Idosos se exercitam brincando com a prática do gateball
Nilcéa Guidolin Zambon tem 68 anos de idade e uma característica inegável: adora falar. Frequentadora assídua do Clube do Idoso, ela chega ao local logo nas primeiras horas da manhã para iniciar alguma das nove atividades das quais participa. Às segundas e terças-feiras, seu tempo é dividido entre as partes interna e externa do clube: lá dentro, faz exercícios na academia; do lado de fora, pratica gateball.
E foi justamente por ter ficado tempo demais conversando com o professor de ginástica depois da aula que ela se atrasou para a partida de gateball na última terça-feira. Na manhã nublada e de temperatura amena após uma noite chuvosa, idosos de variadas idades se espalhavam pela quadra pública da modalidade, montada pela Prefeitura no espaço localizado em frente ao Clube do Idoso, em Pinheiros. Quando Nilcéa chega, a partida já está em andamento, mas um dos jogadores havia saído para buscar a esposa em outro compromisso. Ela, então, assume seu lugar e antes da primeira tacada solta a pergunta: "O que eu faço com a (bola) 10, professor?"
O professor, no caso, é Marcos Castro, 29, técnico da Secretaria Municipal de Esportes. Há sete meses, ele se dedica a ensinar gateball na quadra pública. As aulas são abertas a qualquer pessoa, mas os 16 alunos atuais são todos da terceira idade. Eles recebem os benefícios físicos, mentais e sociais que o esporte traz. Afinal, uma partida de gateball exige que o jogador crie estratégias, caminhe e se agache várias vezes, além de proporcionar novas amizades. "A ideia do jogo é dar qualidade de vida", diz.
Esporte de origem japonesa, o gateball é disputado por 10 jogadores, divididos em duas equipes de cinco. A partida dura 30 minutos e tarefa de cada jogador consiste, basicamente, em fazer a bola passar por dentro dos três gates que compõem um circuito instalado na quadra e, depois, bater no pino central, acumulando pontos.
Como capitão de uma das equipes, Marcos dá a orientação para a jogada de Nilcéa, que não é bem executada. Depois da partida, ela tem na ponta da língua a explicação para o erro. "Eu sou muito falante e a gente tem que se concentrar para esse jogo. Tanto é que eu cheguei despreparada e não acertei muito", diz, reconhecendo que a melhoria na concentração é o maior benefício que ela adquiriu ao longo dos 10 meses em que pratica a modalidade.
O capitão do outro time era Simphoriano Martinez Filho, 59. Apontado pelos colegas como o melhor jogador da turma, ele nega o rótulo, afirmando ser apenas o que mais treina (além da quadra pública, pratica o esporte também na União Cultural Esportiva Nipo-Brasileira de Sorocaba, a Ucens). Mas não nega a posse de uma espécie de relógio de pulso, que serve como placar, onde vai cuidadosamente anotando os pontos.
Entre uma piada e outra, o sorridente Martinez caminha pelo campo à vontade, com os calcanhares de fora do sapato. Enquanto observa o jogo e orienta os companheiros, roda o taco pelas mãos com a intimidade de quem se dedica ao jogo com paixão há um ano e meio. "Eu vim ao Clube do Idoso e estavam brincando aqui. Eu entrei, comecei a brincar e gostei. É como se fosse uma droga: depois que entra no sangue, é duro de escapar", lembra, comparando a atividade a uma espécie de vício do bem.
Passados os 30 minutos, a equipe dele é a vencedora do jogo. O próprio capitão é o responsável pela última jogada, acertando a bola no pino central e acumulando mais pontos. Sem comemorações ou lamentações, vencer ou perder parece ser o que menos importa aos jogadores. E cabe justamente a Martinez, o que mais acumula vitórias, explicar o sentido que o jogo tem para aquela turma: "O mais importante é o sorriso, porque sem o sorriso ninguém faz nada."
SERVIÇO
Aulas gratuitas de gateball (para todas as idades)
Local: Quadra pública em frente ao Clube do Idoso (ao lado do Centro Esportivo de Pinheiros)
Datas: segundas e terças-feiras, das 8h às 10h