Antes que me esqueça

O cineasta do povo


Ana Nogueira, que esteve no Brasil por uns dias, queria ver no Canal Brasil, um filme de Nelson Pereira dos Santos. Ela o conheceu quando trabalhou na Embrafilme. No dia seguinte dei-me conta do por que ela, sempre tão ocupada, cheia de compromissos, quando vem nos visitar, quis ver o filme: o cineasta do povo, como foi apelidado pela mídia, falecera aos 89 anos. Ana conviveu com ele e a esposa, anos atrás, quando Nelson foi a Boston, rever Harvard, onde estudou e ensinou cinema.

Eu assisti uma meia dúzia dos filmes que ele produziu em sua longa carreira entre eles, "Rio, 40 graus", "Como era gostoso o meu francês", "Memórias do Cárcere", e claro, a obra prima que foi "Vidas Secas" e um belíssimo documentário: "A música segundo Tom Jobim". Muito se comentará ainda sobre esse brasileiro proeminente, inteligente, lutador, na opinião de colegas mais jovens, que ele ensinou e estimulou Cacá Diegues, Walter Moreira Salles, Tizuca Yamasaki, Luiz Carlos Barreto, Miguel Farias, Ruy Guerra, Ana Maria Magalhães, Ricardo Cravo Albim e muitos mais. Em 2006 tornou-se acadêmico ocupou a cadeira de Castro Alves. Contribuiu muito para que a Academia Brasileira de Letras se tornasse mais popular, com sessões de cinema por ele administradas.

Poeta do povo, ele buscava nas imagens traduzir a essência da cultura nacional. E recorria aos textos de Machado de Assis, Nelson Rodrigues, Graciliano Ramos, Guimarães Rosa, Jorge Amado, Guilherme de Figueiredo, entre outros, para escrever os roteiros de filmes inesquecíveis, premiados no país e no exterior.

Silvio Tendler, produtor e professor de cinema, lamenta: "Muito triste perder esse mestre querido, era um amigo, me ensinou, criou gerações de cineastas brasileiros, mostrou o caminho. Era uma pessoa de bem com a vida, vai deixar muita saudade. Convivi muito com o Nelson, fomos representantes do Brasil no comitê de cineastas da América Latina e viajamos bastante juntos. Era muito querido no mundo inteiro. Por onde passava era amado".

Em 22 de outubro próximo Nelson Pereira dos Santos completaria 90 anos. Não faltarão homenagens, com certeza.

PS1 A ilustração é do filme: "Vidas Secas". A morte da cachorrinha Baleia expressa o gênio do ilustre cineasta.

PS2 Os jornais "O Globo" e "Jornal do Brasil" foram fontes para o texto acima.