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Doenças do refluxo


* Alexsander Miranda Franco

Considerada uma das afecções digestivas crônicas de maior prevalência nos países ocidentais, a Doença do Refluxo Gastroesofágico (DRGE) decorre do retorno do conteúdo gastroduodenal para o esôfago, que pode ou não estar associado a lesões nos tecidos. No Brasil, cerca de 12% da população sofrem da doença. Além da sua elevada incidência, ela pode ocasionar vários sintomas e por tempo prolongado, trazendo prejuízos consideráveis para a qualidade de vida dos pacientes.

Quando não há a doença, o conteúdo do estômago (comida ou ácido clorídrico) não volta ou reflui para o esôfago com frequência.
Porém, nas pessoas com Doença do Refluxo, o ácido ou a comida alojada no estômago podem voltar para o esôfago, a garganta e a boca, causando vários sintomas ou problemas nessas estruturas. Os sintomas considerados típicos são: sensação de bolo na garganta, queimadura no esôfago, no peito, azia, esofagite e dificuldade para engolir os alimentos, queimadura na garganta, tosse seca, coceira e rouquidão, incluindo também a asma brônquica ou bronquite, chegando até a sangramentos e anemia.

O desenvolvimento da DRGE envolve alterações nos mecanismos da barreira antirrefluxo, podendo estar associada a hérnia de hiato, redução da pressão do esfíncter inferior esofágico (EIE), alterações do peristaltismo e esofagite de refluxo. O diagnóstico pode ser confirmado com exames, como endoscopia, Phmetria, manometria e estudo do estômago, esôfago e duodeno (EED), especialmente em pacientes com mais de 40 anos ou com manifestações de alerta, como disfagia, anemia, emagrecimento e histórico familiar de câncer.

Nos pacientes com menos de 40 anos com sintomas típicos pode-se considerar, como conduta inicial, a aplicação do teste terapêutico por 6 a 8 semanas, mediante Inibidores da Bomba de Prótons (IBPs). Se houver a remissão dos sintomas, o diagnóstico é confirmado como Doença do Refluxo. O tratamento visa aliviar sintomas, cicatrizar lesões e prevenir recidivas e complicações.

Ele pode ser clínico, aplicado na maioria dos casos, ou cirúrgico. O tratamento clínico baseia-se em dois pontos principais: alteração de algumas medidas comportamentais e uso de medicamentos, feito com IBPs em dose plena por um período mínimo de 6 a 8 semanas. Nesse grupo estão medicamentos como Pantoprazol, Lansoprazol e Omeprazol, entre outros.

No que se refere às alterações no hábito diário, o recomendável é elevar a cabeceira da cama em cerca 15 cm e diminuir a ingestão de alimentos gordurosos e frituras, cítricos, café, chá mate e chá preto, bebidas alcoólicas, cigarros, refrigerantes, molho de tomate, chocolate, vinagre, limão, catchup, mostarda e pimenta.

As pessoas que sofrem de refluxo devem esperar pelo menos duas horas para deitar após as refeições e evitar o uso de anti-inflamatórios, como aspirina, AAS, Cataflan e Voltaren. O ideal também é reduzir o peso corporal, comer devagar, fazer refeições a cada três horas e controlar o estresse. A cirurgia é indicada nas formas complicadas da doença ou nos casos de intolerância ao controle clínico prolongado.

* Alexsander Miranda Franco é médico gastroenterologista do Seconci-SP, formado pela USP, e cirurgião geral, formado pelo HC da Faculdade de Medicina da USP. Artigo extraído da revista Notícias da Construção nº 118 - www.sindusconsp.com.br