CULTURA

Pop com sotaque paraense



Maíra Fernandes
maira.fernandes@ jcruzeiro.com.br

Tanto a cultura tradicional como a pop explicam o nome do álbum da cantora paraense Aíla, Trelelê. A ideia é que a expressão que batiza o trabalho remeta tanto à reação na boca causada pela típica erva paraense, o Jambu, como aos modelos modernos de relacionamentos rápidos. Do mesmo modo, essas duas referências norteiam a estética sonora desse que é o disco de lançamento da cantora, e mistura aos ritmos tradicionais do Pará como os caribenhos, o carimbó, guitarrada e zuk, as influências mais pops dos seus contemporâneos, como Felipe Cordeiro. "São muitas as referências que me acompanham desde a infância, como os ritmos caribenhos que ouvíamos nas rádios, a Jovem Guarda e o brega da década de 1970 e 1980 da minha mãe, mas tudo com sotaque paraense. Misturei tudo e dei esse nome pois não queria que o álbum fosse rotulado como sendo brega, ou carimbó, ou outro ritmo. Queria que ficasse nessa indecisão: ele é pop? guitarradas?", explica a cantora, que já dividiu palco com um ícone da cultura paraense, Dona Onete, e também com o fenômeno pop da região, Gaby Amarantos, e começa a incursão pelos interiores do Estado de São Paulo com apresentação gratuita hoje, no Sesc Sorocaba.

No repertório, Aíla apresenta as 12 composições desse álbum de estreia, lançado no ano passado, mas adianta: há grandes chances de testar as canções do próximo trabalho, que deve sair ainda este ano. "Esse primeiro trabalho não foi muito pensado mercadologicamente, fiz meio de coração, com compositores da Amazônia, Roraima, que eu já cantava. Quando reuni, já tinha mais de 500 composições, então escolhi 12 faixas que mais tinham a ver como minha estética como intérprete", aponta a cantora.

A estética da cantora foi também explorada nas fotos de divulgação e capa do álbum, com todas as cores vibrantes que, segundo ela, caracterizam o espírito paraense.

No show de hoje, Aíla vem acompanhada de sua banda que já se divide em meio-paulista e meio-paraense. "Viemos para cá para poder circular o nosso show por aqui, mostrar a música do Pará, ouvir a música daqui. Está sendo uma troca ótima", considera ela, que espera apresentar o trabalho em Sorocaba utilizando, ainda, projeções que realiza em seus shows, mas, até a tarde de ontem, não sabia se seria viável ou não para o espaço em que será a apresentação.

Na moda

Depois de participar de festivais e correr parte do país apresentando o seu trabalho, Aíla aportou em solos paulistanos no começo deste mês para dar conta de espalhar a cultura musical paraense pelos interiores do Estado de São Paulo, aproveitando a boa recepção que o álbum teve em outros localidades. "Fiquei muito feliz com esse primeiro trabalho, o disco chegou em muitos locais, talvez por conta do clipe que foi lançado pela MTV. Nos lugares que eu chegava como Fortaleza, Manaus, as pessoas já sabiam o repertório do disco, cantavam juntas e pediam as músicas", comemora Aíla, que espera uma boa recepção também em Sorocaba.

Sobre o alcance do trabalho que acabou superando os limites geográficos e culturais, a cantora acredita que o segredo está nessa mistura proposta com o álbum, que resulta em um disco "dançante". "É um trabalho bem fácil de digerir, é um pop bem dançante, e as pessoas se identificam com ele. Dizem, hoje, que o Pará está na moda, mas, para nós, o Pará sempre produziu esses artistas", pontua Aíla, que não acredita no rótulo de música daqui ou música dali. "Temos, no Pará, muita influência latina, mas, ao mesmo tempo, tem um mistura com a música brasileira. Então não é só música paraense, mas é musica brasileira feita no Pará", defende.

Para a cantora, o atual momento é importante pois há mais possibilidade de se conhecer um Brasil até então desconhecido, tanto para quem está no topo do mapa, como para quem está nas bordas dele. "Acho que, daqui para frente, não precisamos mais descriminar se fazemos música paraense ou brasileira produzida no Pará, as pessoas saberão", é o que espera já como recepção do seu próximo trabalho que, além de canções de amigos, contará com suas próprias composições.

Sobre a artista

Influenciada pelo avô, Aíla teve referências musicais desde Tom Jobim a Villa Lobos, além de clássicos da Jovem Guarda, os bregas romantizados de Odair José, Osvaldo Bezerra e Alípio Martins, e, ainda, o rock psicodélico da Tropicália.

Dos 11 aos 13 anos, estudou Musicalização e Teoria Musical na Escola de Música da UFPA. Na adolescência, participou e venceu festivais escolares, interpretando músicas próprias. Nessa fase, tinha como ídolos Cazuza, Marisa Monte, Arnaldo Antunes, e outros.

Em 2008, a jovem iniciou sua carreira musical. Mais tarde conheceu o músico Felipe Cordeiro, com o qual participou de diversos festivais, rendendo o Prêmio de Melhor Intérprete em dois deles. Dessa parceria também surgiu o CD Trelelê, no qual Felipe atua como produtor musical.

Serviço

O show de Aíla acontece hoje, a partir das 20h, no Espaço Convivência do Sesc. A indicação é 14 anos e a entrada é gratuita. O Sesc fica na avenida Barão de Piratininga, 555, Jardim Faculdade.