Agenda econômica

Entre um Copom e outro


 

Por Yan Cattani, Economista do Blog Agenda Econômica

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Hoje o Comitê de Política Monetária, o Copom, irá anunciar qual será o novo nível da taxa básica de juros (taxa Selic) da economia. Em sua última reunião, ocorrida em meados de maio, a autoridade monetária ocasionou certo desconforto, uma vez que acabou se contradizendo ao optar pela manutenção da Selic em 6,50%. Isso ocorreu pois houve sinalização de a possibilidade de redução de juros estava aberta. Foi várias entrevistas na mídia, não só dos membros da diretoria, mas também do próprio presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn.

 

Contudo, tal sinalização ocorrera algumas semanas antes da disparada do dólar e dos preços do petróleo no mercado internacional, fazendo com que na “hora H” o BC recuasse da flexibilização dos juros. Isso, obviamente, despertou sentimentos não muito antigos nos investidores, que passaram a ver com receio a atual administração.

 

Até aí, tudo bem, o BC é a autoridade e faz o que quer. Contudo, o mercado não é idiota. Ao contrário do que muitos acreditam, de que o BC é controlado indiretamente pelos agentes de mercado financista internacional (há muita verborragia sobre o presidente ser um ex-diretor do Itau Unibanco), o mercado financeiro exige, sim, ações do BC para controle macroeconômico, pois em tempos de crise poucos são aqueles que podem ganhar algo, enquanto em tempos de estabilidade, muito mais gente ganha (e isso não é só recursos).

 

As expectativas de mercado para hoje são de manutenção de taxa em 6,50% a.a. para o fim de ano, e indiretamente, atuação do BC no mercado cambial para conter a onda atual de aumento de preços dos itens importados. Esse racional ocorre pois, a pressão inflacionária desta vez vem pelo lado da oferta (greve dos caminhoneiros e aumento dos itens relacionados ao dólar) e, aumento de juros só serve para conter inflação gerada por consumo (lado da demanda), como ocorrido no período de 2010 até 2014 e que o BC vexaminoso no seu controle de metas. Ou seja, Além disso, aumento de juros significa encarecimento dos juros reais, que faz com que investidores optem por manutenção de aplicações financeiras em vez de investimentos em atividade produtiva – leia-se diminuição do crescimento econômico.

 

Em resumo, a ideia é que o choque de preços do dólar deve ser tratada de forma imediata, para que a pressão não encareça os insumos importados em nossa economia. Dólar na economia é exercido no momento, enquanto juros levam creca de 6 a 8 meses para iniciar seus efeitos.

 

Por ora, minha visão é há uma pequena ameaça de inflação ainda nos preços do atacado (preços de produtores) e isso pode ser controlado via câmbio preponderantemente. De outro lado, porém, ainda não se sabe ao certo se o impacto da greve será persistente ou simplesmente um repique. Se for persistente, certamente a inflação será repassada ao consumo final, ainda que os consumidores estejam com baixa propensão de irem às compras. De toda forma, isso não virá ocorrer nesse ano, e como dito, aumento de juros não serão efetivos para este tipo de choque inflacionário.

 

Às 18 horas saberemos se a real intenção do BC, se é ser mais persuasivo na política cambial e assim combater a onda recente de preços, ou se vamos experimentar uma nova alta de juros e, daí ver o que ocorre com o andamento da atividade econômica.