ELEIÇÕES

Skaf defende gestão eficiente dos recursos





Rosimeire Silva
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Aos 59 anos, Paulo Skaf (PMDB) concorre pela segunda vez ao governo do Estado de São Paulo, agora pela coligação São Paulo Quer o Melhor, que reúne além do PMDB, o Pros, PSD, PP, PDT. Na eleição passada, quando alcançou 4,5% dos votos, ele saiu pelo PSB. Empresário do setor têxtil, Skaf ganhou projeção por atuar em entidades representativas do segmento, como a Associação Brasileira da Indústria Têxtil (Abit). Desde 2004 responde como presidente da Federação e do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp e Ciesp), cargo que se licenciou para concorrer às eleições.
No segundo lugar das intenções de votos, com 23% do eleitorado, segundo a última pesquisa Ibope, Skaf se coloca como uma opção de mudança do poder no Estado, que há 20 anos está nas mãos do PSDB, e não poupa críticas ao atual governo. Com um discurso voltado principalmente para mudanças na área da educação, com a implantação da escola em tempo integral, o candidato do PMDB garante que não faltará recursos para a realização de suas propostas, a partir de uma gestão eficiente dos recursos do orçamento. Leia abaixo a íntegra da entrevista que Paulo Skaf concedeu com exclusividade ao Cruzeiro do Sul, durante visita à redação do jornal.
Jornal Cruzeiro do Sul - Depois de uma trajetória consolidada como empresário, pela segunda vez o senhor concorre ao governo do Estado. O que o motivou a sair da iniciativa privada e partir para a carreira política e já como candidato a governador?
Paulo Skaf - A exemplo de milhões de brasileiros, durante minha vida toda reclamei dos políticos, da falta de eficiência da gestão pública e de qualidade dos serviços públicos. Um dia cheguei à conclusão de que não adianta ficar de fora só reclamando, você deve entrar e fazer de um jeito diferente. Foi isso que me encorajou a me filiar pela primeira vez há cinco anos num partido político. Eu não sou um político profissional da vida toda, pelo contrário, eu tive uma vida no campo empresarial e nos últimos dez anos fui presidente da Fiesp, do Ciesp, do Sesi, do Senai, do Instituto Roberto Simonsen, o que me deu uma visão macro das coisas. Eu também tinha uma reserva de entrar na política pela imagem negativa que se tem. Daí levei em conta outra reflexão, do ex-vice-presidente da República, José Alencar, que me respondeu uma vez quando lhe perguntei o que o estimulou a entrar na política e ele me disse que quando você tem um tanque de veneno, tem que colocar água boa para diluir. Isso me fez decidir me lançar candidato a governador de São Paulo.
JCS - O senhor foi criticado pela ampla coligação partidária e por se aliar a nomes como de Paulo Maluf, que poderia comprometer a composição de um futuro governo, caso seja eleito. O que o senhor tem a dizer sobre isso?
Skaf - Primeiro que isso não é verdade. O Maluf apoiou o Padilha (Alexandre Padilha, candidato do PT). Depois o PP fez uma reunião e tomou a decisão de que não queria a apoiar o PT. O Maluf deu até um entrevista dizendo que o presidente também é presidido. Em segundo lugar, no meu governo ninguém vai indicar ninguém. Quem vai governar serei eu, quem vai nomear a minha equipe e meus secretários serei eu e o que vai regrar isso serão pessoas certas nos lugares certos. Até o presente momento eu não tenho nenhum compromisso com nenhum desses partidos, nem no próprio PMDB para cargo nenhum. Nós vamos fazer de forma diferente. A começar por não assumir compromissos que depois comprometam a gestão. Uma coisa é gestão e outra coisa é política. Quando se mistura política com gestão não dá bom resultado.
JCS - Quais as políticas que o senhor pretende desenvolver voltadas ao interior do Estado?
Skaf - O interior de São Paulo tem problemas comuns em várias áreas. Por exemplo, na educação. Nas escolas do Estado existem 4,3 milhões de alunos. Lamentavelmente as escolas públicas são muito ruins. Existe a tal da aprovação automática, os alunos passam de ano sem aprender, os professores não são respeitados e não são valorizados. Na minha opinião, a forma de dar oportunidades iguais para as pessoas é através da educação. A forma de obter autoestima, a verdadeira independência, é através do conhecimento. Nós faremos uma grande revolução na educação do Estado. Eu pretendo, a partir de 2016, iniciar o ensino em tempo integral nas escolas. Durante 2015, vamos reestruturar algumas escolas para receber 70 mil dos 120 mil alunos que estudam no ensino fundamental do Estado. No segundo ano vamos chegar a 90 mil e no terceiro ano a110 mil alunos. No final do meu mandato, eu vou deixar todos os alunos dos quatro primeiros anos do ensino fundamental em tempo integral, sem progressão continuada e aprovação automática. Vou deixar projetado um programa para os próximos dez anos para que todo ano se inicie uma nova turma. Para o ensino médio, no contraperíodo, haverá a possibilidade de se fazer um curso técnico nas Etecs (Escolas Técnicas Estaduais). Onde não houver uma Etec, mas houver um Senai ou Senac, vamos fazer parcerias.
JCS - Como o senhor pretende implantar o ensino integral em toda a rede estadual sem comprometer o orçamento do Estado?
Skaf - O orçamento para educação básica é de R$ 30 bilhões. Como esse é um programa para dez anos, o volume é de R$ 300 bilhões ao longo desse período. A reestrutura em toda a rede deve custar em torno de R$ 16 bilhões. Além do que nós vamos fazer uma gestão eficiente para que tenhamos prioridade de investimentos na educação, saúde e segurança. Não vou fazer rodoanel com dinheiro do orçamento, mas dando concessões à iniciativa privada. Não vou fazer metrôs com dinheiro do orçamento, vou buscar recursos privados através de PPPs (Parceria Público-Privadas). Vamos usar toda a criatividade e todos os mecanismos de forma a ter o orçamento do Estado direcionado ao investimento nas pessoas. Se preciso vou aumentar o orçamento para a educação. O orçamento geral do Estado, que é de cerca de R$ 200 bilhões, tem uma sobra de cerca de R$ 20 bilhões para investimentos. Se precisar injetar na educação mais R$ 1 bilhão ou R$ 3 bilhões, eu vou fazer. Não vai faltar dinheiro para a educação. Porque não há nada pior que esse Governo que está comprometendo uma geração inteira dando uma escola de má qualidade. Além da educação, nós temos também um problema sério na segurança, na saúde, no transporte público e na infraestrutura. Eu vou trabalhar em todas as áreas. Na saúde, por exemplo, serão construídas mais AMEs (Ambulatórios Médicos de Especialidades). Vamos executar o novo hospital de Sorocaba e reestruturar a gestão da saúde. Em Sorocaba, por exemplo, tem um hospital que tem problemas de gestão. Nós vamos fazer com que esse hospital funcione bem e modernizá-lo. Nós temos projeto para construir mais dez hospitais e 52 AMEs no Estado.
JCS - Sorocaba foi instituída recentemente como a quinta região metropolitana do Estado. Quais os projetos que o senhor pretende direcionar a essa região?
Skaf - Em todos os municípios nós temos que ter escola do Estado de qualidade para as crianças, um serviço de saúde adequado, segurança pública e infraestrutura. No caso das regiões metropolitanas, temos que interligar Sorocaba, Campinas, São José dos Campos, Santos e São Paulo. Fazer essa interligação com os aeroportos, com trem de passageiros, que é um transporte econômico e limpo. Temos também a hidrovia. É necessário que se invista em novas eclusas, ampliar as pontes e as passagens que são estreitas. O aeroporto de Sorocaba, pela proximidade com São Paulo, pode não ter grande utilidade em viagens para a Capital, mas ele pode ser uma base para outros cantos do Estado.
JCS - A violência urbana tem migrado para o interior do Estado, como é o caso da região de Sorocaba. Quais são as suas propostas para reduzir a criminalidade?
Skaf - Em primeiro lugar eu vou comandar as nossas polícias. Não vou ser um governador invisível. Serei um governador que estará presente para cobrar o policial, mas para apoiá-lo e estimulá-lo também. Depois temos que fazer com que as polícias estejam bem equipadas. Uma viatura da polícia militar, por exemplo, tem que ter todo o equipamento para revolver o problema, como medidor de barulho, bafômetro e câmeras no colete. A polícia militar tem que estar presente na rua para atender a população e não dando dissabor ao policial que ao invés de estar operando tem que responder uma burocracia, aguardar na delegacia a feitura de ocorrência. Por outro lado, a polícia civil, que tem o objetivo da investigação, praticamente não investiga porque os nossos delegados também acabam perdendo muito tempo na burocracia. Como governador vou acabar com essa burocracia. Quero que as viaturas tenham um tablet, mas não como hoje que só serve para checar carteira de identidade e a placa de carro. Um tablet em que o policial militar passe o relatório da ocorrência para a polícia civil e que ele possa continuar na rua operando, defendendo e protegendo a população. Que sejam informatizadas as delegacias para que a polícia civil possa fazer a sua missão, que é investigar. Vamos também bater com muita força no crack. A verdade é que o crack não é importado, ele é produzido em São Paulo, como subproduto da cocaína. Vamos combater com muita força e coragem o crime organizado. Comigo não tem acordo com bandido. Nós temos tecnologias que podem ser integradas para ter o controle da segurança pública no Estado. Esse é o nosso objetivo. Mas começando, sem dúvida, pelos policiais. Quando a tropa está desestimulada, desanimada e insegura, não ganha guerra nenhuma. E a segurança pública em São Paulo é uma guerra. A cada hora uma pessoa é morta no Estado, é baleada ou é esfaqueada. A cada hora uma mulher é estuprada, 300 pessoas são roubadas ou furtadas. O roubo de automóveis e de carga é uma vergonha. Numa situação como essa há a necessidade de um enfrentamento pra valer. E você não vai contar com as suas polícias se a tropa tiver desestimulada, desanimada e eu diria até abandonada. Eu sinto que o governador fica muito distante. Tem que estar próximo das polícias para cobrar, apurar e estimular. É isso o que eu vou fazer.
JCS - Como empresário, o senhor sempre defendeu a redução da carga tributária. Quais as ações efetivas que o senhor pretende implantar para redução de encargos, sem prejudicar o orçamento do Estado?
Skaf - Em primeiro lugar eu não vou aumentar impostos porque o orçamento de São Paulo já conta com R$ 200 bilhões. Eu vou procurar dar uma boa gestão a esse dinheiro. Com uma boa gestão você faz muita coisa. A pessoa que é candidato aqui é a mesma que durante dez anos presidiu setores produtivos, o Sesi e o Senai, e como princípio não sou a favor de aumentar impostos, mas de melhorar a qualidade de gestão e do serviço público. Quando você tem uma boa gestão e planejamento você tem o controle e diminui a corrupção.
JCS - O senhor não considera ser possível a redução da carga tributária?
Skaf - Eu já anunciei a isenção para os hospitais filantrópicos que pagam ICMS nas suas compras, a exemplo dos hospitais governamentais. Também vou rever a substituição tributária, que um método em que é cobrado o imposto dos setores produtivos, mas que penaliza e onera muitos setores. Quando você tem poucos produtores e clientes muito pulverizados funciona bem. É o caso, por exemplo, de cigarros e bebidas. Agora quando têm setores como a construção civil que têm centenas ou milhares de fornecedores e outro tanto de distribuidores, implantar a substituição tributária inferniza e atrapalha todo mundo. E isso foi implantado pelo governo tucano. Nós vamos fazer uma revisão dos setores que estiverem sendo atrapalhados pelo Estado. O espírito do Poupatempo tem que ser o espírito do Estado, tem que poupar o tempo e respeitar as pessoas. Vamos investir em tecnologia, numa gestão com pessoas competentes e buscar um resultado que seja o bom atendimento à população, mas sem cobrar mais impostos. Pelo contrário. No momento que nós sentirmos que deu para atender os muitos problemas que estão represados, o meu princípio é de, se possível, reduzir os impostos.
JCS - As empresas, especialmente as indústrias, têm reduzido postos de trabalho, inclusive na região de Sorocaba. Quais as ações que o senhor pretende desenvolver para fomentar a economia e consequentemente o nível de emprego?
Skaf - São Paulo tem perdido muito na chamada guerra fiscal. Você resolve a guerra fiscal com uma resolução do Senado Federal. Quando você passa o ICMS da origem para o destino acaba com esse problema, pois tira o instrumento que o Estado tem de dar incentivo. Como governador, o mais rapidamente possível eu vou usar da minha força política para levar ao Senado o fim da guerra fiscal. Isso vai revitalizar a indústria do Estado de São Paulo, atraindo mais investimentos. Vou investir pesadamente na educação e formação profissional, não só nas Etecs e Fatecs, modernizando e colocando equipamentos de última geração e laboratórios, mas vou firmar convênios com todas as entidades que formam a mão de obra, como o Senai, Senac e Senar. Eu vou transformar São Paulo num canteiro de obras. Nós temos que aumentar e duplicar estradas. Aqui mesmo, na rodovia João Leme dos Santos, há quanto tempo a obra está parada? Meu governo não vai ter obra parada. Se a obra não serve não se faz. Se vai fazer tem que ter velocidade. Com isso, vai ter geração de emprego, de riqueza e aumento de consumo. Vamos fazer um trabalho em São Paulo para dar oportunidade às pessoas e, com isso, mudar radicalmente essa situação de dificuldade de emprego. Quero dar atenção às cidades pequenas, com educação de qualidade e, acima de tudo, o fortalecimento do setor agrícola. As pequenas cidades vivem muito ainda do setor agrícola. Com esse fortalecimento, resgatando os nossos institutos de pesquisa, tendo novas sementes, combate à praga, novas tecnologias, isso vai fortalecer a agricultura de São Paulo e os pequenos municípios. Quando a produção estiver dando resultado, o comércio cresce e começa um círculo virtuoso de oportunidades.
JCS - Segundo a última pesquisa Ibope, o senhor atingiu 20% das intenções de voto, mas seu adversário do PSDB continua na liderança, com 50%. Qual a estratégia do setor nessa reta final da campanha para chegar ao segundo turno?
Skaf - O atual governador é conhecido por todos. Ele está há quarenta anos na política, é um político profissional. Eu não. Muitas pessoas não me conheciam e a campanha vai fazendo com que elas me conheçam e passem a perceber que sou uma opção nova, um novo caminho. As pessoas estão cansadas de PT e PSDB. O PSDB há vinte anos governa São Paulo. Com essa vontade de renovação, na medida que as pessoas percebem que é uma opção nova, a resposta é rápida. A campanha começa com o horário eleitoral na televisão e rádio e na primeira semana, pelo Ibope, nós crescemos nove pontos.