ARTIGOS

Transformações das cidades




Flavio Amary

As cidades são vivas e estão em constantes mutações. As mudanças não são percebidas diariamente, pois nos acostumamos, muitas vezes, com nossos caminhos e com a paisagem, mas quando passamos algum tempo sem visitar uma determinada região ou cidade podemos perceber o efeito do tempo: novas construções, comércios, edifícios, indústrias, ruas e avenidas. Alguns conservadores defendem que as cidades não poderiam ou não deveriam mais crescer, teríamos um tamanho máximo permitido por lei (Planos Diretores). Entretanto, crianças nascem todos os dias, na maior parte de nossas cidades, e é fácil percebermos o crescimento de nossa sociedade ao visitarmos as maternidades dos hospitais.

Não é limitando o tamanho de nossas cidades que teremos cidades melhores, não é "proibindo" as crianças de viver em nossas cidades que manteremos nossas cidades como no passado. Não é desta forma que teremos cidades melhores, pois as mudanças são inerentes ao processo de evolução.

Algumas cidades no Brasil e no mundo não crescem, pois não oferecem oportunidades para os jovens que, assim que alcançam uma certa idade, vão em busca de novos espaços, deixando suas cidades de origem, e ao perderem seus jovens, essas cidades perdem também a oportunidade de inovar, crescer e evoluir.

Precisamos, sim, acompanhar as transformações e entender que fazem parte do processo de crescimento, adequando nossas cidades ao novo modelo de urbanismo. São diversos exemplos pelo mundo asiático, americano, europeu e africano. Entretanto, é preciso encontrar o modelo brasileiro, com características de nossa sociedade e de nossa cultura.

Algumas tendências são mundiais e já podemos observar, também em nossa sociedade, que cada vez mais os jovens buscam a tecnologia e são cada vez menos atraídos por possuir individualmente e sim usufruir coletivamente, inclusive carros e grandes imóveis.

A cultura do compartilhamento faz nossas cidades também sofrerem as transformações como a busca pelo transporte coletivo, táxis e uber, assim como os imóveis menores vêm sendo uma tendência e demanda de nossas grandes cidades.

As legislações precisam estar atentas para acompanhar e direcionar essas mudanças, como a sociedade entender melhor de forma coletiva, assim como os empreendedores precisam compreender as necessidades socioeconômicas e de forma antecipada oferecer ao mercado a sua real demanda.

As famílias também estão sofrendo muitas transformações, os casais que viviam com os filhos em suas casas sempre foram a maior parte dos domicílios brasileiros, isso mudou na última década. E o que mais tem crescido são os domicílios unipessoais, aqueles em que as pessoas vivem sozinhas.

O comércio também muda a cada dia, com o avanço da tecnologia as pesquisas de preços, produtos e principalmente as compras a cada dia aumentam no mundo virtual, bastando alguns cliques a qualquer hora do dia e da noite para efetuar compras de produtos, viagens e serviços.

Enfim, a cada mudança de hábito e de nossas vidas as cidades se transformam, e como sempre a cada dia essas mudanças têm acontecido de forma mais acelerada o que faz com que os efeitos tenham a mesma velocidade.

É preciso atenção dos governantes e também da sociedade civil organizada para compreender todo o processo e buscar, de forma democrática, mas não populista, entender e construir sempre uma cidade mais humana, mais alegre e com mais qualidade de vida.

Flavio Amary é presidente do Sindicato da Habitação do Estado de São Paulo (Secovi-SP) e reitor da Universidade Secovi - [email protected]