CULTURA

Banda Arandu Arakuaa apresenta rock indígena no teatro do Sesc


Com sonoridade que mistura vertentes do rock pesado com elementos da música regional e letras em tupi, xerente e xavante inspiradas nas lendas, ritos e lutas dos povos indígenas do Brasil, a banda Arandu Arakuaa se apresenta sexta-feira (21), às 19h, no teatro do Sesc (rua Barão de Piratininga, 555). Os ingressos, disponíveis até o fechamento desta edição, custam R$ 17 (inteira), R$ 8,50 (meia) e R$ 5 (sócios do Sesc) e estão à venda na central de atendimento da unidade.

O show faz parte da programação especial do mês de abril, intitulada "Povos Sagrados: Saberes Indígenas", cujo o objetivo é discutir a questão indígena por meio de suas manifestações culturais e artísticas e sua interseção com outras culturas que, misturadas, compõem a identidade nacional.

Esta será a segunda vez que a banda brasiliense formada em 2011 se apresenta no Estado de São Paulo (no sábado, o grupo toca na capital). No show, o grupo mostrará ao público músicas autorais de seus dois álbuns, Kó Yby Oré (2013) e Wdê Nnãkrda (2015), além do EP de estreia intitulado Arandu Arakuaa, que em tupi-guarani significa "saber dos ciclos dos céus" ou "sabedoria do cosmos".

O show também marcará a estreia da nova formação, com a vocalista amazonense Karine Aguiar no lugar de Nájila Cristina e o baterista Ygor Saunier, que assume as baquetas até então comandadas por Adriano Ferreira. O guitarrista Pablo Vilela é o novo reforço do grupo, ao lado dos fundadores Zândhio Aquino (guitarra, viola caipira e vocais) e Saulo Lucena (contrabaixo).

Idealizador da banda, Zândhio detalha que Karine e Ygor moram em São Paulo e possuem formação na área de MPB e jazz. A dupla foi convidada a integrar o grupo após uma aproximação que teve início enquanto ambos desenvolviam pesquisas de música étnica. "A gente se conheceu pela internet, depois que eles viram uma reportagem sobre a gente na BBC", detalha.

Apesar de culturas e influências distintas dos novos integrantes, Zândhio garante que a sonoridade da apresentação ao vivo será fiel a dos CDs lançados, e que estarão à venda após o show. "Essa nova identidade só se mostrará completa quando lançarmos um material novo", complementa o guitarrista, que já pensa na produção do próximo álbum.

Nascido em Palmas (TO) e descendente de indígenas por parte de pai, Zândhio conta que sempre morou próximo a aldeias e que a ideia de formar a banda, pautada na valorização e no resgate de sua própria ancestralidade, surgiu logo após concluir a graduação em Pedagogia na Universidade Federal de Tocantins. "Eu também tinha muitos colegas indígenas, mas ninguém gostava de falar, porque havia um problema de autoestima. Naquela época, o índio era mais discriminado do que hoje, não existia militância [pela causa indígena]. Só invisibilidade", relembra.

A ideia de mesclar mitos e lendas dos povos indígenas com rock pesado e levadas do norte e nordeste do país, entretanto, ocorreu de maneira natural, já que, segundo ele, cada integrante ofereceu como contribuição seus respectivos mananciais de referências e influências. "A temática indígena é um mote de expressão artística, mas a gente não força a barra", assinala.

A inspiração indígena para o rock pesado pode parecer inusitada, mas só depois de lançar o primeiro disco, os integrantes do Arandu Arakuaa se deram conta de que tal feito não difere de uma série de bandas de metal européias que buscam inspirações em culturas ancestrais como, por exemplo, os vikings, nos países escandinavos, e os celtas, na península ibérica. "É a mesma coisa, mas quando a gente começou a gente não tinha consciência desse movimento. Foi algo espontâneo", acrescenta Zândhio, citando que, atualmente, o Brasil conta com outras bandas de metal com inspiração indígena, como a carioca Tamuya Thrash Tribe e a paulistana Voodoopriest.