Resistentes e com ar 'leve', vidros invadem as fachadas das casas
Sejam na fachada das casas e edifícios, nos guarda-corpos e até fazendo a função de muro, os vidros têm sido elementos presentes na grande maioria das obras. Sua resistência e preço já mais acessível têm contribuído para que sejam soluções em locais até então ocupados por outros materiais -- como ferro, alumínio e até mesmo alvenaria. Sua escolha está sempre ligada ao desejo de ter proteção, mas de forma mais leve, sem que esta interfira nos desenhos arquitetônicos e nos desejos de uso dos espaços pelos moradores.
De acordo com os arquitetos Flávia Rostelato e Jean Reis, da Arte Arquitetura, os vidros contribuem com essa leveza por não serem mais um elemento na fachada. "A ideia é que seja algo neutro, que desapareça, que cumpra a sua função, mas sem pesar no design", explica Flávia. Numa fachada, por exemplo, a troca de uma parede de alvenaria por um grande vidro -- com ou sem esquadrias -- tira a impressão da casa como um grande bloco de concreto e destaca o projeto arquitetônico -- ainda que tenha que receber cortinas internas para garantir a privacidade dos moradores.
"A ideia é estar fechado, ter sua proteção, mas com integração com os ambientes de fora", diz Flávia, reforçando que os vidros também auxiliam muito no aproveitamento da luz natural. Para isso, contam os arquitetos, é preciso ter cuidado, na hora do projeto, com a posição do sol em relação ao terreno. Eles destacam que já existem, no mercado, películas incolores capazes de minimizar a incidência do sol sem deixar de manter a transparência total. Como guarda-corpo, o vidro deixa o foco para o desenho de uma escada, por exemplo, ao invés de seu equipamento de proteção. "Para isso já não se fala mais em inox e alumínio", emenda Jean.
Mitos
Quem pensa no vidro como material para a estrutura de um imóvel, primeiro tem que se desvencilhar de uma série de mitos. O primeiro é o valor. "Existe o preconceito que o vidro é caro. Mas existem vários tipos de fixação, em pisos, com botão, hastes, e de acordo com cada modelo, há um custo agregado", explica Flávia Rostelato. Quem está no mercado confirma que os vidros já não são mais inacessíveis como antes. "Se usarmos como exemplo um box, a diferença entre um orçamento de vidro e de acrílico não passa de R$ 50. Só que o vidro é eterno", conta Cláudia Regina Villaça Felet, da empresa Ecoglass.
A segurança é outra preocupação em quem pensa em eleger o vidro como material a ser utilizado. No caso dos guarda-corpos, Cláudia explica que há uma norma que determina as especificações e tamanhos obrigatórios. Para essa função devem sempre ser usados vidros laminados -- que possuem, entre duas placas, uma película de PVB, semelhante à dos pára-brisas de veículos, que não o deixam estilhaçar se quebrados -- com espessura de dez milímetros e no mínimo 1,10 metro de altura.
"Se quebrar, ele se mantém no lugar e vai trincando devagar. Há tempo para que seja trocado. No caso de guarda-corpos, eles custam quase o dobro dos vidros temperados." Neste padrão, as estruturas se tornam seguras para crianças, por exemplo -- que, ao contrário das versões de alumínio ou ferro, não encontram apoio para subir ou se pendurar. As placas são parafusadas em torres de inox, chumbadas no chão.
Já as janelas, muros e portas podem ser feitas com vidros temperados, com espessura de oito a dez milímetros, com apoio ou não de esquadrias -- dependendo do projeto. A possibilidade de quebrarem, conta, é quase nenhuma se forem acertados no meio das placas. O que pode ocorrer é que quebrem somente se forem forçados nas pontas -- mas normalmente quando estão sendo transportados, instalados ou manuseados de forma incorreta.
Eterno, mas com manutenção
Quem escolhe o vidro deve ter consciência, explica Cláudia, de que trata-se de um material de alta durabilidade -- mas que, para isso, precisa da manutenção adequada. Para a limpeza, ensina, nada melhor que água e sabão. "O álcool mancha os vidros. Os meus, limpo só com pano mesmo, um úmido e depois um seco, que não solte fios." Depois de instalados, ela orienta que vale a pena chamar uma empresa especializada para vistorias anuais. "É igual às outras coisas da casa." Ou seja, com manutenção dá para corrigir problemas ainda no início, de forma mais barata e eficaz.
Contra a ideia de fechar, a aposta foi no vidro
A casa na altura do número 2.000 da rua Pedro José Senger, na Vila Haro, em Sorocaba, existiu por mais de 30 anos sem qualquer grade ou muro de proteção. Segundo seu proprietário e morador, Abdiel Paes de Almeida, o motivo era simples: as facilidades de chegar e sair sem precisar abrir portões, além do cuidado e carinho especial que ele possui com o jardim, que não queria que ficasse escondido. Porém, Abdiel conta que sua esposa há tempos queria fechar a casa, por uma questão de segurança. Depois de muito relutar, ele decidiu aceitar o pedido. Porém, com a ajuda do filho, que é engenheiro, achou uma solução para mantê-la à mostra: fechá-la com vidro.
"Paguei mais barato por 14 metros de vidro do que pagaria por um portão de alumínio desse tamanho", conta o morador. "Ficou bonito. Fechado, mas parece aberto. Gosto dessa visão, pois, à noite, se há qualquer barulho, já consigo ver o que está acontecendo pela janela da casa." Quem auxiliou com a ideia e o projeto foi o filho, Anderson Paes de Almeida, que trabalha como engenheiro em Barueri e tem visto a solução ser muito usada em prédios comerciais e edifícios. "É um material com duas vezes mais resistência que o alumínio. E, neste caso, a economia foi de 10% no valor do orçamento."
Anderson explica que foi aplicado, para o fechamento da casa, vidro temperado, com dez milímetros de espessura, como os usados em agências bancárias. As placas estão sustentadas por esquadrias de alumínio. "Não é possível quebrar. E, se quebrar, fará um barulho muito grande", diz. Eles também ficam tranquilos quanto à segurança, pois o vidro não dá condições para que alguém resolva pular ou subir no "muro", por exemplo. Como parte da frente da casa não tem cobertura, a garagem e fachada não ficaram muito quentes. "Há circulação de ar, mas no frio, por exemplo, o vento não entra", diz Anderson.
Um dos poucos inconvenientes, eles relatam, é o fato da parte móvel, o portão da garagem, ter ficado mais pesado -- pois o vidro pesa muito mais que o alumínio. Como querem colocar um motor para torná-lo automático, terão que investir num modelo mais potente. Mas eles logo voltam a destacar os benefícios, como a facilidade de limpeza -- e já pensam em reformar as janelas para um estilo mais parecido com a modernidade do vidro. "E a casa, que sempre foi referência e conhecida como a casa sem portão, continuará assim. Agora virou a casa do muro de vidro", diz Abdiel.