficiada. Aymar atuou como assessor de Veneri na Prefeitura. Ela tentou concorrer ao cargo de prefeito de Araçariguama nas eleições do ano passado, mas teve a candidatura impugnada.
Em Alumínio, o sindicalista e candidato a prefeito Antônio Piassentini, o Bimbão, teria recebido R$ 10 mil de Carlos Valente para a campanha. Não se elegeu. Piassentini é um dos investigados, foi interrogado terça-feira na delegacia e defendeu-se das acusações.
Diálogos gravados mostram negociações
A reportagem teve acesso a transcrição de trechos de diálogos pelo telefone, entre os acusados, gravados em interceptação telefônica autorizada pela Justiça. O material faz farte do inquérito da Polícia Civil.
Em um telefonema de 3 de setembro do ano passado, o ex-prefeito de Mairinque, Dennys Veneri, teria pedido a Marcos César Ernandes Camargo, o Gordo, pegue R$ 50 mil com o empresário Carlos Alberto Valente Filho. No dia 6 de setembro a polícia verificou saque em dinheiro desse mesmo valor na conta de Valente
Num diálogo entre Carlos Aymar e Camargo, em setembro do ano passado, estariam tratando da aprovação para instalar uma empresa em Mairinque, o ex-prefeito teria pedido dinheiro para a campanha eleitoral da esposa, que concorreu à prefeitura de Araçariguama. Aymar fala em uma "mãozinha" para o material. "Um pouquinho na boca, ajuda lá".
Em outra conversa, entre Leandro Lippi e Valente teriam conversado sobre documentos do escritório. Ao saber que seria feita apreensão por ordem da Justiça, o diálogo transcrito aponta que o empresário pede ao funcionário para tirar tudo e no mesmo dia.