Antes que me esqueça

No escurinho do cinema


Sorocaba teve, em priscas eras, salas de projeção de filmes, os chamados cinemas de rua, no centro da cidade e, em pelo menos dois bairros: Vila Santana e no Além-Ponte. No bairro dos espanhóis, eram dois. Na Nogueira Padilha, era o cine Eldorado, e numa transversal ali perto, a Coronel José Tavares, o Alhambra. Na Vila Santana, no canto de uma praça o cinema Líder, cuja construção acompanhei pois a pintura foi executada pela equipe de meu pai, Theodoro Nogueira.

Na rua São Bento, o mais antigo, o inesquecível São José. E na rua Coronel Benedito Pires, ao lado da Catedral, o cine Caracante, inaugurado com o filme, "Serenata Prateada", com Cary Grant e Irene Dunne. Na Alvaro Soares a sexta sala de projeção – Cinema Santa Helena. Era bem trabalhosa a logística, quando o mesmo filme era exibido no São José às 20hs e no Alhambra, às 22 horas, por exemplo. O trajeto era feito a pé, carregando as latas com os rolos de celuloide, em duas, três viagens!

Em Votorantim, os operários das fábricas frequentavam o cinema bem no centro das vilas destinadas aos operários, centenas de habitações, construídas com tijolos aparentes, à moda inglesa.

Os filmes eram sempre lançamentos, que vinham de São Paulo, pelos trens da Estrada de Ferro Sorocabana. A divulgação das sessões era feita com cartazes pintados à mão em papel sobre madeira (tintas à base d"água), de várias cores, com apelos: Hoje, no São José, não perca, sensacional – "O vento levou". Os painéis, montados sobre madeira, eram presos por arame, nos postes do centro e dos bairros.Nós, meninos, éramos encarregados do marketing improvisado. Como pagamento, livre acesso às sessões.