CASA & ACABAMENTO

Contemporâneo e rústico harmonizados criam ambiente acolhedor


Míriam Bonora
[email protected]

Transformar o antigo em contemporâneo sem perder as boas memórias de uma típica casa da vovó, e criar ali uma clínica de psicologia. Esse foi o desafio imposto à arquiteta Marília Pássaro Bertazzoli. O imóvel fica em Sorocaba, era realmente a casa da avó da proprietária e traz elementos que podem ser utilizados também para residências comuns, já que a ambientação é toda característica de um lar.

Marília conta que o desejo da psicóloga proprietária do imóvel era que a sensação ao entrar no local fosse de estar em casa, mesclando o sofisticado, o rústico e o aconchego, além de cumprir as normas da vigilância sanitária para esse tipo de estabelecimento. Já na fachada é perceptível essa harmonização. As linhas retas contemporâneas predominam, mas o antigo permanece em elementos como nos portões de ferro com detalhes no estilo rococó, além do porcelanato que imita madeira que reveste o pórtico que emoldura a entrada da casa.

O telhado da garagem, que era todo fechado, foi substituído por um pergolado em madeira coberto com vidro temperado. A dica da arquiteta para não transformar o ambiente externo em uma estufa é deixar algumas áreas do telhado abertas, e também aplicar uma película antitérmica nos vidros. Ainda na fachada, uma mureta feita com tijolos de demolição completa o toque rústico do visual.
Na área externa e de garagem, a cor verde das paredes foi trocada pelo gelo, que ajuda a ampliar e iluminar o local, em combinação com a claridade do porcelanato com efeito de cimento queimado - do tipo antiderrapante, mais resistente e poroso para os espaços externos. As janelas também foram projetadas especialmente para aliar os dois estilos: as esquadrias de alumínio possuem mais detalhes do que o mais comumente usado, com mais divisões para remeter a janelas mais antigas, além do toque final da floreira.
E por falar em flores e plantas, elas estão presentes em todos os ambientes, também para reforçar esse acolhimento e sensação de casa da vó. Antes de entrar na sala de estar, um espaço de descanso guarda um móvel sentimental da cliente, um banco em estilo Bali. A arquiteta comenta que essa peça e também uma poltrona no mesmo estilo - colocada na sala de atendimento da psicóloga -, eram objetos especiais para a proprietária, que compuseram o projeto desde o início para que os demais elementos planejados se harmonizassem, valorizando cada detalhe.

A porta da sala de estar foi desenhada por Marília e feita em madeira com todos os detalhes entalhados característicos das presentes nas casas com 70, 80, 100 anos de construção. A maçaneta toda trabalhada e o ferro que protege a portinhola de vidro - que se abre para ventilar o local - também foram encomendados para o projeto. Ao entrar na sala, elementos com diferentes estilos compõem um clima eclético e acolhedor.

O lustre e suas lâmpadas vela, a cortina em trilhos de ferro e o quadro com moldura detalhada remetem ao antigo, com os metais em tom cobre. Os papeis de parede em duas estampas rosé, em listras e arabescos, compõem um cenário romântico, aliado ao sofá e poltronas que misturam o claro do estofado à sobriedade da madeira na estrutura. O aparador clássico e a mesinha de canto com design moderno convivem no mesmo ambiente de forma harmoniosa. O tapete marrom escuro ajuda a valorizar os móveis.
Tanto na sala de estar quanto na sala de atendimento da psicóloga, outros elementos essenciais para compor o estilo proposto foram os rodapés e rodatetos. Ao invés do mesmo piso ser usado para o rodapé, ele foi feito em poliestireno, um plástico específico para a área, que pode receber pintura da cor desejada e permite ser molhado. A altura também é maior do que o normal: 15 cm ao invés do padrão de 5 cm a 7cm, para dar mais elegância ao espaço, sem deixar de proteger a parede.

Na parte superior, não foi feito forro em gesso - usado atualmente para inserir a iluminação embutida -, mas detalhes decorativos com o rodateto. Na janela, uma persiana sintética que imita madeira foi uma opção que aliou o efeito de qualidade com a economia, já que o material é mais barato que a madeira natural. Quadros da família foram aproveitados para decorar o local, à escolha da cliente, assim como a poltrona estampada da sala de atendimento, mostrando que é possível manter móveis e objetos sentimentais em harmonia com o projeto.

A área da cozinha foi ampliada, assim como a janela, para favorecer a iluminação e ventilação natural. Uma das paredes - onde ficam a pia e os armários - recebeu aplicação de cerâmica hidráulica para dar vida ao local, com patchwork em azul marinho e branco. Nas portas e gavetas, os puxadores ocultos atuais deram lugar aos aparentes, pequenos e redondos, compondo o ar antigo com os detalhes em linhas retas. A porta foi aproveitada da própria casa e pintada de vermelho, dando um clima alegre ao lado da parede rústica em tijolo de demolição.

Nos lavabos e no banheiro, a tinta lavável toma conta das paredes, o que traz economia, já que o revestimento é usado apenas nas áreas de chuveiro, protegido pelo box. No chão do lavabo, chama a atenção o tapete criado com cerâmica hidráulica personalizada, encomendada peça a peça para que um grande desenho fosse criado no chão em tons pastel.
Tanto no banheiro quanto nos lavabos, no lugar das pedras e armarinhos prontos, as cubas das pias foram apoiadas em aparadores (lavabo) e cômoda (banheiro), que também escondem a tubulação. O cuidado é aplicar verniz náutico fosco nos móveis para proteger da umidade, que deve ser reaplicado duas vezes ao ano nas áreas próximas do contato com a água. Os espelhos e as luminárias rústicas dão um toque final aos ambientes.

Além do projeto de acabamento e decoração, a arquiteta elaborou o projeto desde o início e dá algumas dicas para quem deseja reformar um imóvel antigo com qualidade. Uma orientação é que o profissional contratado fique de olho na laje de cobertura, pois nas casas antigas geralmente a estrutura é mais fina e frágil, feita em stuck. "Pode ser necessário reforçar ou então refazer as lajes", indica.

Outra preocupação deve ser com o telhado. Nesse projeto, ele foi todo retirado, pois as telhas ainda de barro estavam deterioradas. Elas foram trocadas pelo telhado embutido, com platibandas e telhas em fibrocimento com isolamento térmico em isopor. As paredes também podem requerer cuidados, pois nas construções antigas elas costumam não estar niveladas. Nesses casos ou é preciso acertar esse alinhamento ou tomar cuidado na hora de colocar pisos e rodapés. Os sistemas elétrico e hidráulicos também merecem atenção, devendo ser verificados antes do início das obras.