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A influência da interação humano-computador no desenvolvimento de software


 

A discussão sobre a influência que os aspectos da Interação Humano-Computador (IHC) possuem na qualidade de um produto vem deixando os limites dos muros acadêmicos para se tornar um tema fortemente discutido no mercado da Tecnologia da Informação. Principalmente dentro do contexto de desenvolvimento de software, tem-se observado um "olhar" especial no que tange a experiência do usuário para com o produto de software.

A área de IHC não é nova. Desde que os computadores foram criados existe uma necessidade de entendimento sobre como possibilitar a comunicação entre os seres humanos e os computadores. Porém, antigamente a filosofia de desenvolvimento de software era focada em criar meios de interação, sem observar de fato quais eram as necessidades do usuário que iria utilizar o produto.

Além da evolução dos computadores pessoais (PC), nos últimos anos tem se observado uma crescente adoção de pequenos dispositivos touchscreen (tablets e smartphones) por diferentes públicos no Brasil. E no compasso desse crescimento, os computadores evoluíram não somente em sua velocidade para realizar tarefas, mas também oferecendo aos seus usuários recursos diferentes (toque, gestos, voz, entre outros) para que a comunicação entre humano e computador possa ser feita de forma mais interativa.

A tecnologia evoluiu, porém o que de fato mudou foram os usuários. Hoje os usuários buscam não somente um lançamento de um computador e/ou novos softwares. Querem que a experiência humano-computador se torne mais agradável e tragam benefícios efetivos a ele. Este novo requisito do usuário tem pressionado as ações das empresas desenvolvedoras de software, fomentando discussões sobre a Experiência do Usuário (UX - User eXperience). UX deve ser encarado como um conceito que engloba todos os aspectos da interação do usuário com a empresa, seus serviços e seus produtos. A área de UX tem como foco atender as expectativas, qualidade da experiência, totalidade das percepções, eficiência, eficácia e satisfação emocional das pessoas. Não são apenas os objetos envolvidos no momento da interação do usuário com um software que importam, mas também os sentimentos que esse momento provocará no usuário durante e após a interação.

O movimento que se vive atualmente é contrário ao que ocorreu quando os computadores foram implantados nas empresas. Naquela época, havia uma preocupação por parte do usuário em aprender como ele deveria se comportar, que códigos ele deveria usar para que ele pudesse interagir com o computador. Era muito comum que os usuários anotassem o passo a passo, com um grande número de tarefas que deveriam realizar para se atingir um determinado objetivo. Hoje essa preocupação está invertida. Os desenvolvedores de software é que devem trabalhar na construção da comunicação, delineando um processo de interação computador-humano que se aproxime das necessidades de seu usuário.

Há uma diversidade de técnicas e metodologias de IHC que podem ser aplicadas para que uma melhor experiência do usuário seja propiciada. Usualmente, o ciclo que se segue é simples e iterativo - pesquisar, idealizar, construir e avaliar - sendo realizado continuamente, até que os requisitos de interação sejam atendidos. Porém, o grande diferencial se encontra no "olhar" de fato para a experiência do usuário. Deve-se observar e coletar dados sobre tarefas e contexto de uso de usuários reais com a finalidade de entender as necessidades do público alvo, buscando melhorias que podem ser realizadas no projeto para resultar na satisfação e atender as expectativas dos usuários finais.

Por fim, a preocupação com a experiência do usuário é um caminho sem volta que deve ser encarado como um importante diferencial competitivo para as empresas desenvolvedoras de software. Um trabalho a ser realizado é formar desenvolvedores de software aptos a adotar e colocar em prática as técnicas e metodologias que potencializem o desenvolvimento de produtos que melhorem a experiência do usuário. Porém, a ação mais importante e fundamental é a implantação de uma cultura dentro da empresa desenvolvedora de software que permita que seus colaboradores compreendam a importância que o uso das técnicas de IHC agregam ao processo de desenvolvimento de software, e consequentemente à experiência do usuário com o produto.

Profa. Dra. Luciana Martinez Zaina - Departamento de Computação (DComp) - Centro de Ciências em Gestão e Tecnologia - UFSCar - Sorocaba

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