ELA

"Meu filho vai ter nome de santo..."


Helena Gozzano
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Muitas pessoas passam a vida toda sem saber em que circunstâncias seu nome foi escolhido. Admitamos: o nome da gente é muitíssimo importante. Está entre as palavras que mais ouviremos ao longo da existência; se gostamos dele, é uma benção; se não gostamos, um suplício.

Só ao mencioná-lo, nosso interlocutor pode nos dizer muito. Quando apaixonados, o nosso nome saindo da boca do amado é motivo de êxtase; em compensação, quando dito inteiro no lugar do apelido familiar pela mãe ou pelo pai, pode ser motivo de bronca e medo.

Um nome carrega uma história, seja ela nos contada ou não.

Pai e mãe, conscientemente ou não, depositam no nome que dão ao filho, sonhos, desejos e idealizações.

Cinco ou seis décadas atrás, coisa mais comum era dar aos filhos nomes de santos: João, José, Maria, Aparecida e por aí afora. E fazia todo sentindo. Afinal, os pais daquelas gerações desejavam que os filhos fossem religiosos, tementes a Deus e, se possível, santos. Era o retrato de uma sociedade. Hoje, muitos desses nomes até voltaram à moda, mas com um outro sentido, mas relacionado à simplicidade e um estilo "clean".

Tivemos também a fase dos nomes americanizados, aos montes. Além disso, muitos pais põem em seus filhos o nome de seus ídolos, seja do cinema, da TV, da música ou do futebol. Querem que seus filhos sejam como eles, que tenham as mesmas qualidades, o mesmo sucesso? É provável.

Na terapia sistêmica de família, dá-se muito valor ao nome. Várias vezes ouvi histórias de pessoas que recebiam o nome de seus avós e meninos com nome do pai. Homenagens... Completamente legítimas, mas isso pode vir com um encargo e é bom que se deixe isso claro para que se possa lidar com a questão. Dar o próprio nome ao filho é vaidade, é desejo de que o filho seja como o pai? Ou nada disso...

O pai do pai havia acabado de morrer e quando seu filho nasceu, recebeu o nome do avô, como se assim pudesse ele ser mantido vivo. Que peso!

Meu pai deu aulas a vida inteira, por quase cinquenta anos. Era divertido e interessante quando ele lia alguns dos nomes da lista dos alunos no início do ano. Foi com meu pai também que aprendi a versão de vários nomes: William, em português, é Guilherme, sabia? E meu filho, Giovanni, se chamaria João caso eu tivesse escolhido a versão de seu nome em português. Se você não sabe ainda como e por que seu nome foi escolhido, sugiro que corra perguntar aos seus pais. No mínimo, vai ouvir uma história que faz parte da sua história e isso sempre tem valor. E, de agora em diante, ao chamar as pessoas pelo nome, vale lembrar-se que por trás dele há também uma história. E toda história humana merece respeito.

O título deste texto é um verso da canção "Pais e Filhos", de Renato Russo