CULTURA

Obra de Frestas traz execução do hino 'A Internacional' no Terminal Santo Antônio


 
Entoado por uma voz feminina à capela, a canção que clama pela união da classe trabalhadora a lutar por uma "terra sem amos [patrões]" é executada duas vezes ao dia, às 6h e às 18h, no Terminal Santo Antônio, em Sorocaba.
 
Despertando diferentes sensações e reações dos usuários do transporte coletivo da cidade, a versão em Português de A Internacional -- hino do socialismo em todo mundo -- que sai de alto-falantes do terminal de ônibus é um das obras em espaços públicos que integram a 2ª edição de Frestas -- Trienal de Artes, do Sesc Sorocaba, que permanece em cartaz até 3 de dezembro.
 
A obra de arte "sem matéria", como define a curadora Daniela Labra, é de autoria do artista carioca Gustavo Speridião e foi baseada na instalação sonora de Susan Phillipsz feita em 2015 para a mostra Parasophia, do Museu de Arte Moderna de Kioto, no Japão. "Fiquei muito emocionado quando ouvi o hino em inglês tocando alto [do lado de fora do museu] na beira do rio. E aí pensei que tinha que tocar assim desse jeito, o hino da Internacional no Brasil", conta Gustavo ao Mais Cruzeiro, que tentou replicar o trabalho no Parque Lage, no Rio, mas a iniciativa acabou inviabilizada por falta de recursos financeiros.
 
Mais do que inspiração, o artista classifica seu trabalho como uma "apropriação direta" da obra da artista escocesa, daí o título A Internacional, para Susan Phillipsz.
 
Speridião comenta que após ter recebido o convite da curadora Daniela Labra para participar da Trienal visitou Sorocaba duas vezes, onde leu e ouviu relatos da histórias sobre o movimento operário da cidade, resultando na escolha do Terminal Santo Antônio, localizado ao lado da antiga fábrica têxtil homônima (hoje um shopping), para receber a instalação sonora.
 
Nas últimas semanas, alguns usuários do transporte público de Sorocaba entraram em contato com o Cruzeiro do Sul para sugerir reportagem sobre o hino, manifestar estranhamento e também reclamar da execução diária da "ideologia comunista". Para Speridião, reações de curiosidade, estranhamento e também insatisfação com sua obra não só são naturais como eram esperadas. "Esta instalação sonora tem como principal característica a questão do mistério. Não é um trabalho de arte exposto em um espaço de arte. É para causar estranhamento mesmo. Mesmo que tenha dentro do terminal a informação sobre o trabalho e a Trienal, não são claras as relações de que aquilo é arte. Nunca tinha trabalhado somente com áudio. Foi uma ótima experiência", comenta.
 
O hino de aproximadamente dez minutos é interpretado à capela pela cantora Juliana Strassacapa, integrante da banda Francisco, el Hombre. Na descrição do trabalho, no catálogo de Frestas, a instalação sonora A Internacional, para Susan Phillipsz é descrita como "uma homenagem ao trabalhador" e, ao mesmo tempo "um irônico comentário sobre os fins das utopias e as ainda precárias condições trabalhistas de hoje".
 
Gustavo Speridião assinala que sua obra é assumidamente política e defende o que ele chama de "socialismo libertário". "O capitalismo não é indestrutível, ele pode destruir a humanidade. Socialismo ou barbárie. É isso que está colocado hoje para a humanidade. E é quem utiliza esse terminal todos os dias para garantir a sobrevivência que vai mudar o mundo. O trabalho de arte foi atrás dos trabalhadores", opina.