CULTURA

Sesc Sorocaba recebe exposição de Bispo do Rosário



Maíra Fernandes

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Fortalecendo sua vocação nas artes visuais, o Sesc Sorocaba recebe, este mês, mais dois importantes nomes da arte contemporânea no Brasil com a exposição Arthur Bispo do Rosário e Leonilson: Os Penélopes. Prevista para abrir ao público no próximo dia 17 - neste mês que é comemorado o aniversário da unidade - e se estender até o dia 29 de novembro, a mostra também é destaque pelo ineditismo por trazer, pela primeira vez a Sorocaba, obras de Bispo do Rosário e um material significativo de Leonilson - que já teve uma de suas obras expostas na cidade. Ambos utilizavam a costura como parte de seus processos de criação, incorporando-a como um dos elementos predominantes de sua produção.

A exposição ocorreria já no início deste mês, mas por problemas de montagem acabou sendo adiada.

Com curadoria de Ricardo Resende, do Museu Bispo do Rosário - Arte Contemporânea, a mostra que terá 29 peças de cada um dos artistas (58 no total) faz um paralelo entre as obras de Bispo do Rosário e Leonilson com a personagem mitológica Penélope, que também tecia.

Bispo do Rosário e Leonilson usavam do bordado como meio de expressão e a desconstrução como força motriz de suas obras.

Como adiantou Ana Carolina Massagardi, a animadora cultural do Sesc Sorocaba, o curador Ricardo Resende foi quem pensou o tema da exposição e achou na costura a ligação entre os dois artistas.

O sergipano Arthur Bispo do Rosário viveu a maior parte de sua vida em sanatórios para doentes mentais. Já o cearense José Leonilson Bezerra Dias, por sua vez, teve sua promissora carreira interrompida pela Aids. "Na relação dos dois artistas com o tempo e a espera - Bispo na eternidade do confinamento, Leonilson na aproximação da morte - vem à tona uma infinidade de sentimentos e humanidades comuns a todas as pessoas. Esse comportamento é refletido nas obras da mostra", defendem os organizadores.

Atividades paralelas


Além da visitação pública, a exposição contará com um cronograma paralelo. Ainda para este mês acontece uma atividade formativa para educadores, em parceria com a Diretoria de Ensino. Em outubro, haverá uma oficina de bordado, inspirada na arte dos artistas homenageados. Outra atividade já programada é um bate-papo sobre o tema.

A exposição, conta Ana Carolina, foi pensada para o Sesc Jundiá, local onde esteve primeiro, e agora excursionará por outros locais. De acordo com ela, o Sesc local já conta com programação de exposições até o final do ano, o que reforça a relação da unidade com as artes visuais que, desde o lançamento da novo prédio, já recebeu exposições como o do escultor Francisco Brennand, além da Trienal de Artes. Essa última que ocorreu entre 2014 e 2015, já começa a ter sua próxima edição pensada, adianta Ana Carolina. "Estamos vendo com a sede quem será o próximo curador. A ideia é trabalhar com atividades formativas que já devem começar no ano que vem", revela.

Bispo do Rosário


Arthur Bispo do Rosário nasceu em Japaratuba, Sergipe. Há controversas nas datas que falam de 14 de maio de 1909 ou 16 de março de 1911. Foi boxeador e biscateiro, trabalhou no Departamento de Tração de Bondes e empregado doméstico. Em dezembro de 1938, despertou com alucinações e deu início a peregrinações por ruas e igrejas e, dois dias depois, foi detido e fichado pela polícia como negro, sem documentos e indigente, e conduzido ao Hospício Pedro II (o hospício da Praia Vermelha). Um mês após a sua internação, foi transferido para a Colônia Juliano Moreira, sob o diagnóstico de esquizofrênico-paranoico. Lá permaneceu por mais de 50 anos onde passou a produzir objetos com diversos tipos de materiais oriundos do lixo e da sucata que, após a sua descoberta, seriam classificados como arte vanguardista. Entre os temas, destacam-se navios, estandartes, faixas de misses e objetos domésticos. A sua obra mais conhecida é o Manto da apresentação.


Leonilson



José Leonilson Bezerra Dias nasceu em Fortaleza, Ceará, em março de 1957, mas mudou para São Paulo em 1961. Já cedo começou a demonstrar o seu interesse pela arte. Em 1979, participa da sua primeira exposição coletiva Desenho jovem, no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. Um ano depois, participa da mostra Panorama da Arte Atual Brasileira/Desenho e Gravura, no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Leonilson parte do grupo de artistas que revolucionou o meio artístico brasileiro com a retomada do prazer da pintura, conhecido como Geração 80.


Em 1989, expôs Anotações de viagem na Galeria Luisa Strina, em São Paulo, apresentando peças feitas com botões, pedras semipreciosas e bordados, que introduzem um novo procedimento em seu trabalho: a costura.

Na década de 1990, o artista se firma como um dos destaques no panorama cultural brasileiro e, em 1991 descobre que é soropositivo ao vírus HIV e a convivência com a doença domina por completo a sua obra. Seu último trabalho, uma instalação concebida para a Capela do Morumbi, em São Paulo, em 1993, tem um sentido espiritual e alude à fragilidade da vida. Leonilson morreu em 28 de maio de 1993.



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