Crendices e superstições fazem parte do DNA cultural
Bater três vezes na madeira para espantar o azar, entrar com o pé direito, não passar embaixo de escada, fazer figa para trazer sorte. Acredite você ou não, a tradição e o passado histórico fez das simpatias, crendices e superstições parte de nosso DNA cultural. As simpatias, crendices, superstições e suas origens nos levam a acreditar que tal fórmula faça parte de uma expressão humana muito antiga. Todas as vezes que pesquisamos sobre o tema, as informações que nos chegam, na maioria, é do que se deve fazer para favorecer nossa boa sorte e afastar a má sorte.
E como diz o ditado espanhol "Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay" (Eu não acredito em bruxas, mas que elas existem, existem), acabamos fazendo mesmo quando dizemos que não acreditamos. "Ao contrário do que se pensa, as superstições não tem a ver com um ser ignorante ou atrasado, mas sim com os valores de uma época, portanto, não podemos fugir dessa regra. Os antigos acreditavam que quem não praticasse tais ritos, ficaria à mercê do mal", conta José Rubens Incao, pesquisador e diretor da Biblioteca Infantil Municipal. Segundo ele, as superstições fazem parte de um ciclo que começa desde cedo na vida do ser humano. "Desde a menina que não pode lavar o cabelo quando está menstruada, nem fazer bolo porque a receita desanda, até o casamento que também é um evento cheio de grandes superstições como o noivo não ver o vestido da noiva antes da cerimônia, enfim.""
Tipos
As superstições e crendices se classificam em gerais, regionais, locais e profissionais. Exemplo das gerais é quando desejamos afugentar visitas inconvenientes. Joga-se sal no fogo, coloca vassoura virada atrás da porta, abrir tesoura em cruz, etc. Entre as regionais e locais, podemos citar as simpatias realizadas para conquistar a pessoa amada, como pisar no cigarro jogado pelo rapaz para fazê-lo casar, ou as praticadas em época de Natal e Ano Novo, como não comer na ceia nenhum animal que cisque, como a galinha. De acordo com o autor Rossini Tavares de Lima, em seu livro "Escola de Folclore Brasil" de 1979, em Votorantim costumava-se praticar algumas simpatias regionais.
""Para espantar assombração, fazer três cruzes na encruzilhada; para pegar mais fácil, roubar muda de flor; para o marido parar mais em casa, passar sua camisa no avesso; para dormir bem, colocar saquinho de farinha debaixo do travesseiro". Já as de cunho profissional consistem em superstições relacionadas ao trabalho, como a dos trabalhadores de minas subterrâneas que não admitem a presença de mulheres e padres no local de trabalho, com a ideia de que traz azar. "Em 1973, os trabalhadores do metrô de São Paulo estiveram na iminência de abandonar o serviço, caso se insistisse em levar padres ou mulheres aos túneis", comenta Incao.
De onde vem
De acordo com o antropólogo e professor Luiz Marins, as superstições têm origem no início da civilização humana. "Mitos e ritos são próprios do ser humano. São remanescentes de uma visão mágica do mundo em que se acredita que fatores sobrenaturais podiam interferir diretamente no cotidiano. Essas crendices e superstições, transmitidos através das gerações, em especial entre as camadas populares, foram mantidas à margem do conhecimento científico", explica.
A superstição é uma crença que não tem um fundamento lógico. Mas por que será que as pessoas continuam acreditando nelas? Segundo Marins, para quem acredita, seu feitio sempre será verdade. "Embora a ciência nada possa comprovar, a fé das pessoas pode muito para elas próprias. Elas acabam dando certo não somente por si, mas pela crença de que funcionam, acabam fazendo com que possíveis coincidências sejam tratadas como evidências. O perigo está em ficar dependente desse pensamento e passar a viver de forma irracional", conclui. E já diria Aluísio de Almeida, uma coisa difícil é dizer onde acaba a religião e começa a superstição. A consciência de cada um é diferente. (Mariela Almeida)