Agenda econômica

Diesel nosso de cada dia


 

Por Yan Cattani, Economista do Blog Agenda Econômica

 

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Quem passa pela não tão pacata avenida de Sorocaba, Washington Luiz, talvez não se lembre das passagens e frases icônicas que este nosso governante nos ofertou. Como, modéstia parte, tive excelentes professores de história, tenho nos últimos tempos me recordado constantemente desse nosso ex-presidente.

 

Seu conturbado governo, além de quebrar o pacto político do momento, a política do “café com leite”, passou por verdadeiros trancos e barrancos. Dentre eles, podemos citar a crise de 1929 e diversos enfrentamentos sociais. Foi nele, inclusive que se eternizou a frase: “a questão social é caso de polícia”. Bom, se foi ou não, a política do “big stick” brazuca não deu muito certo e pouco tempo depois, o Washington - não o compadre -, acabou sendo deposto por ninguém menos que Getúlio Dornelles Vargas. Mas, sem desfocar em nosso ilustre governante, fato é que ele era muito bom em sua retórica, sendo também dono de outra maravilhosa frase: “Governar é abrir estradas”, proferida quando inaugurou a primeira rodovia asfaltada no país, a Rio-Petrópolis, bastante apropriada para os dias de hoje.

 

De fato, o que se sucedeu no país não foi muito diferente disso, no âmbito de planejamento de infraestrutura. Pouco desenvolvemos uma marinha de cabotagem eficiente, assim como estradas de ferro que foram gradualmente deixadas ao léu. Somada à política de produção automobilística dos anos 1950, levada à cabo por Juscelino Kubistchek, o Brasil se tornou um refém da sua própria estrutura, com aguda crise de Estocolmo. Na verdade, não bem o Brasil, mas uma parte graúda do setor de logística, e consequentemente, diversas cadeias produtivas do país, em diferentes áreas e setores. No final das contas, nós consumidores somos quem pagamos este preço.

 

E qual a conexão com nosso atual panorama? Bom, somos completamente dependentes desta lógica produtiva e não há e nem haverá escapatória enquanto não repensarmos profundamente como solucionar tais gargalos, focando em uma política de investimentos de longo prazo.

 

Especificamente para a questão do diesel e da gasolina, vejo muito desentendimento ou, não raramente, má fé naqueles que defendem um ajuste que recaia justamente em cima da Petrobras e ocasione prejuízos bilionários para a empresa. Vou explicar o porquê, já que economista (pelo menos) deveria servir para isto.

 

A atual gestão da empresa fez certíssimo em atualizar sua política de preços de combustíveis, atrelando-os às oscilações do mercado internacional. Por mais duro que seja em situações extremas como as atuais, que tanto o dólar como o petróleo subiram demasiadamente, é um preço que temos que pagar pela má-qualidade de nosso petróleo.

 

O petróleo brasileiro é de alta densidade, portanto para ser utilizável (refinado), deve ser misturado a outro petróleo de menor densidade, mais caro, e que é importado – assim como seus insumos. No final das contas, gastamos mais com importação de óleo leve do que gastamos com exportação de óleo pesado. Em outras palavras, é uma autossuficiência, pero no mucho.

 

Se não fosse assim, os constantes déficits levariam à quebradeira da empresa, como de fato ocorreu em 2015. O efeito só não foi pior, falência de fato da Petrobras, porque no final das contas ela acabou sendo salva, justamente pelo grande acionista, o governo federal (estou sendo simplista, são vários fatores). O problema é que quem alimenta o governo é Tesouro, que arrecada tributos de você e de mim. O efeito acumulado é muito pior no longo prazo, portanto, uma política de ajustes constantes de curto prazo nesse caso é preferível, apesar de muitas vezes odiável.

 

Quando um conluio de transportadores se juntam, demandando reduções de diversos impostos, isenção de eixo suspenso, entre outros privilégios, não se iluda: quem vai pagar esta conta somos nós mesmos. Caminhoneiros podem até ter suas razões, mas não são razões muito diferentes da que eu, o João da padaria e a Maria do açougue temos, que é a de estarmos descrentes em uma arrecadação tão mal utilizada. Essa “luta” favorece principalmente uma casta de empresários, ou nas palavras de Tocqueville, uma facção da sociedade. É o favorecimento de um grupo em detrimento do restante da sociedade.

 

Se você comemorou a balbúrdia, não se iluda: você vai pagar agora um pedágio mais caro, um imposto cruzado em algum outro bem. Você não está lutando por um país melhor, mas sim comemorando o benefício de outrem. E para os produtores que perderam carga e investimentos, a estes resta-me somente compartilhar meus sentimentos de solidariedade.