Nanotecnologia: uma solução em potencial para os problemas da agricultura?
Leonardo Fernandes Fraceto
Estefânia Vangelie Ramos Campos
Jhones Luiz Oliveira
e Gerson Araújo de Medeiros
Recentemente, tem se discutido muito sobre os avanços de uma nova área da ciência, a nanotecnologia. Explicar o termo e suas possibilidades é algo que pode ser complexo. A palavra nano deriva do grego e significa "anão", o que dá a ideia de algo com dimensão muito reduzida. Trata-se portanto, de um mundo invisível ao olho humano no qual uma série de materiais podem ser processados numa escala de tamanho 50 mil vezes menor do que a espessura de um fio de cabelo, adquirindo então novas propriedades, e estas por sua vez possuem grande potencial para solucionar uma série de problemas como: i) o diagnóstico de doenças como o câncer; ii) o desenvolvimento de fármacos mais efetivos; iii) redução de contaminação e poluição ambiental; iv) desenvolvimento de dispositivos eletrônicos mais inteligentes, entre tantas outras aplicações.
Mas você já ouviu falar em nanotecnologia? Com toda certeza, em algum momento este nome já tenha soado familiar, seja através do noticiário, reportagens ou até mesmo através do rótulo de alguns produtos já encontrados no mercado. Esta tecnologia tem trazido avanços para inúmeras áreas como a medicina, cosmética, informática e tem demonstrado potencial também para a agricultura.
No campo da agricultura, a fim de maximizar a produção, o setor agrícola intensificou o uso de agrotóxicos gerando grandes problemas de contaminação ambiental, bem como riscos para a saúde humana. Neste contexto uma das principais aplicações da nanotecnologia é o desenvolvimento de nanoformulações, as quais diminuem a quantidade de agroquímicos utilizados e aumentam a eficácia quando comparada às formulações convencionais, possibilitando uma maior produtividade com menor impacto ambiental e trazendo benefícios à saúde humana.
No cenário da agricultura as aplicabilidades da nanotecnologia não limitam-se apenas ao uso dos agrotóxicos, devido à versatilidade desta tecnologia, estes podem ser utilizados para o aumento do tempo de prateleira de alimentos perecíveis, através da utilização de nanofilmes biodegradáveis e, em alguns casos, estes revestimentos podem ser até comestíveis, sendo utilizados diretamente sobre o alimento, garantindo qualidade e boa aparência por um maior período de tempo.
No Brasil, existem institutos de pesquisa e universidades já desenvolvendo projetos na área de nanotecnologia aplicada à agricultura. Como exemplo, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), juntamente com algumas universidades, tem desenvolvido projetos na área agrícola relacionados a "nanosensores", como a língua eletrônica, que apresenta sensibilidade de até mil vezes maior que o paladar humano. Estes nanosensores trazem um avanço no controle de qualidade para a indústria alimentícia e também para as estações de tratamento de água, podendo detectar os padrões básicos do paladar, além da presença de possíveis contaminantes. Além da Embrapa, o nosso grupo de pesquisa da Unesp/Campus Sorocaba tem desenvolvido formulações de nanopesticidas capazes de reduzir os impactos ambientais do uso destes compostos, bem como a quantidade de pesticida a ser utilizado para se obter o mesmo efeito no controle de pragas da agricultura.
Ressalta-se que apesar dos grandes benefícios que a nanotecnologia pode trazer para a agricultura, sua aplicabilidade ainda é limitada devido à necessidade de um melhor conhecimento dos possíveis impactos que esta tecnologia pode trazer ao ambiente e à saúde humana, bem como pela falta de uma regulamentação por parte dos órgãos competentes. No entanto, espera-se em um futuro não muito distante que muitos produtos e processos utilizando nanotecnologia possam revolucionar o controle de pragas em agricultura trazendo assim inúmeros benefícios à sociedade e ao ambiente. Porém até o momento fica a pergunta, a nanotecnologia será uma solução potencial para os problemas da agricultura?
Leonardo Fernandes Fraceto é Professor Adjunto e coordenador do Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais da Unesp/Sorocaba
Estefânia Vangelie Ramos Campos é doutoranda do Programa de Pós-graduação em Biologia Funcional e Molecular/Unicamp
Jhones Luiz Oliveira é doutorando do Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais da Unesp/Sorocaba
Gerson Araújo de Medeiros é Professor Assistente Doutor e vice-coordenador do Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais da Unesp/Sorocaba