CULTURA

Grupo Medusa se apresenta em Sorocaba



Apenas um LP lançado em 1981 pela gravadora Som da Gente foi o suficiente para transformar o Grupo Medusa em verbete próprio, sinônimo de inovação e criatividade, na história da música instrumental brasileira. Trinta e cinco anos depois, três integrantes de sua formação original se reúnem pela primeira vez para uma turnê relâmpago que revisita o lendário álbum homônimo. A série de apenas sete shows pelo Brasil passa nesta quinta (25) por Sorocaba, dentro da programação da 5ª edição do Festival Sesc Jazz & Blues. A apresentação ocorre às 20h no teatro do Sesc (rua Barão de Piratininga, 555) e os ingressos, disponíveis até o fechamento desta edição, custam R$ 40 (inteira), R$ 20 (meia) e R$ 12 (credencial plena)

Da formação original estarão no palco o guitarrista Heraldo do Monte, o pianista Amilson Godoy e o baterista Chico Medori. Já ao jovem e virtuoso baixista pernambucano Ricardinho Paraíso, caberá o grato desafio de redesenhar as improváveis linhas graves criadas por Cláudio Bertrami, pioneiro do baixo fretless (sem trastes) no Brasil e professor do Conservatório de Tatuí, falecido em 2002.

O repertório contará com as oito composições autorais do épico LP, caracterizado pela abertura de espaços para improvisação de todos os músicos e rico na exploração de ritmos brasileiros, como o baião, o samba e o partido-alto. Com forma vanguardiosa e estética genuinamente brasileira, o álbum Medusa se tornou uma espécie de "passagem obrigatória" para guitarristas, pianistas, baixistas das novas gerações e ajudou a consolidar a música instrumental brasileira como ela é conhecida hoje. Vale dizer que após esse disco, Heraldo do Monte saiu do grupo e a vaga foi preenchida por outro guitarrista de peso: o gaúcho Olmir Stocker, conhecido no meio musical como Alemão. Com a nova formação, o Grupo Medusa lançou o disco Ferrovias, em 1983.

Mesmo se sentindo duplamente realizado por "ser pago para rever os velhos amigos no palco", Heraldo do Monte assinala que o Grupo Medusa, ao menos com essa formação original, infelizmente não veio para ficar. Segundo o guitarrista, o não retorno definitivo da banda se deve a incompatibilidade de agenda de seus integrantes. Entretanto, a turnê relâmpago foi possível graças ao projeto Álbum, promovido pelo Sesc Belenzinho, que visa revitalizar a memória musical do país, trazendo títulos expressivos da discografia da música brasileira e apresentá-los para o público em formato de show.

Considerado "o maior guitarrista do mundo" por ninguém menos que o icônico Joe Pass, o pernambucano Heraldo do Monte já era um gigante da música quando decidiu integrar o Grupo Medusa. É que 15 anos antes, o seu fraseado original com sotaque nordestino exprimido nos instrumentos de corda do Quarteto Novo chamou a atenção de George Harrison -- possivelmente influenciou os Beatles -- e causou êxtase no saxofonista Wayne Shorter, que o convidou para se mudar para os Estados Unidos e integrar a banda de jazz-fusion Weather Report. "Não, muito obrigado. Tenho a minha vida aqui no Brasil", surpreendeu o guitarrista.

Heraldo comenta que, para ganhar a vida, passou a trabalhar como músico de estúdio no final da década de 1970. "Era um trabalho comercial, como vender banana na feira. A gente gravava músicas bregas e outras coisas de muito mau gosto", relata, ao Mais Cruzeiro. Aparentemente insatisfeito em ter de emprestar seu talento a boleros e guarânias mal arranjadas, Heraldo convidou os colegas de estúdio -- Amilson Cláudio e Chico Medori -- para montar um grupo para ensaiar durante as folgas nos finais de semana.

A ideia, na prática, era promover uma reconciliação coletiva com a música livre e criativa. "Gravar um disco nunca foi uma pretensão nossa. A gente só queria estudar, para não ficar estacionado", complementa. Dono de uma humildade que só não é maior do que a sua enorme contribuição para a história da música instrumental -- especialmente da guitarra brasileira--, Heraldo afirma não ter dimensão de influência que o Grupo Medusa provocou e ainda provoca. "Não sei se influenciou alguém, mas o legal do Medusa está nos detalhes, que é exatamente o contrário daquilo que a gente podia no estúdio", complementa o músico de 81 anos de idade, que acaba de lançar o disco Choro de viola -- com participação do percussionista votorantinense Cléber de Almeida -- e se prepara para lançar sua autobiografia e um songbook com sua obra completa.