Duas são presas por receptação no cemitério

Mais de 300 peças de bronze e alumínio, entre crucifixos, placas e até puxadores de sepulturas foram apreendidos, na manhã desta quarta-feira (27), no Cemitério da Saudade, durante a checagem de uma denúncia pela Guarda Civil Municipal (GCM). A informação dava conta de que uma das mulheres que trabalham de forma autônoma na limpeza dos jazigos estaria escondendo diversas peças furtadas. No local, a delatada e mais uma outra também responsável pela conservação das sepulturas, foram detidas e autuadas em flagrante por receptação. O material apreendido foi localizado em sete sepulturas e capelas que elas usavam como depósito dos produtos de limpeza. A Polícia Civil não descarta a possibilidade de haver um esquema para lucrar com as vendas de peças de alumínio, que uma delas inclusive teria admitido comercializar. Outros quatro limpadores serão convocados para depor, uma vez que parte das peças, entre os quais um marrete e uma talhadeira, foram encontradas em sepulturas também utilizadas por eles para acondicionar o material de limpeza. As duas mulheres, no entanto, afirmam serem inocentes e disseram retornar hoje ao trabalho (elas pagaram fiança e foram liberadas pela polícia) "de cabeça erguida".
De acordo com o inspetor da GCM Marcos José Ferreira, a operação com seis equipes e apoio da Delegacia de Investigações Sobre Entorpecentes (Dise) foi montada após o recebimento de uma informação anônima de que Magali Conceição Dela Líbera, de 57 anos, estaria em poder de diversas peças furtadas. No local ela admitiu a existência das peças dentro de uma capela, que ela utiliza para guardar seu material de limpeza, mas segundo o que declarou na polícia, tais peças teriam sido encontradas abandonadas próximo às sepulturas furtadas e que ela as recolhiam para devolver aos proprietários dos jazigos. A outra limpadora, Maria Júlia de Lima, 55 anos, também tinha peças na capela usada para guardar os produtos de limpeza. As duas conduziram os GCMs e investigadores da Dise até mais cinco sepulturas entre capelas e túmulos, totalizando assim mais de 300 peças apreendidas.

Autuadas

O delegado assistente da Dise, Rodrigo Ayres, autuou as duas mulheres por receptação, e elencou os motivos para desconfiar das condutas delas, apesar de alegarem inocência. Conforme explicou, o que chama a atenção é o fato de que se elas apenas guardavam as peças encontradas para devolvê-las posteriormente, não faz sentido as famílias registrarem a ocorrência de furto. Outro fator é o de que Magali Conceição orientaria os proprietários de sepulturas que tiveram peças de bronze retiradas, a as substituírem por outras de alumínio, que ela vendia por R$ 160. Além disso, o delegado atentou que as duas acusadas sabiam até mesmo quais eram os túmulos, que não serviam de depósito para os produtos de limpeza, nos quais havia peças escondidas.
Rodrigo Ayres também destacou que, entre as peças apreendidas na capela usada por Magali, estavam um crucifixo e uma placa, ambos em bronze, cujo responsável pela sepultura registrou boletim de ocorrência na última segunda-feira, depois de saber, pelo Cruzeiro do Sul, que durante a semana passada mais de 100 túmulos e quase 150 peças de bronze haviam sido furtados. As informações constantes na reportagem do jornal foram passadas justamente pela limpadora Magali Conceição, que constantemente informava a imprensa sobre os constantes furtos naquele cemitério. Essa atitude dela também é vista com desconfiança pela polícia, que não despreza a tese de que fosse um álibi para poder se defender. Sobre isso, o delegado enfatizou ainda estranhar como a limpadora podia saber o número exato de sepulturas furtadas, sendo que ali são mais de 8 mil jazigos.
Agora a polícia vai checar se os demais limpadores (mais duas mulheres e dois homens) podem ter alguma relação com os furtos, considerando ainda que na capela usada por um dos homens é que estavam as ferramentas. As investigações também vão prosseguir no sentido de apurar o destino dado às peças de bronze. Algumas são avaliadas entre R$ 600 e R$ 3 mil.

Prefeitura

A Secretaria de Serviços Públicos (Serp), informou, por meio do Serviço de Comunicação (Secom), que não tinha conhecimento da utilização de capelas como depósito de produtos de limpeza, mas que vai adotar as medidas cabíveis, pois ocorreu violações de sepulturas para uso indevido. Informou ainda que os autônomos que atuam nos cemitérios são cadastrados por meio de edital de chamamento realizado durante todo o mês de novembro de cada ano. Os autorizados possuem cadastro e credenciamento. As duas acusadas não são cadastradas.
Ainda segundo a Serp, a guarda de ornamentos e a manutenção das sepulturas, de acordo com Lei Municipal, é de responsabilidade dos concessionários, que são orientados a registrar boletim de ocorrência. A pasta também orienta para que não deixem nas sepulturas objetos que possam despertar o interesse de ladrões.
Ao todo, até o momento, apenas cinco casos teriam sido registrados na polícia, e somente referentes ao Cemitério da Saudade.