CADERNO DE DOMINGO

Museus do crime preservam histórias que abalaram o País


Adriane Mendes
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A cidade de São Paulo possui dois museus que atraem visitantes não por terem em seu acervo obras de arte, mas sim armas, objetos e fotos de crimes e criminosos que ficaram na memória não apenas paulistana, mas que ganharam também notoriedade nacional. Quem se interessa por narrativas macabras e tristes por serem reais e não obras de ficção, deve conhecer o Museu e Arquivo Criminal "Milton Bednarski", e o Museu da Polícia Civil. Em ambos a entrada é franca.
O primeiro foi idealizado pelo policial civil e advogado criminalista Milton Bednarski, especialista em Direito Penal. Na inviabilidade de montar um museu no castelinho da rua Apa, no cruzamento com a avenida São João, onde em 1937 um crime dizimou uma tradicional família, a criação do museu se tornou possível em 1997, a partir da implantação da Associação dos Investigadores de Polícia do Estado de São Paulo (Aipesp), que cedeu um espaço em suas dependências.
Lá, o visitante terá acesso a informações de crimes como do coronel francês Raoul Negrel, que veio ao Brasil para instruir a Força Pública, atual Polícia Militar, e que em 11 de junho de 1906 foi morto pelo sargento José Rodrigues de Melo, que tinha participado da Campanha dos Canudos. O criminoso morreu em 1944, de infarto, quando caminhava pela avenida Vergueiro, em São Paulo.
Outros casos, que se repetem no Museu da Polícia Civil, também fazem parte do acervo, mas nada pode ser fotografado. De acordo com seu curador, Bednarski, tal proibição se justifica pelo fato de que existem familiares de vítimas ou de acusados que podem reclamar por suas exposições. Alguns dos criminosos também podem estar vivos, como Moacir Ramos de Oliveira, vulgo Cabelo, autor de dezenas de crimes com faca no Bom Retiro, atualmente de cadeira de rodas, sem uma das pernas. Entre seus crimes, parte deles de assalto, Cabelo matou a amásia Marlene Pé de Chumbo, arrancando seus olhos com galhos de árvore.
O Museu e Arquivo Criminal "Milton Bednarski" fica na avenida Cásper Líbero, 535, no bairro da Luz, e funciona de segunda a sexta-feira, em horário comercial. A entrada é gratuita.

Museu da Polícia Civil

Esse museu tem como objetivo preservar a história da Polícia Civil, promover a divulgação pública do seu acervo formado por documentos, instrumentos e objetos policiais e relacionados aos crimes, bem como sua utilização em apoio à formação e aperfeiçoamento de policiais. Seus principais visitantes são policiais em formação e estudantes de Direito.
Logo na entrada, o visitante se depara com uma mesa e um manequim de homem simulando um delegado de polícia em atendimento, e depois, além de ver fotos e objetos dos crimes que marcaram a memória paulistana, é possível também conhecer as diferenças de crimes como esgorjamento (ferimento de baixo para cima, sem arrancar a cabeça) e esganadura, por exemplo. Técnicas de atendimentos também são expostas, e para os policiais em formação, até mesmo cenários de crimes como estupros e homicídios, são mantidos no local. Porém, para o visitante, uma das peças mais chamativas é o baú original usado no famoso crime da mala de 1928.
O Museu da Polícia Civil funciona na Academia de Polícia "Dr. Coriolano Nogueira Cobra", na praça Professor Reinaldo Porchat, 219, na Cidade Universitária, no bairro do Butantã, de terça a sexta-feira, das 13h às 17h. A entrada é franca, mas menores de 15 anos só entram mediante acompanhamento de responsável, e não é permitida a entrada de pessoas trajando bermudas ou qualquer outro traje incompatível com o decoro da instituição. Fotografar e filmar também não é permitido. e visitação em grupo precisa ser agendada previamente. Mais informações pelo telefone (11) 3468-3360.