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8 feministas pero no mucho


Por Lúcia Helena de Camargo
 
Desde outubro de 2017, quando começaram a pipocar as denúncias de assédio sexual contra o produtor Harvey Weinstein, Hollywood não é mais a mesma. As mulheres da indústria do cinema vem se manifestando contra a discriminação, os salários femininos mais baixos, mostrando a força de diferentes formas. O filme “Oito Mulheres e um Segredo” (Ocean’s 8), que já vinha sendo gestado antes de estourarem as campanhas Time’s Up e #Me Too e acaba de estrear, traz um pouco desse universo, com apenas mulheres entre as protagonistas. 





A sequência à trilogia “Onze Homens e Um Segredo” é estrelada por Sandra Bullock, que vive Debbie Ocean, irmã do falecido Danny Ocean (George Clooney, o cabeça do grupo), e co-estrelada por Cate Blanchett, que vive Lou. A atriz parece mais bonita e elegante a cada filme, embora sua personagem traga um corte de cabelo confuso, com franja comprida demais caindo pelos olhos. Estão no elenco Anne Hathaway, Sarah Paulson, Mindy Kaling e Helena Bonham Carter, que levanta o filme na pele de Rose Weil, costureira famosa, porém falida, às voltas com os pedidos estapafúrdios dos clientes e suas próprias excentricidades, em um retrato hilário do mundo da alta costura. 
 
Os onze homens roubavam cassinos. Já oito as mulheres vão atacar no Met Gala, evento anual de arrecadação de fundos que acontece no Metropolitan Museum of Art de Nova York ao qual comparecem artistas, celebridades e endinheirados. O objetivo da gangue é roubar um colar de diamantes que vale US$ 150 milhões. 
 
Povoando a festa, o longa conta com participações especiais da atriz Katie Holmes, da socialite Kim Kardashian, das modelos Adriana Lima, Heidi Klum e Sofia Richie, dos estilistas Tommy Hilfiger e Alexander Wang, da tenista Serena Williams e da editora da revista Vogue, Anna Wintour, como eles mesmos, entre outros. 
 
Como em toda história do gênero, é preciso ter alguém com habilidades de hacker, que consiga comandar à distância dos interruptores de luz de uma sala qualquer até o esquema de câmeras de segurança do museu. Nessa função aparece a cantora Rihanna, que mostra bom talento para atuação. Tudo é meio exagerado, claro. Sua personagem, Nine Ball, perfaz milagres digitais em poucos segundos. Mas aí é melhor não tentar buscar muitas referências na realidade. Faz de conta que tudo aquilo é possível e pronto. 
 
“Oito Mulheres e um Segredo”, divertido e despretensioso, é mais fraco do que os filmes anteriores. No entanto – é bom dizer – a culpa não parece ser das atuações femininas.  
 
Debbie (Bullock) chega a descartar um candidato que poderia ajudar na empreitada, argumentando que não queria nenhum “ele” no grupo, apenas “elas”. Assim, chega a ser irônico que a direção do longa seja de um homem, Gary Ross. 
 
Pior do que o feminismo “pero no mucho” é uma certa homenagem equivocada. OK, trata-se de apenas uma sequência breve, ambientada em uma balada. Mas para mim configura um despropósito. Nela aparecem cenas do belíssimo “Jules e Jim”, de François Truffaut. Talvez tenha sido escolhido para figurar ali por possuir um quê de feminista, ao contar a história de uma mulher (Jeanne Moreau) que possui dois parceiros simultaneamente, sendo que marido e namorado aceitam a condição sem crises. Porém, para os fãs do cineasta francês, o que sobra é certa indignação: por que diabos exibir esse filme num telão de boate, ao qual ninguém está exatamente prestando atenção? Todos estão ali para dançar ao ritmo da batida da música eletrônica. Os diálogos desse filme são essenciais e compõem, junto com as imagens, a beleza da história. Pecado de “lesa-cinema”, na minha opinião. 
 
Lúcia Helena de Camargo é jornalista, cinéfila e escreve também sobre comida, no blog www.menudalu.com.br
 
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