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Crítica teatro: Mãe, me perdoa


Crítica teatro: Mãe, me perdoa

O ponto de partida da peça é a morte inesperada do pai/marido. Dessa situação se desenrolam as peripécias – encontros e desencontros –  entre mãe e filha. Após esta morte elas se separam devido a um desses acontecimentos inesperados (outra vez) que acontecem na vida. O tempo passa. A mãe busca reencontrar a filha e a filha esquecer a mãe. Nesse contexto o autor constrói as situações dramáticas envolvendo o reencontro (depois de anos) de mãe e filha. Estão presentes no texto temas como: a culpa, o sentimento de abandono, o perdão e a impossibilidade de voltar atrás nas decisões.

A escrita teatral é uma criação literária repleta de desafios e especificidades. Isso porque nem sempre uma boa ideia ou argumento ou até mesmo um bom texto literário resulta bem em cena. A chamada “carpintaria teatral” não é nada fácil. Este é um dos desafios da encenação de “Mãe, me perdoa”. O texto nalguns momentos peca pelo excesso de descrições, explicações e repetições. Isto é: fala ao espectador o que ele já sabe. Repete a situação dramática já vivida. Há, também, determinados diálogos que  se pretendem “lições” e não se encaixam na proposta da personagem em cena. São necessários alguns cortes para enxugar e fortalecer a trama central.

É preciso  reafirmar que os textos de teatro devem ser montados para saber como e se funcionam em cena. Ser um autor de teatro ou ter um texto “de gaveta” não é bom. Teatro é risco. É bem por isso que destaco o trabalho da dramaturgia de Tiske Reis.

No elenco temos Amilton Sanches (Augusto), Jéssica Nasso (Rafaela Faravelli Adulta), Lenice Gomes (Aurora Faravelli), Luiza Fernandes (Rafaela Faravelli Criança), Matheus Negrini (Tio Alberto), Mário Pérsico (Morte), Paulo Hashigushi (José Camargo - Zeca), Paulo Ronchi (Seu Antonio), Tais Lourenço (Tia Nanda) e Tiske Reis (Ricardo Bragança). As interpretações têm altos e baixos. Há personagens que corpo, voz e texto enunciado não se encontram na cena.  Resta ora a imagem, ora (somente) o discurso. Há, também, boas construções, em especial o trabalho de Amilton Sanchez, que consegue estabelecer com delicadeza a necessária densidade ao personagem, criando uma camada de sutilizas que se desvelam aos olhos do espectador. Emocionante.

Volto, contudo, a insistir no mesmo assunto. Voz, voz e voz. Observo que nalguns momentos os interpretes não emitem corretamente os textos. Não é preciso gritar em cena para encenar a emoção extrema. Nem transformar o texto num discurso. É preciso sempre que a voz e o corpo estejam integrados na realização da cena. É, também, necessário que o texto emitido na cena seja compreendido como um texto dito no palco. É diferente dizer o texto no palco do que falar ao celular ou mesmo falar no bate papo num bar. É preciso que esta consciência do espaço/palco esteja integrada no processo de interpretação dos atores. Do mesmo modo é diferente cantar em cena. Cantar e falar no palco/na cena são situações diferentes e envolvem técnicas distintas.

Por fim, em tempos que as pessoas querem rir, para esquecer as agruras e os desafios do dia a dia, vale conferir o espetáculo que segue na contramão e se emocionar com o drama de Tiske Reis.