População de Itu continua sem água
Giuliano Bonamim
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As medidas adotadas pela Prefeitura de Itu para minimizar a falta de água no município não surtiram efeito prático aos moradores da cidade. As torneiras permanecem secas e a população continua a colocar em prática o tão conhecido jeitinho brasileiro para conseguir tomar banho, fazer comida, lavar a roupa e limpar a casa.
Nesta semana, a concessionária Águas de Itu divulgou que os níveis dos reservatórios de água estão abaixo dos 2%. A preocupação é tanta que a empresa adotou, desde quarta-feira, um novo esquema de racionamento na cidade.
A ausência de água na torneira já virou rotina na borracharia de Felipe Pires, 25 anos, situada no bairro Candelária. "Há duas semanas eu abro o registro e só sai vento, mesmo assim a conta para pagar vem alta", diz.
A seca tem influenciado no cotidiano da borracharia, que usa a água em uma banheira para localizar os furos nos pneus dos automóveis dos clientes. "Está tão suja que dá até vergonha, mas não dá para trocar toda hora", relata Pires. "O pior é que vem um pessoal da Prefeitura aqui e fala para eu trocar essa água parada por causa da dengue, mas aqui em Itu está tão seco que nem mosquito tem mais", desabafa.
O também borracheiro Moisés Alves, 41, comparou Itu a um sertão. "Moro no bairro Jardim União, distante uns 15 quilômetros do Centro, e quase não tenho roupa para usar por causa da falta de água", comenta.
Sem água na torneira, uma solução para o morador de Itu é buscar o produto em uma bica situada no bairro Vila Santa Terezinha. Ontem, a empresária Kelly Cristina Mendes, 36, enfrentou uma fila e encheu dois cestos plásticos colocados no porta-malas de um Pálio. "Quando eu chego em casa, tiro a água com um balde pequeno", conta.
De acordo com Kelly, há dez dias não chega água em sua residência localizada no Centro de Itu. "E, quando vem, não consegue subir até a caixa por falta de pressão."
A mesma fila na bica foi enfrentada pela doceira Sueli Calixto, 43, que não lava as roupas sujas há duas semanas. "E limpo a louça com a ajuda de um balde", comenta.
Sueli mora no bairro Vila Nova e faz doces por encomenda para festas de aniversário ou de casamento e, com essa crise de falta d"água, tem encontrado dificuldades em produzir as iguarias. "Por isso preciso vir quase todos os dias aqui na bica, pois sobrevivo com a venda dos doces", ressalta.
A quantidade de pessoas em busca de água na bica é tão grande que atraiu o vendedor Antonio Santana Ferreira, 21, ao local. Nascido em Fortaleza, capital do Ceará, ele comparece diariamente naquele ponto para vender espelhos. "Aqui está mais seco do que no Nordeste e a turma aqui na fila aproveita o tempo para comprar o que eu vendo."
Já o técnico em eletricidade José Lopes Furtado, 71, encheu quatro galões em meia hora e levou aproximadamente 32 litros para casa situada no bairro São Camilo. "Não sai água da torneira de casa há quatro dias. É uma vergonha", desabafa.
O jardineiro Benedito dos Santos, 45, também mora na região central de Itu e está há três dias seguidos sem água. "Estou com medo até de diminuir o trabalho porque as plantas estão secando e, por isso, ninguém contrata o meu serviço."
A intensidade de pessoas em busca de água na bica é tão grande que atraiu o vendedor Antonio Santana Ferreira, 21, ao local. Nascido em Fortaleza, capital do Ceará, ele comparece diariamente naquele ponto para vender espelhos. "Aqui está mais seco do que no Nordeste e a turma aqui na fila aproveita o tempo para comprar o que eu vendo."
Já o técnico em eletricidade José Lopes Furtado, 71, encheu quatro galões em meia hora e levou aproximadamente 32 litros para casa situada no bairro São Camilo. "Não sai água da torneira de casa há quatro dias. É uma vergonha", desabafa.
O jardineiro Benedito dos Santos, 45, também mora na região central de Itu e está há três dias seguidos sem água. "Estou com medo até de diminuir o trabalho porque as plantas estão secando e, por isso, ninguém contrata o meu serviço."
Reclamações continuam
A Secretaria de Assuntos Jurídicos de Itu entrou com um recurso contra uma decisão da Justiça, que obriga a Prefeitura a pagar R$ 200 por domicílio se deixar moradia ou estabelecimento comercial sem água por mais de 48 horas na cidade. Por meio de uma nota, o governo municipal informou que, enquanto aguarda o andamento do processo, não há registro de aplicação da pena.
Conforme a sentença, o usuário prejudicado terá de informar a concessionária da falta de água. Caso não seja atendida de forma imediata, a pessoa deverá fazer a denúncia ao Ministério Público local para a aplicação da multa. Os recursos arrecadados serão destinados a um fundo de direitos coletivos mantido pelo Judiciário.
O certo é que as reclamações têm sido frequentes nos escritórios da Águas de Itu. Em um deles, situado na região central da cidade, houve uma fila de clientes durante a manhã para a apresentação de queixas e reivindicações.
A dona de casa Cleici Aparecida de Oliveira do Carmo, 50 anos, esteve no local com uma conta referente ao mês de agosto no valor de R$ 49,81. "Isso porque tem um dia com água e seis sem água em casa", lamenta.
Cleici disse ter tentado reclamar por meio do telefone, mas a concessionária não a atendeu. "Precisei vir aqui para tentar resolver alguma coisa", conta.
Represa
Um filete de água ainda resta na represa São Miguel, responsável pelo abastecimento de aproximadamente 45 mil pessoas da região do Pirapitingui, em Itu. O solo, antes coberto, agora está exposto e rachado. O ambiente lembra as clássicas imagens da seca nordestina.
Segundo um funcionário da Águas de Itu, a Prefeitura tem captado entre 35 e 40 litros de água por segundo do local. Em situações normais, o número seria de 85 litros por segundo.
Atualmente é possível caminhar por toda a extensão da represa. Em alguns pontos, o filete de água fica tão fino que a travessia da pequena correnteza é feita com um simples passo.
Basta também um olhar mais atento para verificar dois tons de cores do solo nas proximidades da margem da represa. O visual mostra onde a água chegava antes da seca.
A represa fica no interior da Fazenda São Miguel, situada à margem do quilômetro 76 da rodovia Castelo Branco (SP-280). O acesso ao local é restrito e o portão de entrada é fechado com a ajuda de um cadeado.
Essa é uma das sete grandes represas que abastecem Itu. Quatro delas fornecem água para o sistema Rancho Grande, que agrega a área central do município.