CADERNO DE DOMINGO

Oberdan Cattani, ídolo eterno do Verdão



Rafaela Gonçalves
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A história do Palmeiras é repleta de glórias e de títulos. O clube, que já foi considerado campeão do século XX e que foi o único time que representou a seleção brasileira -- em 1965, na vitória por 3 a 0 diante do Uruguai --, vive hoje uma das suas piores fases. Eliminações para times considerados pequenos, vexames, rebaixamentos e muitas derrotas são lamentados pelos palmeirenses.
A pior perda dos últimos tempos do Palmeiras, porém, não foi apenas dentro de campo. O Palestra Itália perdeu um de seus maiores ídolos: o sorocabano Oberdan Cattani. O ex-goleiro do Palestra Itália morreu aos 95 anos, no dia 20 de junho, durante a Copa do Mundo.
Considerado um dos jogadores que mais teve identidade com o clube -- pela paixão declarada ao time; pelos anos de dedicação e de conquistas; e pelo casamento realizado dentro do clube --, a morte de Oberdan, meses antes do centenário do Palmeiras, foi muito lamentada por todos. "Ele dizia que aqui (na sua residência) era o lar dele, mas que o Palestra era a casa dele", disse a filha do ex-goleiro, Walkyria Cattani Ivanaskas.

A admiração pelo goleiro das mãos gigantes comoveu uma multidão de palmeirenses. "O velório dele foi no Palestra Itália. Ele foi velado lá e muitos torcedores foram se despedir dele. Levaram bandeiras, foram uniformizados. Parecia dia de jogo", contou Walkyria.
Por muito pouco, Oberdan não pôde ver a inauguração do seu busto no clube. O evento estava previsto para ser realizado um dia antes da sua morte. Mas como Oberdan estava hospitalizado, a família pediu o adiamento e ele ainda não foi realizado.
Pelo estatuto do Palmeiras, apenas jogadores que nunca enfrentaram o clube teriam direito a busto no clube. Oberdan, teve uma breve passagem pelo Juventus -- por conta de um desentendimento com dirigentes -- e jogou uma partida contra o Verdão, por isso, nunca teve a homenagem, o que era motivo de discórdia entre palmeirenses, em razão de seu amor, dedicação e também os feitos pelo clube. "Pedimos para que eles façam uma inauguração só para o busto do meu pai. Separada dos demais. Ele merece algo só para ele", disse a filha.

De Sorocaba para o mundo

Oberdan nasceu e cresceu em Sorocaba, onde, ainda criança, foi entregador de jornais do Cruzeiro do Sul e depois trabalhou em uma fábrica de bebidas do seu pai. Em seguida, virou caminhoneiro e, em uma das viagens a São Paulo, Oberdan fez um teste no Palestra Itália, junto com outros 13 candidatos. Havia apenas uma vaga e Oberdan foi selecionado.
"Apesar do tempo que ficou longe, ele (Oberdan) nunca se esqueceu de Sorocaba. Sempre íamos visitar parentes e toda vez que passávamos por Sorocaba, parávamos na capela de João de Camargo, que ele adorava", relembrou a filha.
De 1941 a 1954, Oberdan dedicou-se a defender a meta do Palestra Itália. E fez isso muito bem. Oberdan participou da campanha que culminou com o título da Taça Rio de 1951, torneio que recentemente foi reconhecido pela Fifa como o primeiro campeonato mundial.
Considerado o melhor goleiro da década de 40, Oberdan só não ganhou mais destaque nacional por conta da Segunda Guerra Mundial, que o impediu de disputar uma Copa do Mundo.
E foi por conta da guerra que Oberdan participou da famosa Arrancada Heroica em 1942. Naquele ano, na final do Campeonato Paulista, o Palestra Itália foi obrigado a mudar de nome para Palmeiras, uma exigência feita pelo governo de Getúlio Vargas, após o Brasil entrar em guerra contra Itália, Alemanha e Japão. Oberdan foi um dos jogadores que entrou em campo segurando uma das pontas da bandeira do Brasil. O Palmeiras venceu o São Paulo por 3 a 1 e conquistou seu primeiro título com o novo nome.