Por que alguns pais destroem a autoestima dos filhos, mesmo sem querer?
Nessas minhas andanças pelas escolas da cidade, divulgando o programa Escolas do Bem, um dia presenciei uma cena que me deixou muito, mas muito triste. Enquanto esperava na recepção do colégio, um pai com cara de poucos amigos também aguardava nervoso, agitado, inquieto. Após alguns minutos, surgiu a coordenadora ao lado de um menino de uns sete ou oito anos, toda sisuda, e os três entraram uma sala.
Senti que o clima estava tenso. Mais alguns minutos e saíram, pai e filho. Enquanto cruzavam a recepção, o pai super alterado xingava o garoto de “idiota”, “imbecil”, “vagabundo”, e lhe dava tapas na cabeça. “Pensa que o meu dinheiro é capim pra você fingir que estuda?”. “Que vergonha ter que vir aqui escutar tudo isso sobre você!”. “Você é uma vergonha!”...
E o menino? Estava aparentemente constrangido, com os ombros encolhidos, aguentando as palmadas, sem reagir, sem falar uma palavra. Confesso que aquilo doeu em mim.
Não sei o que o garoto aprontou e nem quero julgar. Mas definitivamente não concordo com a atitude do pai. Não acredito que dessa forma o garoto poderia aprender a lição e não repetir o erro que tenha cometido. Trata-se de uma atitude totalmente autoritária, destrutiva, desumana.
Educar um filho não é tarefa fácil. Afinal, eles não vêm com manual de instruções e nem mesmo a educação que recebemos é garantia de que irá funcionar com as novas gerações. Pode ser que aquele pai estivesse estressado com outros problemas e tenha descontado na criança sua raiva, sua frustração. O fato é que palavras e frases negativas contribuem para que a criança não se sinta amada e crie instabilidade emocional, falta de confiança, insegurança, medos, já que isso só vai contribuir para destruir sua autoestima.
Segundo Valéria Ribeiro, coach familiar e especialista em psicologia e desenvolvimento humano, "frases como: 'você não presta, você é inútil' e palavras como: 'gorda(o), miserável, desgraçado', fazem com que a criança absorva e se torne um adolescente problemático e um adulto espelho do que ouviu dos pais, levando o problema até mesmo por gerações.
As crianças passam a mostrar-se inquietas, desatentas e, muitas vezes, agressivas. Em adolescentes, a marca pode ser a rebeldia ou a apatia.
As palavras negativas ouvidas na infância ainda ficam piores quando ditas ao filho com tom de voz agressivo, geralmente ditas no calor da raiva. É preciso que os pais tenham consciência de que isso pode refletir na personalidade e no caráter da criança. É preciso que entendam que os pais são os principais responsáveis pela construção da personalidade de seus filhos – e não a escola, como muitos acreditam.
A tendência da criança é de acreditar em tudo o que seus pais dizem e tomam para si como suas verdades. Portanto, os pais precisam se policiar quanto aos malefícios que podem causar futuramente.
Ao invés de falar mal, humilhar e criticar, os pais devem agir diferente, segundo a especialista: pegue uma qualidade, habilidade ou competência de seu filho e passe a dizer isso com frequência a ele. Você verá que em pouco tempo ocorrerá uma mudança de comportamento para melhor, além de outras questões que também acabarão por melhorar. “É como um efeito dominó. Isso ocorre devido ao fato de que a criança ou adolescente – com a certeza de que possui qualidades, competências e dons –, passa a desafiar-se a melhorar em tudo," conclui Valéria.
Então, pais, se policiem, se controlem. E ao invés de criticar os erros, elogiem aquilo que seu filho faz de melhor. Afinal, a gente constrói uma personalidade com amor, não com terror.
Por Lucy De Miguel, jornalista especializada em primeira infância e autora do blog Na Mochila.
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