ARTIGOS

Gastrite - o preço do estômago vazio


Mário Cândido de Oliveira Gomes


Nos dias atuais a correria é geral. Ninguém tem tempo pra nada. Porém, a pressa tem seu preço. Um dos ônus é a falta de tempo para almoçar, com sintomas decorrentes do estômago vazio, como fadiga, dor de cabeça, mau humor, baixa concentração, tonturas e, até mesmo, falta de coordenação física. O que pode parecer um simples estresse de fim de tarde é apenas fome, com consequente hipoglicemia etc. Por isso, repor as energias diminui a incidência de erros, aumenta a produtividade, melhora o humor e evita que se comam alimentos inúteis mais tarde. O ideal é tirar uma hora para o almoço, fazendo a refeição com calma, de preferência num ambiente agradável, sem atritos ou discussões.

O almoço realizado dessa forma permite o retorno ao trabalho com mais disposição. O povo americano costuma fazer um desjejum substancial e um simples lanche na hora do almoço, o que permite combater a fome sem os agravantes de uma refeição pesada. O resultado final de uma refeição apressada e, geralmente, com alimentos quase prontos (fast food), é a inflamação do estômago. Ou seja, gastrite. Nesta hora o indivíduo entra num círculo vicioso: fome -- pressa -- alimento irregular -- estresse -- fome.

Existem pessoas que precisam comer para amenizar seu estado de ansiedade, depressão, tensão, estresse. O alimento, nestes casos, permite compensar os problemas psicológicos, todavia, acarreta outros problemas, como obesidade, aumento de colesterol, ácido úrico, pressão alta etc. O indivíduo com gastrite revela dor epigástrica, peso, má digestão, azia, arrotos, gases e intolerância a certos tipos de alimentos, como frituras, condimentos, enlatados, embutidos (salame, mortadela, etc), frutas ácidas, pizza, enfim, todo alimento que não "cai bem no estômago". De todos esses sintomas, o que mais aborrece o indivíduo é a azia ou queimação, que vai do estômago até a garganta.

Existem dois tipos de gastrite: aguda e crônica. A mais importante da forma aguda é a gastrite erosiva ou por estresse, que é causada pelas queimaduras, infecções, traumatismos, choque ou queda da função do fígado e rins, provocando hemorragias pela boca e pelas fezes. Por sua vez, a crônica comporta divisões, como a do fundo gástrico (fúndica) ou antral (na entrada). Os indivíduos submetidos à cirurgia do estômago (gastrectomia) também apresentam gastrite na porção residual. Ainda, a ingestão acidental ou suicida de produtos tóxicos, como soda cáustica, inseticidas etc. provocam a gastrite corrosiva, com dor intensa, queimação, vômitos etc.

Uma forma frequente de inflamação do estômago é a ingestão de medicamentos, como a aspirina, cortisona, anti-inflamatórios, antibióticos etc. O indivíduo que não se alimenta (fome) ou se alimenta mal e de forma irregular (sem horário, com pressa, refeição interrompida) também apresenta gastrite. Na impossibilidade de se fazer um almoço correto, pode-se utilizar o "almoço de bolso" (500 calorias), embalado na noite anterior e consumido a qualquer hora durante o trabalho.

Tal almoço é prático, com pouca gordura e um número calculado de calorias. Seus ingredientes são naturais e não exigem refrigeração. Como, por exemplo, 200g de um cereal preferido, algumas fatias de pão integral ou bolachas de água e sal, 100 calorias de frutas (figo, ameixa, damasco etc) que são fibrosas e ricas em vitaminas e sais minerais ou substituir por sucos, complementando com 30g de amendoim ou amêndoas.
O portador de gastrite deve evitar refeições pesadas e gordurosas (feijoada, dobradinha, etc), frituras em geral (pastéis, coxinhas), alimentos muito condimentados (picles, pimentão, berinjela etc), café com o estômago vazio, fumo, refrigerantes tipo "cola", bebidas alcoólicas, medicamentos irritantes, entre outros. O ideal é fazer três refeições/dia, porém, se o espaço decorrido entre o almoço e o jantar ultrapassa seis horas, intercalar um lanche no meio da tarde. Da mesma forma, não comer antes de dormir ou no meio da noite, evitando o estômago pesado. Finalmente, beber bastante água durante o dia. Assim, comer em excesso é prejudicial à saúde, todavia, não comer também faz mal, principalmente para o humor. Diz o ditado popular que a pressa é inimiga da perfeição. No caso do estômago, é fundamental para a instalação da gastrite.


Artigo extraído do livro Doenças - Conhecer para prevenir (Ottoni Editora), de autoria do médico Mário Cândido de Oliveira Gomes, falecido aos 77 anos, no dia 6 de junho de 2013.