Recuperação ambiental do reservatório Billings (SP)
José Ricardo Baroldi Ciqueto Gargiulo
com Jonatas de Castro Gonçalves
O Billings é o maior reservatório de água doce do Estado de São Paulo e apresenta múltiplos usos, como fornecimento de água para geração de energia elétrica e abastecimento público, pesca profissional artesanal e lazer. A região do seu entorno é um mosaico de áreas de proteção ambiental de Mata Atlântica, reservas indígenas, agricultura e urbanização sem coleta e tratamento de esgoto, que causam poluição e comprometimento da água do reservatório, segundo pesquisa científica (http:// dx.doi.org/ 10.1590/S2179- 975X2315) e relatórios de órgãos públicos de monitoramento ambiental.
Quando então teremos água verdadeiramente limpa em nossos rios e represas?
Para garantir a recuperação e conservação da represa Billings e outros recursos hídricos é necessária a criação de uma agenda ambiental permanente de soluções desligadas de interesses particulares e eleitorais, por um grupo consultivo efetivamente funcional. Esse grupo deve ter participação de todos os setores, visando controle do uso e ocupação do solo do entorno, garantindo áreas de vegetação, além de coleta e tratamento de esgoto das áreas urbanas.
Apenas para a represa Guarapiranga, outro grande manancial de São Paulo, gastos financeiros com a aplicação de produtos químicos no controle da proliferação de algas resultantes da poluição, equivaleram nos últimos 40 anos, aos custos da implantação da coleta e tratamento de esgoto da área urbanizada próxima, segundo Marcelo Pompêo, professor do Instituto de Biociências, da USP, e orientador no programa de pós-graduação em Ciências Ambientais da Unesp-Sorocaba. A solução da questão do esgoto traz benefícios financeiros e qualidade ambiental para os mananciais. Outra ação vista como fundamental, segundo Luciana Menezes, pesquisadora do Instituto de Pesca do Estado de São Paulo, é a recuperação do rio Pinheiros, que contribui para a contaminação da Billings.
O desenvolvimento de efetivo programa de educação ambiental, com cursos de capacitação para pescadores da região, traria benefícios na busca de qualidade ambiental e opção de renda familiar além da pesca, como frisa Vanderlea Rochumback, presidente da Colônia de Pescadores Z-17 "Orlando Feliciano", da região da Billings.
Atualmente, o Estado conta com legislação avançada sobre a questão ambiental, que necessita principalmente de atualizações das normativas, e eficientes órgãos públicos de pesquisa, monitoramento e controle das águas, como Cetesb, Sabesp, Emae, institutos de pesquisa e universidades públicas, que sempre devem representar as bases das decisões e ações junto aos recursos hídricos.
Diversos projetos já foram desenvolvidos para a região da Billings, como criação e manutenção de bairros ecológicos em São Bernardo do Campo, agricultura familiar, atualização do zoneamento das áreas do entorno do reservatório e criação da Escola de Formação Ambiental Billings, em Santo André. Também podem ser listados em São Paulo a agricultura orgânica no bairro Parelheiros, o desenvolvimento rural sustentável na área de proteção ambiental Capivari-Monos, o mapeamento de assentamentos precários e irregulares e a recuperação de área de lixão desativado com criação de parque urbano e gestão de resíduos de construção civil no bairro Alvarenga.
Todos esses projetos aliados de forma harmônica, concomitante e complementar às soluções mais complexas citadas, podem orientar o planejamento das intervenções para que tenhamos águas continentais verdadeiramente limpas, visando melhorias sociais, ambientais e econômicas para toda a sociedade, com benefícios dos produtos e serviços oferecidos pelos recursos hídricos quando mantida sua qualidade ambiental.
José Ricardo Baroldi Ciqueto Gargiulo é biólogo, mestre em Pesca e Aquicultura pelo Instituto de Pesca de São Paulo e doutorando em Ciências Ambientais pela Unesp-Sorocaba ([email protected]). Jonatas de Castro Gonçalves é graduando em Engenharia Ambiental pela Unesp-Sorocaba ([email protected]).