SOROCABA E REGIÃO

Preso em Sorocaba, ex-presidente da Petrobas é levado a Curitiba


O principal alvo da 42ª fase da Lava Jato, o ex-presidente da Petrobras e do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, foi preso, temporariamente, no início da manhã desta quinta-feira (27), na casa da família, em um condomínio de luxo no bairro Campolim, em Sorocaba. A prisão foi por uma equipe da Polícia Federal, a pedido da força-tarefa do Ministério Público Federal no Paraná (MPF/PR) feito ao juiz Sérgio Moro. Segundo as investigações, Bendine é suspeito de ter recebido R$ 3 milhões em propinas pagas pela empreiteira Odebrecht para que a empresa não fosse prejudicada em futuras contratações da Petrobras. Além de Bendine, outras duas pessoas ligadas a ele, os irmãos André Gustavo Vieira da Silva e Antônio Carlos Vieira da Silva, suspeitos de serem operadores financeiros, foram presos em Pernambuco. No total, a operação, chamada Cobra, cumpriu 11 mandados de busca e apreensão, e três mandados de prisão temporária, no Distrito Federal e em Pernambuco, Rio de Janeiro e São Paulo. Aldemir Bendine, que tem nacionalidade italiana, estava com passagem só de ida para Portugal, com data de embarque para hoje (sexta dia 28).

Segundo apurou o Cruzeiro do Sul, uma equipe da Polícia Federal chegou em dois carros descaracterizados por volta das 5h45 no condomínio residencial Sunset, no Campolim, localizado na avenida Professora Izoraida Marques Peres, e seguiram direto para a casa de Bendine. Os agentes teriam permanecido na residência por pouco mais de duas horas e meia e saíram perto das 8h45. Seguiram de carro com destino à Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, onde ele permaneceu à disposição do juízo da 13ª Vara Federal do Paraná. Bendine chegou ao local por volta das 14h e deveria ser ouvido pela Polícia Federal ainda na tarde de ontem.

A ação policial tem como alvo principal a investigação de ex-presidente da Petrobras e do Banco do Brasil, bem como de pessoas a ele associadas, pela prática dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro, entre outros. Segundo as investigações, Bendine e os irmãos André e Antônio teriam solicitado vantagem indevida em razão dos cargos exercidos para que a empresa Odebrecht não viesse a ser prejudicada em futuras contratações da Petrobras. Em troca, o grupo empresarial teria efetuado o pagamento em espécie de ao menos R$ 3 milhões. Aparentemente, os pagamentos somente foram interrompidos com a prisão do então presidente do Grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht. O nome da 42ª fase da Lava Jato (Cobra) é uma referência ao codinome dado ao principal investigado nas tabelas de pagamentos de propinas apreendidas no chamado setor de operações estruturadas da Odebrecht, durante a 23ª fase da operação.

O advogado Pierpaolo Bottini, que defende Bendine, disse que desde o início das investigações, o cliente forneceu dados fiscais e bancários e se colocou à disposição, demonstrando a licitude de suas atividades. Segundo Bottini, a prisão temporária é desnecessária por se tratar de alguém que manifestou disposição de depor e colaborar com a Justiça.


Bendine era nome contra a corrupção

Aldemir Bendine foi nomeado em 6 de fevereiro de 2015, pela então presidente Dilma Rousseff, para o cargo de presidente da Petrobras em substituição a Graça Foster, tendo como missão, entre outras responsabilidades, acabar com a corrupção envolvendo a empresa. Porém, para o Ministério Público Federal não foi isso o que ocorreu.

O procurador da República do MPF, Athayde Ribeiro Costa, membro da força-tarefa da Lava Jato, classificou como "indignante" as suspeitas de corrupção que envolvem o nome de Bendine. "As provas de que o ex-presidente da Petrobras, nomeado para acabar com a corrupção na estatal, estava praticando corrupção é realmente indignante". Costa lamentou ainda que durante o escândalo de corrupção na Petrobras, as pessoas continuavam a usar a estatal para praticar crimes em troca de recursos, segundo as evidências até então collhidas. "Bendine veio do Banco do Brasil para a Petrobras e segundo as provas havia pedido de propina e além disso ele tentava, com o pedido de propina, buscar lugar na vaga. Nós temos que impedir essa promiscuidade", disse o procurador da Lava Jato.

Sobre o rumo da operação Lava Jato como um todo, o procurador disse que o MPF quer fortalecer a Polícia Federal. "É preciso que a polícia investigue e a diminuição do efetivo é uma responsabilidade do Ministro da Justiça e do delegado geral", afirma Costa. Para ele, o atual ministro da Justiça, Torquato Jardim, que foi nomeado em maio pelo presidente Michel Temer (PMDB), é responsável pela diminuição da equipe da Lava Jato. "O anterior ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, quando no cargo, visitou a força-tarefa em Curitiba e se comprometeu a fortalecer a Lava Jato. O atual ministro não fez o movimento no mesmo sentido e sequer consultou a força-tarefa sobre o quanto de investigação tinha e quanto de necessidade de efetivo havia. É uma responsabilidade dele essa diminuição e temos que fortalecer a PF porque a Lava Jato está no auge da sua notoriedade e para o MPF e para a PF está claro que ela é prioridade. É assim com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e certamente será assim Raquel Dodge, a partir de setembro."


Provas vêm até de aplicativo de celular

O Ministério Público Federal do Paraná (MPF/PR) afirma que colheu provas contra Aldemir Bendine de encontros em restaurantes e em hotéis, de mensagens em aplicativos de celular, com autodestruição de mensagens, para apagar vestígios de crimes. Segundo as investigações, as mensagens foram encontradas por meio da quebra telemática de arquivos em nuvem. Além disso, elas apontavam os encontros que foram realizados, de modo que a colaboração da Odebrecht foi corroborada por provas.

Os dados revelam até o momento que foram pelo menos duas reuniões presenciais entre Marcelo Odebrecht e Aldemir Bendine, sendo que uma teria ocorrido em 26 de janeiro de 2015 e outra em 18 de junho do mesmo ano. O local dos encontros teria sido a casa de André Gustavo, apontado como um dos operadores financeiros de Bendine.

De acordo com as investigações da Lava Jato, nas reuniões falava-se da Petrobras e falava-se na possibilidade da atuação de Bendine na Petrobras, o que teria motivado a solicitação da propina para a Odebrecht.


Defesa pede a Moro reconsiderar prisão

A defesa de Aldemir Bendine apresentou na noite de ontem um pedido de reconsideração da ordem de prisão temporária ao juiz Sérgio Moro. Segundo o advogado de Bendine, Pierpaolo Bottini, o ex-presidente da Petrobras já tinha manifestado disposição de colaborar com a Justiça, e já tinha aberto mão do sigilo bancário e fiscal há mais de um mês.

"Ele disse que queria contar a versão dele dos fatos, e não tem nenhum indicativo de que ele fosse obstruir a justiça ou fugir. Então, estamos levando esses fatos para (o juiz Sérgio) Moro e esperando o retorno dele", disse. A expectativa é que o juiz decida sobre a questão até hoje.

Bottini também alega que o ex-presidente tinha passagem de ida e volta a Portugal, e viajaria a turismo. O Ministério Público Federal afirmou que só havia localizado a passagem de ida de Bendine para Portugal.

Bendine teria recebido ao menos R$ 3 milhões de propina em espécie da Odebrecht para não prejudicar a empresa em futuras contratações, segundo informações das equipes da Polícia Federal e do Ministério Público Federal que atuam na Lava Jato.


Bendine pagou imposto sobre propina

O ex-presidente da Petrobras Aldemir Bendine pagou imposto, em 2017, sobre a propina recebida da Odebrecht em 2015, segundo o Ministério Público Federal (MPF). Segundo o procurador Athayde Ribeiro Costa, integrante da força-tarefa da Lava Jato no MPF, Bendine tentou declarar os valores ilícitos como oriundos de uma suposta consultoria prestada à Odebrecht.

"Não houve contrato, não houve justificativa para a diminuição de uma consultoria no valor de R$ 17 milhões para R$ 3 milhões, valor que realmente foi pago. Tampouco não fazia qualquer sentido o recolhimento de impostos já em 2017. Para o MPF, esse recolhimento de imposto significa uma tentativa de ocultar e dissimular a origem criminosa dos valores e também ludibriar as investigações e obstruir a Justiça", afirmou Costa.

A deflagração da Operação Cobra teve por base as delações premiadas do ex-presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e do ex-presidente da Odebrecht Ambiental, Fernando Reis. Segundo os depoimentos, Bendine pediu R$ 17 milhões em propina, ainda quando presidente do Banco do Brasil, para rolar uma dívida da Odebrecht Agroindustrial. Os delatores afirmam que este pedido foi negado pela empreiteira.

Pouco antes de assumir a presidência da Petrobras, ainda segundo as delações, Bendine solicitou propina novamente, sob o argumento de que poderia prejudicar a Odebrecht na petrolífera -- inclusive em relação à Operação Lava Jato. Dessa vez, a empreiteira avaliou que poderia realmente ser prejudicada e aceitou pagar R$ 3 milhões em propina.

"É um caso muito interessante e relevante, porque o alvo principal é ex-presidente do Banco do Brasil, ex-presidente da Petrobras, num período em que a Lava Jato já estava em pleno funcionamento, ele deixa o BB e assume essas funções na Petrobras", disse o delegado Igor Romário de Paula, responsável pelo combate ao crime organizado na Polícia Federal no Paraná.


Delação premiada revela o esquema

Durante entrevista coletiva realizada na manhã de ontem para a imprensa, no auditório da Superintendência de Polícia Federal em Curitiba, no Paraná, a equipe da Lava Jato, composta por delegados da PF e pelo procurador do Ministério Público Federal (MPF/PR), relatou como teria ocorrido o pagamento de propina da empresa Odebrecht para Aldemir Bendine. Segundo as investigações, o caso foi revelado por meio dos depoimentos de Marcelo Odebrecht e do executivo da empresa Fernando Reis, por meio de delação premiada.

De acordo com os relatos, Bendine teria solicitado propina no valor de R$ 17 milhões para a Odebrecht ainda enquanto ocupava a presidência do Banco do Brasil, como pretexto de influir em uma rolagem de dívida de um financiamento da Odebrecht AgroIndustrial. Marcelo e Fernando Reis negaram o pedido de propina solicitado por Bendine. Porém, pouco antes de sua nomeação para a presidência da Petrobras, Bendine e um de seus operadores financeiros teriam novamente pedido propina para a empreiteira, com o argumento de que ele entraria na Petrobras e que de alguma forma poderia prejudicar a Odebrecht, inclusive com consequências na operação Lava Jato. Assim, a Odebrecht avaliou que realmente poderia ser prejudicada e teria optado por pagar os valores a Aldemir Bendine.

Segundo as investigações, os R$ 3 milhões foram pagos em três parcelas e entregues em um apartamento, em São Paulo, vinculado a Antônio Carlos Vieira da Silva, irmão de André Gustavo. Os pagamentos foram realizados no ano de 2015, nas datas de 17 de junho, 24 de junho e 1º de julho, pelo Setor de Operações Estruturadas da Odebrecht. (Com informações da Agência Brasil e Folhapress)