CULTURA

Dorival Caymmi em arranjos modernos


Felipe Shikama
felipe.shikama @jcruzeiro.com.br
 
O ano de 2014 tem sido bastante agitado para o cantor e compositor Danilo Caymmi. Filho do baiano Dorival Caymmi, um dos maiores expoentes da música popular brasileira, ele se desdobra para encontrar um espaço na agenda e se envolver com as inúmeras homenagens alusivas ao centenário de seu pai. Uma delas ocorre hoje, às 20h, no teatro do Sesc Sorocaba. Os ingressos estão esgotados.
Convidado do grupo Projeto Música Viva, formado por músicos de Sorocaba, Danilo vai revisitar algumas das mais de 120 canções deixadas pelo pai como Você já foi à Bahia, Só louco e Nem eu. Com novos arranjos, todos escritos pelo músico sorocabano Guilherme Fanti, o repertório do show também contará com canções do próprio Danilo e do irmão Dori Caymmi.
"Na medida do possível eu tenho atendido todas as solicitações para participar de vários eventos que estão acontecendo em memória do meu pai. Não só eu, mas toda família está empenhada nesse objetivo, que é o de manter vivo o legado musical deixado por ele, que é um ícone da música brasileira", explica Danilo, que além de shows especiais com os irmãos (Dori e Nana Caymmi), tem participado de sessões de relançamento de uma biografia escrita pela jornalista e neta de Dorival, Stella Caymmi.
O encontro inédito entre Danilo Caymmi e o Projeto Música Viva faz parte da série Ô de casa, do Sesc Sorocaba, no qual músicos locais têm a oportunidade de dividir o palco com artistas de renome nacional.
O Projeto Música Viva nasceu no início de 2013 com o objetivo de apresentar versões instrumentais, com novos arranjos, de canções conhecidas da MPB. A escolha de obras de Dorival foi feita ao acaso, ou melhor, "apenas" por sua qualidade estética. "A homenagem ao centenário do Dorival Caymmi não foi premeditada. Nós começamos arranjando duas músicas bonitas dele, mas nem sabíamos que estávamos perto do centenário. Foi uma feliz coincidência. Com o tempo, passamos a arranjar músicas do Dori e do Danilo porque além das canções do Dorival Caymmi outro legado importante são os próprios filhos, que também têm uma história na música brasileira. A Nana (Caymmi) também é uma grande intérprete", afirma Guilherme Fanti, arranjador e guitarrista do grupo.
Além de Fanti, o Projeto Música Viva é formado por Léo Ferrarini (piano), Felipe Brisola (baixo) e Fúlvio Moraes (bateria). O show de hoje à noite também terá participação da violinista Michele Ortega.
Guilherme Fanti reconhece o desafio de criar novos arranjos para obras consagradas de Caymmi. "É uma responsabilidade grande criar algo em cima de uma música que já é bonita com toda a sua simplicidade. É preciso um cuidado enorme para não perder a essência das composições que foram escritas de forma singela e de coração", complementa.
Danilo Caymmi, por sua vez, não se incomoda em ver as suas obras e as do seu pai com nova roupagem e considera a iniciativa "bem-vinda". "Gosto da liberdade deles. Acho que a música tem que ter essa flexibilidade de criação mesmo, como o meu pai tinha. Ele sempre esteve à frente do tempo dele. E eu acho que ele ficaria feliz em ouvir esses arranjos mais modernos", opina.
Memória viva
Apesar da série de homenagens alusivas ao centenário de Caymmi - inclusive no Carnaval paulistano -, Danilo conta que muitas das atividades só foram possíveis graças ao esforço e o interesse da própria família. "Depende de muito esforço, senão a coisa não acontece. Mesmo sendo Dorival Caymmi", admite.
O artista afirma que a dedicação dele e dos irmãos para manter em evidência a obra do pai foi baseada em experiências negativas como a discreta passagem do centenário de outros importantes artistas brasileiros como Ari Barroso, Noel Rosa e Pixinguinha. "Não fosse um ou outro evento que teve, o centenário deles teria passado quase em branco. É um absurdo eles caíram no ostracismo", lamenta.
Para manter viva a memória do pai - e de outros artistas não menos importantes como Tom Jobim e Baden Powell - Danilo aposta suas fichas em uma mudança cultural a partir das novas gerações. "Minha menina dos olhos hoje são as palestras em atividades de formação dos professores, para que eles motivem as crianças a pesquisar mais sobre a obra desses compositores. A solução está na educação e muitas atividades podem ser feitas", afirma o artista que, entre palestras e shows, também acha tempo para finalizar um CD com releituras da obra do pai.