SOROCABA E REGIÃO

Tribo Hunikuin, do Acre, fala sobre alimentação na Uniso


Ingredientes naturais e utilizados das mais diferentes maneiras. Assim é a alimentação indígena. Nas centenas de tribos espalhadas pelo País, muitos brasileiros ainda ajudam a manter a tradição de comer o que se colhe e caça. As receitas milenares são passadas das mães para as filhas, feitas nas fogueiras e acomodadas em folhas de árvores. Uma alimentação que proporciona, principalmente, saúde e longevidade. "Minha avó tem 125 anos", comentou Kêa Inubake, da tribo Hunikuin, instalada no Acre, onde é preciso percorrer seis dias de barco para chegar. Ele e um grupo de índios da comunidade estiveram na Universidade de Sorocaba (Uniso) para um bate-papo com os estudantes de Gastronomia sobre a culinária indígena. O resultado foi um encontro rico em troca de experiências.





Kêa Inubake contou que a tribo está bem organizada para desenvolver ações que têm como objetivo a preservação de sua cultura. E uma delas -- para a qual estão em busca de patrocinadores -- é a edição de um livro de culinária, traduzido para o português, com as receitas típicas do universo indígena. Segundo Same Hunikuin, a única mulher cozinheira presente para dar seu relato, as refeições dos índios Hunikuin -- palavra que significa Povo Verdadeiro -- têm como base a mandioca, alimento que eles consomem todos os dias, das mais variadas formas. Enrolada num determinado tipo de folha que retiram da floresta, a mandioca cozida é conservada por até uma semana sem azedar. "A gente torra amendoim, pisa no pilão e coloca nessa macaxeira. Dá um alimento bem forte", explica Same. Também é da mandioca -- e ainda do milho -- que eles extraem uma bebida chamada de caiçuma. Trata-se de um caldo fermentado que é preparado todos os dias. Essa é a principal bebida consumida pelos membros da tribo.

Além da macaxeira, estão presentes fortemente na dieta dos Hunikuin a banana, o milho e amendoim -- alimentos que garantem muita energia para as atividades diárias. Para a tribo, a ligação dos alimentos com a força dos espíritos é real. "Temos uma cantoria que chama a força dos espíritos dos legumes que fazemos quando vamos plantar ou roçar", explicou Kêa. As dietas especiais também existem para atividades de formação e batismo dentro da cultura indígena. "Até que minha filha complete sete anos, por exemplo, não posso consumir um certo tipo de peixe", falou Same. Por falar em carne, o consumo é variado: anta, macaco, tatu, veado, galinha, pato, carneiro, paca, esquilo e até aves. Para que durem mais, essas carnes são conservadas já depois de cozidas.

Da cidade, os índios Hunikuin já têm acesso a muitos alimentos. O arroz e o feijão, que também consomem, são vistos com bons olhos. Já o açúcar e o sal, apesar de já presentes na preparação dos alimentos, são utilizados com restrição. "Não tem tempero melhor que a vontade de comer", disse Kêa. Perguntado sobre que tipo de alimento do mundo civilizado, eles não consomem de jeito nenhum, o índio surpreende. "Falo por mim, o frango. Um animal transformado para abate em 15 dias eu não me arrisco mais a comer."