Cultivo de cogumelo vira alternativa para os produtores rurais
Amilton Lourenço
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O crescimento do número de restaurantes japoneses e o interesse por outras tipos de culinárias têm motivado produtores da região de Sorocaba a apostarem cada vez mais na produção de cogumelos. A cultura, antes restrita a produção de champignon para estrogonofe e ingrediente para molho madeira, agora se expandiu, abrindo espaço para outras variedades como o shimeji e shitake.
"Somos pequenos ainda e não conseguimos atender a demanda. Nosso objetivo é aumentar a capacidade de produção para suprir o varejo e restaurantes de Sorocaba", explica o casal Amarildo e Josiane Mendes, que há seis anos resolveu deixar outras atividades profissionais para se dedicar à produção e comercialização de cogumelos.
A Cogumelos Mendes fica em Ibiúna, mas possui uma unidade de distribuição para o varejo na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) de Sorocaba. "Foi por acaso que entramos no negócio. Meu marido se perdeu na área rural de Ibiúna e acabou encontrando uma propriedade em que havia cultivo de champignon. Ele buscou informações com o produtor e resolvemos iniciar o negócio. Aos poucos, buscamos informações e acompanhamos a evolução do mercado. Mudamos, começamos a produzir shimeji. Atualmente, estamos desenvolvendo também o shitake", explica Josiane.
Ela admite que a produção de cogumelos não é simples, mas o mercado em expansão motiva a investir no negócio. "Para desenvolver o substrato sem problemas é complicado. A produção também é outro desafio. Por isso investimos em câmara fria para garantir maior produtividade e qualidade do produto".
Atualmente, o casal colhe aproximadamente 300 quilos de shimeji por mês. A produção que é comercializada em Sorocaba é vendida na Ceagesp e para alguns restaurantes da cidade.
Outro agricultor que decidiu apostar em cogumelos foi Tetsuro Ishihara, de Piedade. Há um ano, o produtor que cultivava hortaliças resolveu mudar o foco. "O mercado de verduras é muito concorrido e nem sempre o valor de mercado é suficiente para cobrir os gastos. Nunca, conseguimos um preço justo. Por essa razão, eu e meu filho decidimos apostar no shitake", relata.
Para conseguir abrir mercado, Ishirara conta que investiu aproximadamente R$ 200 mil em uma câmara fria. "Esse sistema ajuda muito, já que na fase de expansão do fungo no substrato é necessário manter a temperatura entre 23ºC e 25ºC. Já na fase de produção, a temperatura ideal é de 12ºC a 14ºC", explica o produtor.
A produção de Ishihara, que segundo ele, ainda é pequena, varia de 20 a 25 quilos por dia. O destino é uma distribuidora em São Paulo. "Começamos a entregar no varejo, mas percebemos que a logística era complicada e decidimos enviar toda a produção para um único lugar, que se encarrega da distribuição", afirma.
Pioneiro
Quando o cogumelo começou a ser introduzido no cardápio dos brasileiros, há pouco mais de 20 anos, o plantio ocorria em toras de madeira. O processo limitava a produção aos meses mais frios do ano. Para dar fluxo continuo à produção, o empresário Iwao Akamatsu, da Yuri Cogumelos, foi buscar tecnologia japonesa para se aperfeiçoar no segmento. A técnica incluiu desenvolvimento do substrato em laboratório e produção em câmara fria.
"O desafio era produzir o ano todo. Por isso, fiquei quatro meses no Japão, país especializado nesse tipo de cultura. Quando retornei, iniciei um processo de adaptação da tecnologia para o Brasil. Hoje conseguimos produtividade e qualidade praticamente igual ao dos japoneses", destaca.
A partir daí, Akamatsu passou a ser procurado por outros produtores, que também tinham interesse em cultivar e comercializar o shitake e shimeji. "Percebi que precisava mudar o foco. Deixei de produzir para vender e passei a fornecer o substrato", conta o empresário que atualmente possui mais de 40 clientes em São Paulo e outros estados - 30 deles são da região de Sorocaba.
Otimista, Akamatsu afirma que o mercado está em franca expansão. "Antigamente, Sorocaba contava com dois restaurantes japoneses que comercializavam cogumelos. Hoje são mais de 20. As pessoas estão cada vez mais preocupadas com a saúde e o shitake é um dos alimentos mais completos que existe. O mercado está em franca expansão, gerando otimismo para o setor", comenta o empresário.
Não é fácil
Apesar de fornecer o substrato (matrizes) para o cultivo, Akamatsu alerta que produzir cogumelo não é tarefa fácil. "É como um filho. Você deve dispensar atenção e se dedicar muito. Por isso, recomendo que as pessoas não se iludam com a possibilidade de obter bons rendimentos com esse negócio. É preciso ter tino de pesquisador e não se iludir. Todo mundo acha que é simples, mas não é", salienta Akamatsu.